01/06/2016 16:15
O trabalho a intuição de Virgílio, em seu poema Geórgicas, século IV antes da era cristã, reboa pela história. Liberais, marxistas, educadores e líderes sindicais alcançam no vaticínio uma concordância eficaz. Este foi o espírito de mais uma Jornada do Desenvolvimento, uma iniciativa do governo do Estado, sob a batuta dos titulares da Seplan-CTI, desta vez, num debate mais pontual com as entidades da indústria. “O maior perigo em tempos de turbulência, diria o filósofo Peter Drucker, não é a turbulência, é agir com a lógica do passado”, estava escrito na frase que abriu a programação do evento, realizado no Centro de Convenções, Vasco Vasques, com a proposta de debater a Ampliação e Consolidação do Polo Industrial de Manaus, e a diversificação da Matriz Econômica, ambos na perspectiva da geração de empregos, geração de renda e arrecadação de tributos ao Estado para cumprimento de suas atribuições. “O trabalho vence tudo”, insiste a recomendação de Virgílio, cuja profecia constitui a pedra angular neste momento turbulento que remete a novos paradigmas de enfrentamento da questão. Este evento de 31 de maio, planejado há três meses, quando as Jornadas foram iniciadas em Rio Preto da Eva, se funda na clareza e na certeza de que setor produtivo e a gestão pública do estado precisam caminhar solidárias, proativas, interagindo na gestão da crise e promovendo a modelagem de novos caminhos. E esta foi a pauta e o mote de planejamento de ações e de mobilização de atores dos dois segmentos para, com prazos curtos e desafios densos, organizar um trabalho eficaz e a várias mãos para conquistar uma paisagem social e econômica. Simplificar procedimentos e destravar a burocracia, diversificar a base produtiva, conquistar o destravamento definitivo do PPB, o processo que licencia novos produtos, identificar, enfrentar e destravar os gargalos logísticos, definir os critérios de aplicação de verbas de P&D, novos insumos e produtos foram algumas das linhas de trabalho, que terão suas equipes definidas, de formação paritária, com pauta, integrantes e cronograma a serem definidos nesta quinta-feira, dia 2. Caberá aos seis grupos ali formados desenvolver tarefas, planos, estratégias e prioridades. Um clima gratificante de trabalho, articulado pela energia fecunda da proatividade e altruísmo em favor do Amazonas, e de nossa gente, como convém a comunhão de gestores públicos e empreendedores comprometidos com o tecido social em que atuam.
Dados eloquentes
Na apresentação inicial, alguns dados traduzem o papel do Polo Industrial de Manaus na construção de uma sociedade que resulta de uma política eficaz de redução das desigualdades regionais a partir do mecanismo de incentivos fiscais. Antes da ZFM, fevereiro de 1967, Manaus tinha uma universidade, funcionando com três ou quatro cursos, em condições precárias. Em 2014, Manaus contava com 20 Instituições de nível superior, com 73 cursos de mestrado e doutorado. Não havia oferta desta qualificação acadêmica antes do modelo. Havia 2 centros de pesquisa até 1967, e com a ZFM passamos a ter 11, assim como antes tínhamos 8 instituições de saúde em todo o estado e depois passamos a ter 564. Antes da ZFM o PIB per capta era um traço e depois passou a R$ 14.620. Na arrecadação pública federal nos últimos 5 anos, foram arrecadados R$ 91,6 bilhões, recebemos R$ 24,7 bilhões, portanto, exportamos para a União R$ 66,9 bilhões. Que modelo de renúncia trouxe tanto retorno para o Brasil como a ZFM em toda a história monárquica e republicana? De quebra, de acordo com pesquisas interdisciplinares promovidas pelo CORDIS, da Bélgica, o Community Research Development Information Service, a verdadeira função do Polo Industrial de Manaus é, de um lado, catalisar uma economia capaz de atender às demandas sociais e, ao mesmo tempo, segurar as pressões sobre a floresta, sua remoção e depredação. E, ao promover a base econômica, pode canalizar recursos financeiros para a educação e desenvolvimento de políticas de ciência, tecnologia e inovação, para assegurar novas modulações de economia coerentes com as vocações regionais.
E quais os desafios?
Apesar de longevidade extraordinária e, até certo ponto, surpreendente, dos municípios interioranos, um dos grandes desafios da economia da ZFM é mitigar os baixos índices de desenvolvimento humano da absoluta maioria dos municípios do interior. Temos uma dezena entre os mais baixos IDHs do Brasil. Ao mesmo tempo, a correlação entre queda da atividade econômica está associada à aceleração do processo de desmatamento. A decisão de promover a diversificação da atividade econômica, adotando a modelagem de cidades-polo que vão irradiar os negócios vocacionadas com as calhas de rio, de acordo com pesquisas atreladas a padrões de desenvolvimento, em experiências já ensaiadas por atores regionais. As cidades- polo, sob a gestão académica da universidade do estado, UEA, tem o papel de incrementar o conhecimento científico sobre a biodiversidade amazônica para, através da inovação, gerar conteúdos de valor agregado, e assim produzir competitivamente novas fontes de riqueza e prosperidade social: fruticultura, piscicultura, biofármacos, cosméticos, nutracêutica, turismo, silvicultura e atividade de prospecção mineral. Como diz, porém, Eisenhower, “Planos não são nada. Planejamento é tudo”. Voltaremos...
==========================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 01.06.2016