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“Não se deve desperdiçar uma crise”

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27/05/2015 19:06

Reproduzimos, aqui, a partir de hoje, pronunciamentos proferidos pelos agraciados, começando por Jaime Benchimol, em seguida Jorge Neves e, por fim, Serafim Correa, no Dia da Indústria, celebrado por iniciativa da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas e do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, no último dia 22, relativos aos desafios, gargalos e proposições para o enfrentamento da crise que hora sacode a economia do Amazonas e seus reflexos no Polo Industrial de Manaus. Janelas de Oportunidades - Jaime Benchimol, economista e empresário do Grupo Bemol – Fogás.

"Quero agradecer a gentil lembrança do meu nome pela FIEAM e CIEAM para esta honrosa homenagem que aceitei na condição de poder compartilhar com os sócios, conselheiros, gestores e colaboradores das nossas organizações e também com a minha família. Ao refletir sobre a mensagem que poderia dar hoje cheguei a conclusão que não teria como evitar falar da crise atual, porém que poderia enfatizar os aspectos positivos que as crises de um modo geral, e esta em particular, oferecem para as empresas e para os líderes empresariais no Amazonas. Estamos diante de duas importantes "janelas de oportunidade" conforme veremos a seguir:

1. Efeito saneador


A primeira janela tem a ver com as nossas empresas. Como empresários, temos pouca influência sobre a duração dessa crise e sobre a reações dos governos a ela. Os problemas que acumulamos no Brasil nos últimos anos se tornaram estruturais e provavelmente terão a duração de boa parte do mandato da atual presidente. Sabemos, contudo, que as crises têm um efeito saneador nos mercados. As empresas que sobrevivem a elas são as mais eficientes, aquelas que adotam práticas mais produtivas e as que apresentam melhor capacidade de adaptação ao novo cenário. Assim, não se deve desperdiçar uma crise, dizem os bons gurus da administração. As ineficiências e os excessos organizacionais acumulados nos anos de prosperidade precisam ser eliminados rapidamente nos primeiros meses da recessão ainda que a um custo financeiro, emocional e humano elevado. Ações que não tínhamos coragem tomar como, por exemplo, a descontinuidade de operações ou de investimentos deficitários, o desligamento de funcionários que não acompanharam a evolução do trabalho moderno e a digitalização e modernização de processos agora parecem urgentes e essenciais, sendo essas ações muito mais facilmente compreendidas e aceitas dentro das nossas organizações e da própria sociedade. Essas são medidas dolorosas, mas necessárias para salvar as empresas e os empregos dos que nelas permanecem. Neste momento, temos uma janela de compreensão que precisa ser aproveitada com humildade e com determinação. A crise induz também o consumidor a adotar mudanças mais rapidamente. Acreditamos, por exemplo, que ela irá acelerar ainda mais as rupturas em curso decorrentes da utilização da internet, do e-commerce e das milhares de soluções oferecidas pelos aplicativos disponíveis nos smartphones. Tenho visto com preocupação empresários ansiosos por saber quando a recessão acabará e quando tudo voltará ao que era. Não temos a resposta para a primeira pergunta, mas para a segunda, a resposta mais provável é que nunca mais voltaremos ao cenário igual ao de antes, pois o mundo pós-crise será diferente do anterior. E quanto maior for a crise, maiores serão as mudanças. Independentemente de sermos ou não ouvidos nos nossos pedidos de redução da carga tributária, teremos que reduzir os nossos custos e nossos preços, oferecer mais informação para os nossos Clientes, errar menos nos nossos serviços, inovar mais para nos diferenciarmos e convivermos com mais competição nos mercados em que atuamos. A sobrevivência nesse ambiente de Darwinismo empresarial dependerá das ações enérgicas que tomarmos agora a favor de nossas empresas.

2. O Futuro da Zona Franca


A segunda janela de oportunidade diz respeito ao futuro da ZFM. Nosso modelo econômico tem sido baseado na disponibilidade de incentivos fiscais federais e estaduais que a atual crise está a desafiar. Precisamos continuar a defender e a atualizar esse modelo com todas as nossas forças pois não há nenhuma alternativa de curto e médio prazo para os enormes benefícios gerados pelos US$ 35 bilhões de faturamento do PIM, equivalente em valor à totalidade da safra brasileira de soja, por exemplo. É imperativo, entretanto, que busquemos - neste momento - atividades econômicas alternativas a partir das nossas verdadeiras vocações como o turismo, a mineração, a piscicultura, as atividades agrícolas já adaptadas ao nosso clima e ecossistema como plantações de pimentas, abacaxi, cupuaçu, mamão, etc além de reconsiderarmos a exploração das nossas riquezas nativas como madeira, castanha, essências, fragrâncias, peixes ornamentais que sustentaram a nossa economia, sem incentivos fiscais, durante décadas. É urgente diversificarmos a nossa economia. A essas alternativas eu adicionaria a indústria de tele-serviços, ou call-centers como são comumente conhecidas. Essa atividade que gera hoje mais de 1,5 milhão de empregos no Brasil, pode ser prestada à distância, requer baixo investimento de capital e se beneficiará da simpatia, juventude e facilidade de aprendizado da nossa população. Os investimentos nessa área, inclusive na infraestrutura de comunicação, poderão ser totalmente privados, porém será necessário reduzir a tributação excessiva de ICMS que incide sobre a comunicação e que aumenta a nossa distância econômica com o restante do Brasil e com o mundo. Esse tributo alcança 33% sobre o valor dos serviços prestados. O estado do Acre, tendo identificado o mesmo potencial, criou há quatro meses 2.500 empregos em uma unidade da Contax, a maior empresa do setor no Brasil que sozinha emprega 107 mil pessoas, quase a totalidade dos empregos gerados no PIM atualmente. Precisamos agir agora para estudar e formatar essas alternativas removendo o excesso de burocracia, controles e restrições, inclusive as ambientais que paralisam os investimentos e nos condenam ao atraso. Penso que, durante a crise, as autoridades públicas e os agentes políticos estão com a janela da boa vontade aberta e mais sensíveis a acolher mudanças permitindo assim que redirecionemos o curso da nossa economia e da nossa história. Como líderes empresariais, precisamos aproveitar este momento para nos inserirmos em um mundo com menos incentivos federais, com menos regulação, com menos privilégios, com mais competição, com mais capitalismo e com mais liberdade para empreender.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 27.05.2015

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