20/01/2016 17:06
Agenda de superação
Temos muitos desafios pela frente e trabalhar com obstinação tem sido a mola das realizações deste modelo de acertos na redução das desigualdades regionais. Temos sido tímidos nas demonstrações desses acertos, razão pela qual não faltam na mídia do Sudeste constantes ataques a ZFM, desprovidos de fundamento, alguns, outros de decência e da coerência que a tiros a conhecer uma realidade para poder criticá-la. Portanto, cabe a nós, os atores locais, construir e executar uma Agenda de superação e transformação dessas dificuldades – impostas pela inépcia da gestão econômica – em oportunidades de recuperação, diversificação e interiorização do desenvolvimento. Apesar de habitarem a morada da mais preciosa biodiversidade do planeta, com mais de 20% dos princípios ativos da Terra, com uma província mineral gigantesca, apta a abastecer as demandas globais, e dispor de 1/5 da água doce de superfície, a Amazônia tem a metade dos 50 municípios brasileiros com os piores IDHs, sendo que 11 deles estão no Amazonas, onde a União recolhe mais de 50% das receitas federais da região norte. Temos feito nossa parte, contribuindo, e apesar de materializar um modelo baseado em renúncia fiscal, recolhemos mais de 54% da riqueza aqui produzida para os cofres do governo federal. Isso faz com que o Amazonas, no comparativo das contrapartidas federais, seja um dos 8 estados da União que mais contribui do que recebe. Resta-nos, pois, promover a união de todos os atores, especialmente a classe parlamentar amazônica, para que sejam aqui aplicados os recursos produzidos.
Tecnologia em rede
Por mais que seja altruísta, o modelo ZFM não foi instituído para financiar a formação em nível de mestrado e doutorado de estudantes do Brasil. Não temos porque financiar as pesquisas do agronegócio nas universidades do Centro-Oeste. Esses estados têm seus instrumentos de qualificação técnica, tecnologias de inovação, e geram excedentes de riqueza para esse fim. Temos demandas próprias, para agregar inovação tecnológica a produção sustentável de alimentos, para construir parques tecnológicos, não necessariamente em termos de engenharia e construção civil e sim colocando em rede os instrumentos, os laboratórios, as experiências e experimentos já consolidados e ora fragmentamos nessa dispersão institucional atávica, que nos empurra ao individualismo estéril. Somado talentos e esforços, vamos assegurar, aos gritos de defesa do bom senso e da justiça, que as verbas de P&D, recolhidas pelas empresas de informática, aqui sejam investidas. Para tanto, que seja revisto o papel do CAPDA, o comitê gestor das verbas de pesquisa. E que sua composição seja revista. Atualmente o Comitê está apinhado de burocratas descomprometidos com nossa gente, e ausentes da compreensão das infinitas possibilidades regionais de novos bionegócios e de consolidação da indústria de informação e comunicação, suas exigências de informação.
Financial Times
Neste mês, um Relatório do jornal inglês, Financial Times, consolidado como um periódico de jornalismo investigativo, com artigos que são verdadeiros estudos sistemáticos, sem o ranço do jargão acadêmico, trouxe uma análise do potencial do Brasil em Biotecnologia. Faz menção às novas parcerias de longo prazo entre os setores público e privado, e reconhece a atuação das instituições científicas, tecnológicas e de inovação, com as respectivas entidades de apoio do setor de biotecnologia do Brasil. Apesar de tudo, devemos reconhecer e buscar mecanismos de aproximação com o Brasil do Sudeste, que começa a apresentar avanços notáveis, sobretudo nas redondezas de universidades como as de Campinas e São Carlos, no estado de São Paulo, especializadas em produtos farmacêuticos para doenças tropicais e em produtos de saúde vegetal e animal para o setor de agronegócios. Todos conhecem o acervo da biodiversidade amazônica e se deparam com a escassez de cientistas e precariedade de infraestrutura regional. O jornal inglês destaca que a área de biotecnologia oferece boas oportunidades para pequenos investidores, mas o setor enfrenta um impasse: os fundos governamentais para pesquisa estão se esgotando rapidamente por causa da crise financeira e a desvalorização do real. O orçamento de 2016 para o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação foi cortado em 24%. “A biotecnologia relacionada com a agricultura é a nossa melhor vantagem competitiva”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp, a fundação de pesquisa de São Paulo. Mesmo assim, diz o jornal, “a revolução biológica é a solução” para a crescente rejeição de consumidores brasileiros ao uso de pesticidas na agricultura, o que, por sua vez, levou ao crescimento de pestes resistentes a certos tipos de químicos. O Peru, vizinho insistente para aproximar bionegócios e oportunidades, já é um dos maiores produtores de alimentos orgânicos do planeta. Eis, pois, uma, entre as infinitas possibilidades de diversificação do modelo ZFM, com possibilidade robusta de novas receitas, novos produtos, um novo tempo a favor da Amazônia, do Brasil e da Humanidade.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Hoje, excepcionalmente dedicada a mensagem do Presidente Wilson Périco. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 20.01.2016