21/05/2014 10:43
Manaus desconhece Manaus
Entre outras deduções, resultantes da descrição e análise dos dados colhidos no portal da Receita, IBGE e Fazenda estadual para apresentar o perfil do modelo, ficou claro que a economia da ZFM é uma ilustre desconhecida. Padecemos de uma leitura mais acurada de dados históricos e cotidianos que traduzem aquilo que efetivamente acontece e padece de interpretação, planejamento, eventuais correções e comparações decisivas para programar a integração com a almejada política industrial brasileira e demais setores da pesquisa e desenvolvimento, e do enfrentamento dos desafios de sustentabilidade. São 129 mil trabalhadores nas fábricas, entretanto, ao descrever a trajetória da cadeia produtiva de cada item até o mercado, onde o consumidor final adquire a marca ZFM, a geração de empregos certamente surpreenderá atores e desafetos da economia indústria aqui implantada. Ou seja, Manaus desconhece o que faz Manaus e o alcance dessa atribuição.
Indústria do conhecimento
Historicamente reativo – só busca demonstrar sua eficácia quando colocado em questão por seus desafetos – a economia da ZFM não pode mais abrir mão de especialistas para promover estudos aprofundados, levados a efeito por profissionais que atuam e conhecem a região, sua história e a densidade do trabalho de seus atores para promover um paradigma bem sucedido de desenvolvimento. E a partir desses estudos, seguir os caminhos seguros da correção de pontuais distorções e equívocos de expansão e desenvolvimento econômico e social. Sequer, hoje, podemos descrever com exatidão o perfil da estrutura produtiva atual, os indicadores de cada segmento, custos incorridos e as expectativas não atendidas. É a indústria do conhecimento na compreensão de todas as fases da cadeia produtiva real e potencial.
Direcionamento estratégico
Estão sendo debatidos/detalhados os itens do acordo de cooperação entre a Universidade do Estado do Amazonas e as entidades representativas da economia local. Com a respeitabilidade da pesquisa, do ensino e aprendizagem acadêmica, focada no cotidiano produtivo da ZFM será mais fácil identificar os avanços e gargalos da competitividade, da viabilidade e articulação do adensamento e interiorização dos estabelecimentos produtivos e seus propósitos na perspectiva de integração na política industrial nacional. Avançar no conhecimento desses estudos é aprofundar o conhecimento das premissas de aperfeiçoamento e ampliação da competividade e fortalecimento do modelo ZFM. Todos os estados que avançaram seus processos produtivos o fizeram passo a passo na integração entre academia e economia. A ZFM só pode apontar um direcionamento estratégico nacional específico para cada área em que atua, se tiver perfilado sua indústria, suas demandas e alternativas de diversificação. Assegurada essa sistematização de desempenho ficará natural e necessário assegurar sinergia e harmonia entre a ZFM e produtores de outras regiões do país.
Entre o saber e o fazer
É curioso, e de certo ponto de vista surpreendente, observar que o governo federal perde a chance de divulgar sua presença atuante, comprometida e eficaz através do fortalecimento institucional da Suframa. Passados 47 anos do modelo, com um acervo de acertos e de tantas propostas e projetos aventados e arquivados e outros em andamento com acertos excepcionais, a União dispõe de todos os mecanismos para dizer com tranquilidade e vaidade que foi capaz de iniciar o processo de integração da Amazônia, 2/3 do território nacional, a partir da ZFM. Bastaria convocar seus demais braços federativos a corrigir os descaminhos inevitáveis que a iniciativa acabou gerando. Fortalecer a Suframa na magnitude de suas atribuições de agência de promoção de desenvolvimento sub-regional significa avalizar suas funções, respeitar e referendar as decisões de seu Conselho gestor, onde o poder central e a representação se encontram para fazer brotar e propagar os benefícios dessa promissora equação entre o saber e o fazer, mediatizados pelos direitos e necessidades de cada um dos segmentos e dos grupos humanos que aqui vivem e trabalham. Meditar sobre a ZFM, em clima deste debate que aguarda o desfecho de sua paternidade eleitoral, estudar seu perfil integral, é passo decisivo de sua consolidação e autonomia crescente de sua configuração institucional.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 21.05.2014