18/07/2013 11:43
Entre a taxionomia e o desenvolvimento – Quando o ministro do Desenvolvimento, em 2011, sugeriu à Zona Franca buscar sua "base ecológica", atirou no que viu – as dificuldades de competir com mercados tecnológicos mais sofisticados – e acertou no que ainda não viu, mas pode confirmar in loco com sua decisão de acompanhar mais de perto as demandas e embaraços do desenvolvimento regional. Sobram milhares de hectares de terra no Distrito Agropecuário, mas foram reduzidos os recursos de gerenciamento e fomento agroindustrial na Suframa. Por escassez de recursos para financiar a vigilância, as glebas destinadas ao agronegócio são invadidas pela grilagem e usos distorcidos. As dimensões do espelho d'água disponível pra projetos de aquicultura de produção de proteína com sofisticado sabor do mercado global é gigantesca e absolutamente inexplorada. Com espaços mínimos, a bioindústria de peixe do Alaska, Vietnã, Chile e que tais consegue alcançar o globo, basta ver os itens disponíveis nos supermercados de Manaus. Um vexame imperdoável para quem tem mais de 3 mil espécies de peixe e tecnologia para criar em cativeiro. A base ecológica, excelência, é biotecnológica! Embrapa e INPA dispõem dos caminhos e potencialidades para passar do inventário aos negócios, da taxionomia que classifica e identifica às pesquisas atreladas ao desenvolvimento.
Colheitas robustas – E o que é que as empresas no polo industrial de Manaus ganham com isso? Em que medida uma campanha pra atrair investidores em biotecnologia e engenharia da estética, do bem estar e da nutrição atrapalha ou agrega valor e mercado à economia das empresas já instaladas? As empresas locais vão ganhar de todas as maneiras, inicialmente com a satisfação de constatar o uso proveitoso de suas contribuições na geração de múltiplas respostas às demandas sociais. E ainda um esclarecimento às insinuações de que não devolvem ações positivas para o tecido social que as acolheu com vantagens fiscais. Os recursos de P&D, e dos fundos de desenvolvimento regional, incluindo o patrocínio da educação de nível superior, pesquisa e inovação, enfim, desembarcariam em colheitas extremamente robustas do ponto de vista da coletividade: novos polos, mais inovação tecnológica, construção dos alicerces da indústria do conhecimento e por aí vai...
Economia e ecologia – No mapa estabelecimentos industriais e agropecuários do Brasil, lançado pelo IBGE em 2011, se constata na área amazônica, dois terços do território nacional, imenso vazio de produção e mercado num ambiente onde vivem 22 milhões de pessoas. Como gerenciar, como distribuir essa riqueza natural sem promover a produção, indaga a saudosa geografa Bertha Becker? Os bionegócios, entre outras vantagens, refutariam a manutenção da mentalidade colonial secular que deságua na exportação de matéria-prima sem valor agregado. Muitos medicamentos comercializados pelos laboratórios estrangeiros – nunca é demais repetir - utilizam princípios ativos da floresta, retirados sem controle ou tributos, e nenhum deles deixa um centavo de royalties para seus inventores e usuários das populações tradicionais. Um colonialismo que perdura e reproduz as desigualdades sociais e alimenta a exclusão, e seu maior sucedâneo, a violência. A melhor maneira de conservar o patrimônio natural amazônico – como acontece com todos os acervos dos países civilizados – é atribuir-lhe valor econômico. A questão amazônica precisa ser tratada como tema central das discussões econômicas. Dados do IBGE mostram que a pecuária lucra de 20 mil a 70 mil dólares por hectare/ano, a soja até 100 mil dólares e a madeira de 200 a 400 mil por hectare/ano, se o cultivo envolver madeiras nobres demandadas pelo mercado. Por outro lado, um hectare de açaí pode render de 2 mil até 100 mil dólares, sem contar com o aproveitamento de seus resíduos, no caso o caroço, para a produção de MDF para a movelaria doméstica, como está fazendo a indústria moveleira do Pará.
Polo de fertilizantes – Entre as vocações econômicas inusitadas do Amazonas, por seu perfil geofísico, ensaio biotecnológico e agroindustrial, começa a se configurar a perspectiva de produção de fertilizantes, fundada na elevada ocorrência de minérios vocacionados para a atividade agrícola. É o caso do calcário e das reservas estratégicas de silvinita, a base da produção de potássio, o mineral precioso do NPK, nitrogênio, fósforo e potássio, a essência da produção vegetal. Em 2012, foi elaborado um denso inventário sobre insumos agrominerais, que reuniu técnicos de 14 instituições públicas, federais e estaduais, e a participação do setor privado, por meio da Federação da Agricultura e dos Trabalhadores na Agricultura do Amazonas. Ali ficou demonstrada a viabilidade econômica e social da exploração do calcário da mina do Jatapu, de Urucará, e do Parauari, de Maués. A quantidade e a qualidade do calcário se revelaram suficientes para atender a demanda pelo insumo dos produtores de alimentos do Estado. Adicionalmente, um estudo de viabilidade técnica e econômica avança na implantação de uma unidade de produção de dolomita (minério de uso agrícola como corretivo do solo), que vai importar essa substância do Peru e beneficiá-la em Tabatinga, a mesorregião mais empobrecida do Estado, na fronteira amazônica com Colômbia, Peru e Bolívia, com forte e comprovada vocação agrícola. Sobram recursos naturais, informações sistematizadas, demandas efetivas e, ao que parece, falta vontade politica e visão de médio e longo prazo num planejamento estratégico, articulação dos atores e segurança jurídica para atração de investimentos.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústrria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br