11/10/2018 10:54
Numa das palestras mais controvertidas da I Conferência de Gestão da Amazônia, promovida pela USP UEA, em agosto último, o empresário Jaime Benchimol pôs o dedo na ferida, denunciando uma discussão que não avança pois esbarra no mais do mesmo das lamentações e propostas oníricas. O empresário amazonense arma que o desafio para o Amazonas é pensar em novas alternativas que levem em consideração as verdadeiras vocações da região amazônica. “Atividades como agricultura, fruticultura, em alguns casos a pecuária, a mineração, a construção naval, as atividades de logística de grãos que estão explodindo na região, piscicultura, produtos regionais, fármacos, madeira, peixes ornamentais, etc.” são exemplos apresentados por ele no painel “Estratégias de Sustentabilidade na Amazônia”. Aplaudido e aclamado, Jaime deixa a direção do Grupo Bemol Fogás de olho nas novas estratégias de desenvolvimento e de demonstração dos negócios que, efetivamente, estão dando certo na Amazônia.
Responsabilidades e Direitos
A iminência do segundo turno para presidente do Brasil e
governo do Amazonas põe em pauta a reflexão
sobre o papel
de cada um – setor público e privado – na continuidade do
desao
de construir uma sociedade justa, com base numa
economia sustentável, justa e solidária. Uma das premissas e
expectativas gira em torno da necessidade do bom
relacionamento entre o poder público e o setor produtivo, que
deverá ser marcado por ações proativas, sem ilusões nem
mistificações
mas com muita clareza das respectivas respeito
responsabilidades e direitos. A economia e a política, uma
relação que, necessariamente imbricada, mais do que nunca
precisam ser fluidas,
transparentes e solidárias. No âmbito
federativo, a relação da economia com o poder estadual tem
um poder adicional de mobilizar forças para superar os
estragos da crise que perdura nos desempregos e seus
sucedâneos, entre eles, a violência. O protagonismo de cada
segmento se impõe, na medida em que o setor público vai
encontrar um país desfigurado
pela inépcia na gestão pública
e pela contravenção generalizada que encheu as cadeias com a
delinquência de altos figurões
da República. Quanto ao setor
privado, base da produção da riqueza, imposto e renda,
cumpre mostrar e valorar seu papel, debater os limites de sua
contribuição e ocupar o espaço de co-gestão na definição
dos
critérios de aplicação dos recursos recolhidos por Lei e de sua
responsabilidade social.
Desigualdades regionais
Temos vivido um conjunto de desacatos do estatuto legal. A
rigor, a economia da Zona Franca de Manaus tem vivido ao
arrepio da Lei. E o que é pior. Padecemos as consequências da
arbitrariedade na interpretação de seu cumprimento. Basta
refletir
sobre o veto presidencial imposto as novas taxas da
Suframa que nos permitiriam retomar projetos de
adensamento, diversificação
e regionalização do
desenvolvimento. Essa aspiração tem sido abortada pelo ente
federal e deixado um rastro de indignação e desalento de
todos aqueles – investidores, trabalhadores e beneficiários
da
econômica ZFM – que produzem a riqueza a partir da ZFM.
Por que aceitamos?
Cabe notar que este descaminho – com a utilização dos
recursos recolhidos pelas empresas incentivadas – confirma um anomalia crônica da gestão federal da Amazônia como um
todo e da ZFM em particular. Por que não bater à porta da
justiça? Por que nos limitamos ao lamento e não ao
enfrentamento com amparo do expediente legal
constitucional? Por isso, mais do que nunca, se impõe uma
anidade
solidária entre economia e gestão pública no âmbito
estadual. O governo do Amazonas não tem utilizado a força
política e institucional de que dispõe para rearmar
os
direitos de sua economia incentivada e de seu tecido social
discriminado e saqueado pela compulsão tributária do
governo federal. Por que o Amazonas tem recolhido aos cofres
federais três vezes mais recursos do que recebe da União? Por
que a classe política local e federal diz amém ao confisco
histórico que tira das demandas da Amazônia 80% dos
recursos produzidos pelo capital e pelo trabalho da região?
Por que temos adiado o levante da reclamação constitucional
que nos autoriza a – efetivamente – reduzir as desigualdades
regionais aplicando aqui a riqueza que é gerada com a
renúncia fiscal?
Quem produz tem voz?
O protagonismo do setor produtivo, mais do que nunca,
precisa ser exercido com clareza e determinação, posto que as
sequelas dos descaminhos da riqueza aqui produzida,
inevitavelmente, desembarcam em ilações sombrias. “Ah,
essas empresas vem aqui só pra ganhar dinheiro e depois vão
embora!”, ou, o que é pior: toma-se como verdade a distorção
funcional de que cabe aos empresários construir creches,
cuidar da saúde, administrar o caos decorrente da omissão
pública. Ora, o capitalismo tem regras claras e obrigações
legais bem definidas.
E, ainda bem, tem estatutos legais que
regem sua conduta. Qualquer descumprimento, existem as
instituições que tem o dever de fazer cumprir a Lei. Por isso, o
protagonismo do setor produtivo passa por explicitar os
indicadores do dever cumprido. E, nesse contexto, explicitar
os embaraços burocráticos sem sentido que impedem seu
desempenho. Por que impor regras sem sentido? Por que
adotar um formalismo burocrático, anacrônico, as vezes
absurdo, que não beneficia
a ninguém, a não ser a quem
exerce o tacão ameaçador do burocratismo? Chega de evitar
benefícios como único produto dessa disfunção institucional.
Essa interlocução proativa e produtiva tem e deve ter sempre
em vista o interesse geral, não de grupos, segmentos ou
conglomerados empresariais. Temos amparo da Justiça, do
Ministério Público Federal, do TCU, que recomenda
integração e coordenação da ação federal na Amazônia. O que
nos falta senão para de reclamar e, decididamente, atuar???
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 11.10.2018