03/06/2021 10:01
Fonte: Brasil Amazônia Agora
Belmiro Vianez Filho (*)
Vão desaparecer, com certeza, a permanecer essa desarticulação entre setor produtivo, poder público e o tecido social, um dos atores, entre eles, comumente escalado para bode expiatório. A propósito, em clima da tragédia ambiental, provocada por mais uma enchente histórica, Manaus mostrou ao mundo outra tragédia, a dos resíduos que produz. Tapetes aversivo de garrafas pet... As águas se encarregaram de exibir as sequelas da (des) educação ambiental de seu projeto pedagógico de gestão precária do poder público diante do caos provocado por resíduos urbanos em profusão. Quem são, em última e primeira instância, por esse vexame urbano? Por que não transformar o constrangimento desta paisagem em oportunidades de geração de energia, emprego e lições públicas de sustentabilidade de uma verdadeira economia circular?
Campeão do lixo
Somos o estado que mais produz resíduos sólidos urbanos na Região Norte, com média de 1,14 kg/habitante/dia, enquanto a média nacional de 0,95 kg/habitante/dia. Os dados são de 2019, da Comissão de Energia e Saneamento da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas. Para agravar, todos os municípios têm pouca ou nenhuma cultura de reciclagem. Será que isso resulta da cultura da abundância, e seu lado perverso, aquela que nos acomoda e desvaloriza as dádivas naturais ou fiscais recebidas? Ou a paisagem traduz o perfil sanitário de nossos dirigentes? Não há explicação para passividade diante de tanta imundície ambiental. Não se trata de fazer limpezas espetaculares dos igarapés se isso não reflete um valor das relações pessoais e das pessoas com o meio ambiente.
Pra debaixo do tapete...
A Política Nacional de Resíduos Sólidos, lançada com pompas messiânicas pelo governo federal há 16 anos, prometia o fim dos lixões para 2014. Nada de substantivo aconteceu. Por isso, a sujeira foi jogada para debaixo do tapete de 2024. Nesse meio tempo, sabe o que avançou? Nada. Não há registro de qualquer movimentação de monta entre poder público e os fabricantes dos resíduos descartados nos Igarapés, além das boas intenções. A grandeza do programa da PNRS não corresponde a performance do Brasil na produção e descarte de lixo plástico. Ficamos atrás, apenas de Estados Unidos, China e Índia. O percentual de reciclagem deste resíduo que está matando a flora e a fauna aquática é irrisório, 1,3%, segundo a WWF Brasil, enquanto a média global de reciclagem plástica é de 9%. Como diziam nossos pais: está na hora de criar vergonha!
Lixo é energia e emprego
E as doenças se agravam com os lixões. São mais de 3 mil registrados no país, recolhendo resíduos no lugar errado, com danos sanitários terríveis, além de financeiros com valores suficientes para gerar emprego e riqueza no enfrentamento desta desordem. Ou é bicho de sete cabeças promover a reciclagem como fator de geração de emprego e renda como é feito nos países civilizados? Ou de geração de energia, como faz o Paraná, onde já existem três antigos lixões, pioneiro na economia circular de resíduos sólidos, transformados em fábricas de energia. Este formato de produção, baseado na reciclagem em seu sentido mais amplo, gera riqueza sem deixar dejetos para trás. O nome disso é economia circular.
A demanda elétrica de Pernambuco
Empresas de transição energética estimam que 50% dos resíduos sólidos do Brasil podem ser transformados em Biogás. Considerando o montante do resíduo produzido pelo Brasil anualmente, algo em torno de 79 milhões de toneladas, estaríamos diante de uma oferta de 3% da energia produzida no Brasil. Isto é algo suficiente para abastecer toda a demanda de energia elétrica do estado de Pernambuco. Infelizmente, 7 milhões de toneladas não são coletadas e 30 milhões vão parar nos lixões. Junto com elas, empregos, renda, saúde e oportunidades
Governança, Sociedade e Ambiente
Sustentabilidade não é fundamentalismo religioso como alguns poluidores dizem por aí para atacar a sigla ESGEnvironmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança.
Sustentabilidade é Business alinhado com a cidadania e a ecologia. Nossa empresa descobriu esta vertente quando se dispôs a agir de acordo com a legislação e com a ética para reciclar todos os pneus que recebe dos clientes em suas trocas periódicas do produto. Mas não parou por aí. Tratou de receber para reciclagem óleos na troca de veículos e combinar com os fabricantes formatos objetivos de uma nova cultura baseada na economia circular, no ordenamento e reciclagem de tudo que estiver ao alcance. Os consumidores, direta ou indiretamente, são estimulados a integrar essa cruzada ambiental, cívica e ética, num processo de mudança que deve começar na casa de cada um e na nossa casa comum, tão maltratada por esta civilização predatória, nosso planeta Terra.
(*) Belmiro é empresário do setor varejista