24/08/2023 08:44
“Hoje o prioritário é ter um foco claro nas pessoas e na redução das desigualdades regionais, nossa grande responsabilidade e oportunidade. Precisamos parar de apagar incêndios dos entraves da competitividade e da insegurança jurídica e começar a fazer obras de longo prazo, inserir efetivamente a ZFM e a Amazônia Ocidental no PAC 2023, para que todos possamos perceber que o Amazonas e a região fazem parte do país, além da mera arrecadação tributária.”
Entrevista com Augusto Cesar Barreto Rocha
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up – Há duas décadas o CIEAM levou adiante uma pesquisa junto aos seus associados para identificar os principais entraves à competitividade do Polo Industrial de Manaus. O maior deles, aquele que também se destaca na planilha de custos, revelou-se o entrave nos transportes. Que razões explicam a omissão federal no enfrentamento dessa infraestrutura tão determinante para a geração de emprego, renda e tributos?
Augusto Cesar Barreto Rocha – Entendo que há uma carência histórica de investimentos na infraestrutura nacional e o Amazonas – na periferia – sofre de um problema adicional: pouca prioridade orçamentária frente aos escassos recursos, que vão para os centros nacionais do Poder na discussão de alocação de recursos públicos. A infraestrutura é papel do Estado e o Brasil não tem colocado este assunto na pauta. Os recursos para o setor são declinantes. Ao longo dos últimos anos nunca se gastou tão pouco para isso no Brasil. O Novo PAC gera uma expectativa, mas entre plano e ação há uma grande distância.
FUp – Entre os embaraços anotados, não lhe parece evidente a falta de articulação entre o setor produtivo e o poder público, agravado por um distanciamento habitual entre as entidades de classe e a bancada parlamentar?
Augusto – Entendo que nunca há o isolamento, mas sempre uma sensação de que poderia haver maior diálogo para rompimento das deficiências de competitividade. O distanciamento que me parece existir é de fato dos órgãos que possuem esta atribuição institucional, como o DNIT, Ministério dos Transportes e outras instâncias federais. Este é o ponto nevrálgico – aqui é onde está a lacuna. Precisamos de muito mais interações, precisamos ser ouvidos – o que me parece é que os problemas sequer são percebidos por estes decisores.
FUp – Saímos de um governo que adotou uma política ambiental muito avessa à monetização da conservação florestal e entramos em outro diametralmente oposto a essa visão econômica e socioambiental. Na sua opinião, como o setor privado tem-se posicionado a respeito dessa pauta, posta na ordem do dia nas relações do setor produtivo e nas interações diplomáticas?
Augusto – Entendo que há um setor privado de alta tecnologia que passa distante desta discussão, pois já nasceu de uma concepção de baixo impacto, que é o que predomina com o PIM. Há outros setores primários que já entenderam isso e outros que ainda estão na transição. O problema é que o país é muito complexo e não podemos tratar de maneira simples os problemas sistêmicos e dinâmicos. Neste aspecto o Amazonas pode ser dianteira, mas precisa tomar muito cuidado com as pautas minerais e do agro.
FUp – O CIEAM, através de suas Comissões Setoriais, tem-se voltado para maior articulação entre o setor produtivo e o setor acadêmico. O que você, que tem vínculos com a universidade e com o setor produtivo, destacaria como prioritário nessa pauta e objetos de parceria?
Augusto – Economia e academia precisam buscar soluções de infraestrutura numa determinada dimensão e a competitividade, num olhar mais amplo e sistêmico. Entender e deliberar as várias dimensões do problema, com respeito aos diferentes olhares, abordagens e contribuições objetivas. Hoje o prioritário é ter um foco claro nas pessoas e na redução das desigualdades regionais, nossa grande responsabilidade e oportunidade. Precisamos parar de apagar incêndios dos entraves da competitividade e da insegurança jurídica e começar a fazer obras de longo prazo, inserir efetivamente a ZFM e a Amazônia Ocidental no PAC 2023, para que todos possamos nos perceber que o Amazonas e a região fazem parte do país além da mera arrecadação tributária.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Diretor Adjunto do CIEAM