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O troféu da cizânia

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11/11/2016 17:18

A entidade que congrega os auditores fiscais da Receita Federal exibiu, em entrevistas para a mídia nacional, como se fosse um troféu, o desempenho de deixar sem liberação 4 mil contêineres na alfândega portuária de Manaus. Uma “conquista” do movimento paredista associada a prejuízos de toda ordem. Um autêntico troféu da cizânia, uma palavrinha do jargão antigo mas que se presta a descrever um movimento que se espalha ao redor do planeta, com o recrudescimento do nacionalismo xenófobo que – todos sabemos – levou a humanidade à beira da destruição no século XX. CIZÂNIA vem do Latim zizania, e do Grego zizanion, “joio”. Esta é uma planta que cresce com o trigo, tema de uma emblemática parábola evangélica. Joio não serve para consumo e é uma dor-de-cabeça para os cultivadores. A única função do joio é prestar-se a exemplo pedagógico de que confronto pelo confronto não leva a lugar algum. Que o digam os agricultores. Deixa-os desnorteados pois desagrega, impede o viço, o brilho e o crescimento integral. Isso não significa negar a importância do contraditório, força que obriga o conjunto a achar saltos de maturidade e crescimento. Joio destrói, nada deixando atrás de sua trajetória deletéria. E não há como não identificar neste troféu às avessas uma contribuição adicional ao cenário de dificuldades porque passa o setor produtivo no Amazonas. Nos últimos doze meses, a produção industrial do Estado registrou o segundo pior desempenho do país aponta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Há mais de 50 meses este cenário não reage positivamente. De acordo com os números do instituto divulgados nesta quarta-feira, a indústria amazonense recuou 16,4% no acumulado de doze meses. Na comparação com setembro de 2015, a queda de produção foi na ordem de -10,9%.

Os antecedentes do atraso

Mas não se deve à greve as dificuldades crônicas porque passa a ZFM, a Zona Franca de Manaus. Recentemente, a despeito do projeto bem desenhado de exportação, no âmbito do ministério do Desenvolvimento, pensado para abrir mercados para a indústria brasileira, os resultados se mostraram frustrantes para não dizer desastrosos para a ZFM. E a razão estrutural é muito simples, a competitividade do polo industrial de Manaus é pífia e, tudo sugere, os atores envolvidos incluídos, que esta premissa dos bons negócios industriais e comerciais habita a casa do sem jeito. Tanto que, em virtude das dificuldades crônicas, as empresas do Sudeste, cansadas de esperar os generosos investimentos resolveram optar pelo mais fácil: o Paraguai, onde os encantos do programa de atração de investimentos desenha o melhor dos mundos e fica ao lado de um dos mais atrativos mercados de consumo: o Brasil. Em 2005, lembra Mauricio Loureiro, então presidente do CIEAM, à vista do fracasso do EIZOF, a velha ideia de construir um entreposto aduaneiro nos moldes da logística panamenha, esta Entidade fez um levantamento junto a seus associados para aferir os impactos de infraestrutura nos empreendimentos locais. A logística de transportes apareceu e, 11 anos depois, aparece como o maior gargalo. A expectativa de aplicar 3% do faturamento da ZFM em infraestrutura, infelizmente, um compromisso que a classe política e os anúncios que costuma fazer, surge como algo razoável, factível é necessário. Ao se cogitar a necessidade de portos públicos, poderíamos pensar em Sistema Logístico, que permitisse aos empreendedores ter eficiência competitiva. Manaus não é longe do centro consumidor. Longe é a China. Há, porém, controvérsias. Os chineses entregam um televisor em Santos num custo de frete menos do que seu similar feito em Manaus.

Competitividade capenga

Desde sempre, estudos promovidos e debatidos pelo CIEAM, notadamente a partir do governo FHC, apontam algumas saídas. Uma delas, a matriz racional que envolve a utilização do Aeroporto de Ponta Pelada, como Hub para as cargas aéreas (in/out), consagrando assim a possibilidade de privatização, a exemplos de outros no País. A demanda militar não pode se sobrepor à base material que lhe dá amparo, dizem os próprios militares. Aquele aeroporto sendo consolidado como cluster logístico do PIM, propiciaria racionalidade econômica competitiva sem precedentes. Isto, em função de que já há portos naquela localidade, cuja competição reporta ao livre mercado. Ou seja, concorrência efetiva. Por outro lado, faria com que a Infraero pudesse deixar de ter hegemonia solitária na área aeroportuária. A questão de fundo neste aspecto são os interesses inconfessos que trabalham sempre à sombra do atraso e do oportunismo. Assistimos à conversão súbita de “celebridades” locais ao ambientalismo e patrimonialismo arqueológico com a possibilidade instalação de um porto a 2,4 quilômetros a jusante do Encontro das Águas. A modernização e a competição como premissa de competitividade enterradas como se fazem com os caranguejos do Amazonas que se atrevem a por a cabeça de fora do cesto da mesmice, essa moléstia que reúne o pacto obscuro e destrutivo entre alguns atores da esfera pública e seus consortes do oportunismo privado. Não poderíamos assistir a outro desfecho senão a desindustrialização da ZFM. Empregos em baixa, competitividade capenga, custos logísticos, os mais altos do Brasil. E o que é pior: uma burocracia que assusta o investidor. Colocada na ponta do lápis a somatória de custos e os níveis de competitividade, resta sobretudo o espanto, mesmo com o apelo dos incentivos fiscais. Por isso, o troféu da cizânia é uma conquista insípida, greves que não miram nos direitos, apenas nas mazelas da desconstrução.! Enquanto isso, um país chamado MERCOSUL, que a cada dia, através dos HERMANOS, paraguaios e uruguaios, avançam sorrateiramente na atração das empresas aqui instaladas, fazem roteiros de piadas, ao atrair nossos investimentos e potenciais investidores da ZFM para aquela área, que oferecem exceções mais atraentes, num jogo de cartas mais convincentes. No Paraguai, em comparação ao Brasil, o custo unitário de mão-de-obra para um fabricante de calças jeans é 135 vezes menor. No Brasil, porém, este custo fica para o governo, que aplica mal, onera a produção e retira competitividade dos produtos. Está passando da hora de virar este jogo!

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 11.11.2016

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