18/06/2020 14:06
(*) Luiz Augusto Barreto Rocha - lrocha@bds.com.br
Algo de mágico parece acontecer nestes dias de pandemia, em que nossas vidas foram todas afetadas. Novas formas de nos comunicarmos, novos horários, maior contato com a família, mais ação civilizatória, enfim, me parece, mais amor. Será que a correria do cotidiano estava nos deixando sem tempo para separar o essencial do acidental? Será que na ansiedade de acertar e alinhar proposições não nos detínhamos em delimitar fatos fundamentais? Por que foi necessária uma ameaça à minha vida para que eu pudesse passar a almoçar diariamente com minha família? Enfim, fomos todos surpreendidos pela força de um microscópico vírus e obrigados, de um instante para o outro, a realizar mudanças relevantes em nosso dia a dia. Pessoalmente eu resistia a usar a tecnologia de comunicação, que já existia, mas hoje, com a realidade forçada pela mágica da necessidade, eis que faço mais de uma dezena de videoconferências por semana. O resultado positivo destas diversas mudanças que realizamos pode ser o maior legado e o fruto mais saboroso desta pandemia.
Este parece ser o melhor momento!
Temos 53 anos de insistência e resistência para consolidar a economia e a responsabilidade socioambiental do Polo Industrial de Manaus. Enfrentamos com denodo o desconhecimento e muitas vezes até a maledicência de opositores que atribuíam e seguem atribuindo ao programa Zona Franca de Manaus - o maior acerto fiscal para redução das desigualdades regionais – a responsabilidade das mazelas fiscais da economia brasileira. Pois bem: este novo mundo de comunicação mais ampla e menores distâncias pode nos favorecer. A percepção afinal geral de que a indústria é essencial e importante resta evidente a todos. Nunca esqueceremos que, no auge das mortes, uma simples máscara virou assunto de Estado. Isso precisa ser lembrado e coloca a importância da indústria brasileira em um novo patamar.
ZFM, um novo roteiro
Precisamos aproveitar o momento e traçar um novo roteiro, rever nossas dificuldades em dialogar com o Brasil e finalmente trazer indicadores de governança ao PIM. É indispensável prestar contas ao contribuinte. Não há mistério algum e podemos demonstrar claramente o que fizemos e o que vamos fazer com apenas 8% da renúncia fiscal do País. Os estudos da FGV demonstraram com dados robustos os impactos, efetividade e oportunidades da ZFM. Precisamos agora tornar públicas estas informações, um verdadeiro Portal da Transparência e Governança do PIM. Com isso poderemos no momento da pós- pandemia reafirmar nossos compromissos de brasilidade e importância e tornar mais que nunca o Polo Industrial de Manaus uma solução para o Brasil!
O mutirão da civilidade
Nessa pandemia passamos a trabalhar conjuntamente, duas entidades locais da indústria (CIEAM e FIEAM) e duas nacionais (ELETROS e ABRACICLO). Formamos o COMITÊ INDÚSTRIA ZFM COVID-19, que tem trazido até esta data, acumuladas, quase uma centena de sugestões da sociedade, sugestões estas que são debatidas entre os Presidentes das entidades semanalmente, com decisões ágeis e até aqui sempre unânimes. Como frutos saborosos podemos mencionar neste curto espaço de tempo dois trabalhos de alto impacto, o primeiro a AÇÃO SOCIAL INTEGRADA, que organizada e gerida de maneira voluntária amorosa e competente por gestores do PIM, liderado pelo Conselheiro do CIEAM Jeanete Portela e laboriosa equipe de todas as entidades, já distribuiu apenas até esta data mais de 200 toneladas de alimentos e uma quantidade muito expressiva de EPIs e outros insumos para os profissionais da Saúde. Este exercício de voluntarismo cívico permitiu a todos nós que enxergássemos com mais atenção e prioridade a vulnerabilidade social, agravada pela pandemia, em Manaus e seus arredores. Um segundo grande fruto, foi criado o GT - ZFM AÇÕES PÓS-PANDEMIA, liderado pelo ícone da indústria do Amazonas Marcilio Junqueira, que, juntamente com outros nomes célebres do saber acadêmico local e nacional, impulsionados pelas lideranças da indústria, estão avançando na direção de realizar um novo formato de relacionamento, mais democrático, participativo, interativo e focado na revisão e reconstrução de nossa economia e empenhados em lutar para que os recursos aqui gerados sejam aqui aplicados, dentre as outras prioridades indicadas semanalmente pela sociedade no Painel de Sugestões do Comitê principal.
As habilidades agora despertas
O PIM assumiu a produção local de EPIs e outros instrumentos/insumos/ de proteção e luta para que pudesse ser enfrentada com êxito o flagelo mundial da COVID-19. Esses itens, que não chegavam dos fornecedores asiáticos, praticamente não eram fabricados em Manaus. Assim, nos demos conta de uma habilidade desconhecida entre as nossas empresas. Isso nos acendeu luzes e novos projetos. Desde então, firmamos o compromisso de voltar a esta descoberta/aprendizagem e inseri-la no rol dos novos planos para adensar, diversificar e regionalizar os ganhos e avanços que essas lições possibilitam. Se apenas há algumas semanas Manaus frequentava os noticiários nacionais e mundiais com fotos e notícias dignos de filme de terror, agora nos transformamos em esperança nacional de primeira cidade e estado a estar mais próximas do controle da pandemia. Faço aqui este registro para a posteridade: a contribuição das indústrias da Zona Franca de Manaus, das lideranças e dos profissionais que aqui trabalham, foram fundamentais e importantes para este resultado que agora colhemos. E continuarão sendo, porque todos crescemos, aprendemos e jamais voltaremos aos comportamentos anteriores.
Absolutamente tudo vai passar pela classe política
Assim, o COMITÊ INDÚSTRIA ZFM COVID-19 já realizou até aqui treze Conferências semanais e é liderado atualmente pelo amazonense José Jorge do Nascimento Júnior, Presidente da importante entidade empresarial nacional ELETROS. Este trabalho, fundamental até aqui como já relatado, será ainda mais importante no pós-pandemia, sempre de olho na sua relação com as demandas sociais e seu suporte material, pois afinal, se a economia faz água todos iremos ao fundo juntos. Por isso, contando com a presença de atores públicos, acadêmicos, especialistas em economia e gestão e com as sugestões emanadas da sociedade, poderemos apresentar sugestões, compreendendo e respeitando o papel decisivo de nossa ótima representação parlamentar, afinal tudo vai passar pela classe política e por isso trabalhamos no CIEAM fortemente para ampliar essa interlocução e interatividade. Este conceito participativo precisa agora se estabelecer de maneira ainda mais efetiva, para uma Amazônia forte, o verdadeiro Norte do nosso Brasil!
(*) Luiz Augusto é advogado, empresário, presidente do Conselho Superior do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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Publicado em 18.06.2020 no Jornal do Commercio
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br