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Coluna do CIEAM

Pirarucu, com louvor

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17/03/2016 08:36

Com a nota máxima, acompanhada de louvor, a banca de doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, FEA, da Universidade de São Paulo, USP, aprovou a dissertação da doutoranda Gleriani Torres Carbone Ferreira, “Competitividade da cadeia produtiva do Arapaima gigas, o pirarucu da Amazônia brasileira”. Nota máxima com louvor, e indicação como a melhor tese do ano, até aqui, portanto, candidata ao prêmio Jovem Cientista, que, no ano passado, premiou outro item da Amazônia, a castanha do Brasil, a Bertholehia excelsa, pela pesquisa sobre o uso diário da castanha, associado à prevenção de déficits cognitivos, o Mal de Alzheimer. Sob a orientação do professor Jaques Marcovitch, com a colaboração direta do prof. Alfredo MR Lopes, a quem coube o pronunciamento de conclusão dos trabalhos de defesa da dissertação, este trabalho celebra o DINTER, Doutorado Interinstitucional entre a USP e a Universidade do Estado do Amazonas, na área de Administração, um dos grandes gargalos na gestão pública e privada no encaminhamento dos desafios nacionais. Cabe destacar que se trata de uma aproximação para a qual o CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, contribuiu decisivamente, aproximando, no contexto do GT CIEAM FIEAM, UEA e FAPEAM, as direções das duas Universidades, na figura do reitor Cleinaldo Costa, e do ex-reitor da USP, Jaques Marcovitch. Teve papel preponderante na celebração do DINTER, a figura do cientista Adalberto Val, na direção da CAPES, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, autarquia e agência pública de pesquisa do Brasil vinculada ao Ministério da Educação que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados.

Em resumo

A doutoranda Gleriani Ferreira assim resumiu seu trabalho: “Com um quinto da água doce do planeta, o sistema fluvial da Amazônia apresenta um enorme potencial para piscicultura. De acordo com a FAO, em função das suas condições geográficas, o Brasil é um dos poucos países que tem condições de atender à crescente demanda mundial, podendo tornar-se um dos maiores produtores de peixes do mundo. A observação desse potencial amazônico motivou o desenvolvimento desta pesquisa que se debruça sobre a questão da competitividade da cadeia produtiva do Arapaima gigas, o pirarucu da Amazônia brasileira. As pesquisas de campo levaram ao mapeamento de duas cadeias: a cadeia extrativista e a piscicultura. A abordagem sistêmica permitiu a verificação das características dos atores e as bases sob as quais as transações se estabelecem. À luz da teoria das restrições foram identificados os gargalos que impedem a competitividade do sistema, inclusive alertando para os recursos com restrição de capacidade. Comprovou-se que a falta de uma cadeia produtiva devidamente organizada pode provocar graves prejuízos a determinados elos, enquanto outros membros aproveitam-se de ações oportunistas para ampliar suas margens de lucro. Da mesma forma, a ausência de uma cadeia produtiva completa impede a fixação do valor gerado na região de origem das matérias-primas. No entanto, também foi possível comprovar que há possibilidade de desenvolver o extrativismo atribuindo valor econômico aos recursos naturais e gerando renda para a comunidade local. Além de apresentar o panorama do setor na região delimitada, este estudo culminou em reflexões capazes de orientar políticas públicas para o desenvolvimento de cadeias produtivas completas na região da Amazônia brasileira.

Recomendações e conclusões

Este estudo se propôs a discutir a competitividade da cadeia produtiva da piscicultura na Amazônia brasileira na expectativa de encontrar eco entre aqueles que sonham com o desenvolvimento sustentável daquela região. Trata-se de reverter a conjuntura atual em que os filhos da terra próspera padecem pela incapacidade de administrar a abundância dos recursos naturais, sendo condenados à penúria de sobreviver no nível mais baixo do Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil. Os achados deste estudo corroboram as ideias de Abramovay (2011) pois não se constituiu, na Amazônia, um tecido econômico capaz de fazer da riqueza natural um fator de desenvolvimento. Prioritariamente, a produção científica associada à cadeia abrange elos específicos, sem o olhar integrativo, indispensável para o desenvolvimento da sua competitividade:

* A primeira contribuição deste estudo foi o mapeamento das duas cadeias produtivas do Arapaima gigas: a cadeia extrativista e a piscicultura. O resultado alcançado reforça o ineditismo do estudo ao se abordarem as duas vertentes da produção deste animal.

* A segunda contribuição deste estudo foi desenvolvida com base no aproveitamento das conclusões expressas nas obras que compõem o referencial teórico acerca da Amazônia, somada às experiências de campo. Trata-se da proposta dos quatro elementos condicionantes para a composição do ambiente institucional da Amazônia: a natureza, o indivíduo, a ciência e as leis federais. A contribuição não está vinculada à eleição de tais elementos, mas à compreensão de que eles devem atuar como a base para o desenvolvimento de negócios e de políticas públicas na região.

* A terceira contribuição está relacionada com o objetivo geral deste estudo: identificar os entraves que impedem a competitividade da cadeia produtiva do Arapaima gigas. Nesse sentido, aponta-se a necessidade de ações direcionadas aos elos localizados ao final da cadeia produtiva, especificamente o processamento, a distribuição e a comercialização. Embora haja entraves quanto à impossibilidade de realização da reprodução induzida ou à sexagem com baixo custo e métodos pouco evasivos, tais atividades não foram classificadas como os principais gargalos, pois, ainda que tais desafios fossem superados, não haveriam frigoríficos com capacidade produtiva disponível para o abate dos animais, nem demanda desenvolvida para absorver a produção.

* A quarta contribuição está relacionada com as pesquisas e ações de apoio ao desenvolvimento de cadeias produtivas. Recomenda-se a definição de um plano estratégico estadual integrado para o desenvolvimento da região, elegendo os temas prioritários que carecem de estudos. Na sequência, editais com abrangência nacional podem convocar pesquisadores de todas as regiões do país a se unirem aos pesquisadores e centros de pesquisa da Amazônia, intensificando esforços para a busca de soluções.

* A quinta contribuição deste estudo, finalmente, aponta para um conjunto de propostas para a orientação de políticas públicas. Na pesquisa apurou-se que a cadeia registra problemas comuns a todos os estados, mas também apresenta problemas particulares que variam entre os estados. Por esse motivo, destaca-se a importância da ação do governo local no ambiente organizacional. Acredita-se, porém, que tais medidas possuem potencial para extrapolar as fronteiras da piscicultura, trazendo benefícios para outras cadeias. Da mesma forma, no que diz respeito à condução da ciência, a integração entre pesquisadores de diferentes regiões do país e a orientação dos temas de estudos baseados nas necessidades apontadas pela sociedade, certamente trarão resultados expressivos não apenas para a região amazônica.

Para estudos futuros, recomenda-se que o método de análise de cada elo com o objetivo de uma visão sistêmica seja replicado em outras cadeias produtivas a fim de validar um protocolo. Sugere-se que as contribuições teóricas e as propostas de políticas públicas sejam testadas em novos ambientes. Sem a pretensão de se esgotar o tema em questão, mas com a expectativa de incentivar a continuidade do diálogo, sugere-se que os estudos desenvolvidos no âmbito da Amazônia, sejam capazes de imprimir o olhar estratégico da Administração, com o desejo de se criar uma base científica capaz de apontar caminhos para a construção de um país mais justo e próspero.

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio no dia 17.03.2016

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