30/07/2015 15:12
Dos escombros da guerra e da contravenção
Atualmente, o INPA é referência mundial em Biologia Tropical. Como integrar esse acervo de mais de 6 décadas de investigação, coleções de saberes, espécies e conquistas, no desafio de fazer do genoma disponível e potencial a construção da bioindústria do conhecimento? Eis a questão. Tanto Charles Darwin, como Alfred Wallace Russel, responsáveis pela Teoria da Evolução, instrumento metodológico para entender o papel da biologia molecular na compreensão e perenização da vida e da juventude, anteviram na floresta tropical a chave dos essenciais dilemas da humanidade. Os primeiros anos do INPA foram caracterizados por pesquisas, levantamentos e inventários de fauna e de flora. Hoje, o desafio é expandir de forma sustentável o uso dos recursos naturais da Amazônia, as respostas que o homem precisa para recompor sua relação equilibrada com a natureza e conquistar a necessária harmonia. As origens do Inpa, é importante recordar e cotejar, estão associadas aos escombros da II Guerra Mundial e ao compromisso de fazer pesquisa a partir da ótica e do interesse de nossa gente. O INPA é gerado, portanto, dentro de um contexto de esperança, de reconstrução e de vida, numa resposta de brasileiros insignes, de homens da Ciência - que enxergaram o mundo muito além dos livros e do laboratório. E que souberam detectar no conhecimento as armas mais adequadas para entender e equacionar os desafios provocados pela insensatez da guerra, do rescaldo da fome, do calvário dos refugiados, dos desequilíbrios ambientais e desigualdades socioeconômicas.
No contexto global
É importante destacar, na afirmação do INPA, o papel da Unesco, sob a batuta ideológica e financeira de Washington, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, que buscava invocar o imperativo de Educação e Ciência como mecanismo de reivindicação – leia-se ocupação sob os argumentos da filantropia internacional – das promessas que o bioma das florestas tropicais representam. "Eles não queriam nosso bem, estavam, e sim nos nossos bens", diria o Padre Antônio Vieira a respeito. Daí o grande projeto de desencadear essa ocupação através de um laboratório científico internacional na Amazônia, com a criação do Instituto Internacional da Hileia Amazônica, o IIHA. O momento e as razões geopolíticas não poderiam ser mais apropriados para "naturalizar" a proposta de internacionalização da Amazônia, uma ambição antiga, recorrente, e sempre revestida de postulados científicos ou sócio-humanitários, para escamotear objetivos políticos, geoestratégicos e econômicos obscuros. Com o apoio até de alguns cientistas brasileiros e de países vizinhos, a Unesco postulava, em seu ideário, "a superação da ignorância, do preconceito e do nacionalismo xenófobo, por meio da educação, da cultura e da ciência, e erigia como seu objetivo a criação de um consenso em torno de um mundo mais convergente, um pluralismo ideológico e político alicerçado numa solidariedade moral e intelectual contra o nazi-fascismo". Um sofisticado sonífero bovino! Hoje a pretensão de posse e usufruto é asiática, chegando com os alforjes recheados de sedutoras platas, num país saqueado pela gestão fraudulenta e autoritária.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 30.07.2015