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O PIB, a inflação e a construção da dignidade

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02/09/2021 10:03

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“Para além de cestas básicas, precisamos assegurar empregos, mais empregos e múltiplas oportunidades. Precisamos de mais doações pois a demanda é dramática. A magia do verbo repartir é o tônico eficaz da consciência cívica serena. Assim podemos sair de casa com satisfação, segurança e certeza de que estamos no caminho certo, adubando a premissa cívica da solidariedade e da construção da dignidade”

Por Régia Moreira Leite(*) regia.moreira@impram.com.br

Indicadores econômicos são publicados com euforia nesta teimosia saudável do setor privado de ir em frente apesar das tensões políticas e das mazelas que as cercam. Mas não haverá motivos para muita festa se a alegria continuar restrita a alguns poucos. E não precisa ir muito longe – basta um giro de automóvel pelo Centro ou pelos bairros da periferia do Brasil ou de Manaus - para vivenciar a angústia das desigualdades no país. Somos uma das nações mais ricas, estamos entre as que mais pagam impostos, entretanto, na ponta a riqueza não se reconheceo destaque social. Estamos fadados a fechar o ano com boas surpresas de crescimento, entretanto, o custo de vida cresce e com ele a fome reaparece na vida da maioria de todo dia.

Contradição e constrangimento

Como se alimentar dignamente se o preço da comida, do botijão de gás, dos demais combustíveis e a inflação não param de subir? No semestre passado, o Ministério da Agricultura anunciou exultante o acréscimo de mais de 272 milhões de toneladas de grãos na performance deste ano. A marca sinaliza 15,4 milhões de toneladas a serem somadas na comparação com a safra 2019/2020. Automaticamente, os barões do agronegócio, um time reduzido e bem fornido ri de orelha a orelha. Nesse mesmo período o Brasil, como já dissemos aqui, voltou ao Mapa da Fome, um controle mundial da segurança alimentar por parte da ONU, através da FAO, sua organização que trabalha com a alimentação como fator social e político. Uma contradição de pleno constrangimento.

Imunização em massa

O avanço obstinado da vacinação ajudou a reativar a economia mas o desemprego segue tenebroso. Os jornais de Manaus anunciam oferta de postos de trabalho, num patamar ainda tímido e lento, mas alentador. Vai demorar para equilibrar. Muitos estabelecimentos que resistiram ao isolamento começam a reativar seus negócios, torcendo pela imunização em massa e contra o risco das variantes que já se instalou em algumas regiões. E pensar que, com a expertise dos brasileiros em imunização, teríamos evitado tantas perdas de vidas. Durma com o ruído destes.

Baile dos bacanas

Enquanto isso, 2021 vai se configurando como a hora e a vez – mais uma vez – dos bilionários. Um novo bilionário é registrado - por revistas especializadas - a cada duas semanas no Brasil. Um verdadeiro baile dos bacanas. Os 42 bilionários já conhecidos agregaram nos últimos 12 meses U$ 34 bi em suas contas com um crescimento de 64% de boas notícias. Isso ocorre no mesmo instante em que os dados oficiais estimam que 52 milhões de pessoas passarão à categoria de pobres no Brasil e entre formais e informais 40 milhões de brasileiros viram seus postos de trabalho transformados em amarga lembrança.

Os diversos lados dos fatos

O noticiário insiste em sua rotina de destacar o que convém sem se importar em considerar que todos os fatos tem muitos lados. Por isso escancararam previsões de 5% a 5,5% de expansão do PIB para este ano, o somatório de todas as riquezas produzidas no país. Pra quem? O capitalismo precisa ter consumidores com padrão digno para assegurar sua robustez como modo de produção. Essas taxas – não precisa ser doutor em Chicago – traduzem o quão baixa é nossa capacidadeBrasil de crescimento. Não carece muito neurônio para mostrar que estamos na mesma, porque é a mesma paisagem desigual de exclusão da absoluta maioria de nossa gente.

Precisamos de mais doações

Temos visitado a periferia e o interior mais próximo e temos notícias do estado como um todo e de roda a Região Norte. É dramática a cena e deploráveis os indicadores. Perguntam até quando a Ação Social Integrada seguirá sua rotina de Robin Wood tropical, que pede de quem pode para partilhar com quem nada tem. E quem poderá nos devolver uma boaresposta? Os indicadores da Suframa trouxeram notícias boas do crescimento depois da última reunião do Conselho da Autarquia que coordena a gestão de nossa compensação fiscal de região remota,mas a notícia que precisamos mais ouvir não pode demorar a chegar. Para além de cestas básicas,precisamos assegurar empregos, mais empregos e múltiplas oportunidades. Precisamos de mais doações pois a demanda é dramática. A magia do verbo repartir é o tônico eficazda consciência cívica serena. Assim podemos sair de casa com satisfação, segurança e certeza de que estamos no caminho certo, adubando a premissa cívica da solidariedade e da construção dadignidade.

(*) Régia é economista, empresária, conselheira do CIEAM, diretora da FIEAM e responsável pela Ação Social Integrada do Polo Industrial de Manaus.

Publicado em: Brasil Amazônia Agora

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