02/10/2015 21:23
Radiografia do estrago
São milhares de contêineres retidos a traduzir estragos que as cargas impedidas sinalizam, com armazenagem compulsória que obriga as empresas a desembolsar três vezes mais despesas com as taxas portuárias, as mais caras do país. Com desemprego crescente, indicadores da produção industrial descendo a ladeira do encolhimento e a arrecadação do estado em queda, a greve dos Fiscais Federais Agropecuários é a gota que falta no desfecho da festa sinistra do esvaziamento econômico. Ainda no processo de recomposição dos estragos da greve dos servidores da Suframa, as empresas já não sabem a quem recorrer nem para onde apontar os esforços de sobrevivência diante de tanta pressão. Em duas semanas de paralisação, os processos de fiscalização suspensos significam escassez de insumos, aumento de despesas com armazenagem e impossibilidade de manter o cronograma de produção, portanto de emprego, renda, imposto, enfim, o encurtamento do horizonte de sobrevivência.
Legal, legítima e justa?
Assim como no Amazonas, estados como o Mato Grosso do Sul, referencia do agronegócio, a base econômica maior do Brasil neste início de milênio, a greve dos Fiscais Agropecuários contabilizava até segunda-feira 280 caminhões parados ou com seu trânsito normal comprometido para exportação ou importação de produtos agropecuários, o que representa 6.400 toneladas de produtos vegetais como feijão e madeira e 5.150 toneladas de produtos de origem animal, principalmente carnes. Além disso, 468 processos de liberação para exportação de carnes ou sementes estão com suas análises suspensas. Até onde o direito profissional e institucional dos fiscais pode se superpor ao interesse maior da população? E se a greve é por tempo indeterminado até que haja uma proposta por parte do governo federal, o que diz a justiça a respeito dos estragos impostos à população? A greve é legal, ou legítima, mas são justos seus instrumentos e inquestionáveis seus prejuízos?
E quem paga o pato?
A origem da expressão pagar o pato consistia em amarrar uma ave - geralmente um pato - num mastro, que deveria ser retirada do objeto - pelos jogadores - numa única tentativa. Os jogadores cavalgavam em direção ao mastro e, com um instrumento, tentavam cortar o que quer que amarrava a ave. O indivíduo que não alcançasse o objetivo, deveria pagar - monetariamente - pelo animal sacrificado. Daí a expressão: "Pagar o pato", ou seja, pagar por aquilo que não deve; assumir responsabilidade por ações realizadas por um grupo. As greves, a contravenção generalizada, a cangalha tributária, a demagogia e o assistencialismo, as campanhas eleitorais bilionárias, os marqueteiros miraculosos e pós-graduados em manipular a consciência alheia são os patos de um Brasil à deriva, leiloado por abutres de uma política vesga, oportunista, temerária e sem proposição. Esse pato custa cada dia mais caro e está sendo pago por quem trabalha, tenta produzir, tirar o país do desmando e do imobilismo fraudulento. Até quando?!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.
Publicado no Jornal do Commercio do dia 02.10.2015