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INPA e as novas matrizes econômicas

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05/12/2013 11:46

O Diretor de Assuntos Estratégicos do INPA, Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia, o engenheiro Estevão Monteiro de Paula, conhece de perto os desafios, as premissas e as trilhas que conduzem para as novas matrizes econômicas da Amazônia. Ele recebeu a Coluna Follow-Up para falar de futuro da economia do modelo ZFM e seus desafios de adensamento e interiorização.  E saudou a adoção do documento Diretrizes Estratégicas para o Fundo Setorial - Amazônia – CT-Amazônia - Proposta para discussão e deliberação, elaborado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, por parte do CAPDA, o colegiado que define as verbas de P&D para a região. "São muitos recursos, suficientes para formular novas saídas para a Amazônia e colocar em prática alguns dos planos que se acumularam nos escaninhos da penúria nos últimos anos".  A decisão de adotar este Documento, diz Estevão, como referência de uma nova política de pesquisa e desenvolvimento, na linha de viabilizar Novas Matrizes Econômicas, precisa mobilizar os atores da academia. As "Diretrizes" estão fundadas nos estudos e experiência de várias décadas na Amazônia da professora Bertha Becker, que propõe a implantação de estabelecimentos produtivos na Região. O INPA participou dessas discussões, historicamente, e está presente na fundação do CGEE, desde os primórdios.
 
Cenários futuros

Na opinião do pesquisador, que é formado na Universidade do Tennessee e Universidade de São Paulo, "... a vinda para o polo industrial das empresas de peso, sobretudo na produção de bens de Informática, significará o aporte de novos e volumosos recursos. Isso permite vislumbrar cenários de mudança para a economia. Mas é preciso que parta das empresas a demanda por conhecimento, por novos insumos, por estudos de viabilidade econômica dos avanços tecnológicos e adoção de inovação para agregar valor aos produtos aqui manufaturados. O perfil das empresas que atuam em Manaus sugere alguns insumos que o INPA já tem condições de ofertar, especialmente para a substituição da fibra de vidros por insumos vegetais, mais sustentáveis e demandados, cada vez mais, por um mercado consciente. Na mesma linha, as fibras naturais podem agregar valor aos produtos Made in ZFM. Esse início de maior interatividade, porém, supõe a demanda do setor fabril e a oferta de conhecimento por parte da academia, uma aproximação que considero vital. É mais barato, neste momento, importar tecnologias de outros estados ou países, mas nada impede que o novo foco priorize as demandas específicas dos investidores locais".

Segurança alimentar

"É mais barato Importar tecnologia, como as empresas tem feito por falta de opção, mas é viável conquistar confiabilidade nos atores e pesquisadores locais. Os 120 mil trabalhadores do Distrito consomem uma dieta diária, frequentemente composta por produtos que poderiam agregar qualidade e preço competitivo se adotasse algumas soluções da culinária amazônica desenvolvida pelo INPA. Existe um mercado interno bastante diversificado para os produtos de base florestal. São soluções de uma agricultura regional, sustentável e de alto teor nutricional, com múltiplos itens no cardápio amazônico. Na recente edição da Feira Internacional da Amazônia, uma iniciativa oportuna e bem conduzida pela Suframa, apontando novos caminhos para a economia, foram lançados alguns itens de uma empresa incubada no INPA, com aceitação surpreendente. Um dos itens, farinha de pupunha, caiu nas graças do público e fechou acordos de exportação com países vizinhos. Ainda este ano, o Instituto está lançando uma publicação sobre Agricultura familiar, com 18 capítulos para dar suporte aos produtores do Amazonas, com um resumo discreto da bagagem de saber e fazer que o Instituto acumula há 61 anos. O tomate orgânico Yoshimatsu é um dos itens, ao lado do cubiu, que junta nutrição e terapia dermatológica, desse cardápio de nutrição amazônica", sob a coordenação do NERUA, o Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico.

O papel do CAPDA

É importante constatar que a Suframa, em conjunto com parceiros locais, está revendo a gestão dos recursos de P&D, assim como as entidades se organizam para integrar as linhas e focos dessa nova gestão. Não podemos entregar nas mãos de um só organismo a delimitação dos novos cenários de pesquisa e inovação para a Amazônia. É preciso redefinir e conotar as visões do futuro que queremos para a região. É nesse contexto que a proximidade entre economia e academia é fundamental. Vejo por aí a discussão de um novo polo naval para a economia regional, uma indústria que os ingleses abraçaram há mais de 100 anos para viabilizar a economia da borracha. Não há pesquisa relevante nessa área nem formação de profissionais com esse perfil, a despeito de nossas estradas serem 20 mil quilômetros de hidrovias e da cabotagem ser a logística mais inteligente e eficiente para a região. Os recursos de P&D devem ser gerenciados nesse contexto de cumplicidade entre a cadeia produtiva e a cadeia do conhecimento. É essa a bússola que poderia orientar os novos caminhos de gestão dos recursos daqui por diante.

Conservação e produção

"A professora Bertha Becker torcia o nariz para os defensores da intocabilidade da floresta e definia como falso dilema essa oposição entre conservação e produção. Antes de retornar ao INPA estive no IPAAM, o órgão ambiental do Estado, responsável por algumas das atuais Unidades de Conservação. Entendo que essas unidades integram um sistema de cadeias produtivas, com perfil ecológico e possibilidade de produção de determinados bens naturais. A intocabilidade, sobretudo associada à presença de comunidades na região, não faz sentido nem contribui para a guarda dos estoques naturais. Temos um acervo variado de arranjos florestais factíveis para produção de bens que não depredam o bioma e atendem as demandas da comunidade. A Agenda 21 chama isso de sustentabilidade. A professora Becker formulou um mapa de alternativas de aproveitamento inteligente das vocações de cada região, onde defendia a manutenção de estações tecnológicas para dar suporte a produção. É este o espírito do Documento produzido  pelo CGEE, sobre o qual é da maior importância refletir."
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 05.12.2013

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