13/09/2013 09:53
Educação, a pedra angular.
Há um ano foi lançado o Mapa do Trabalho Industrial para 2013, elaborado pela CNI/Senai, com a proposta de orientar a demanda de mão-de-obra dos trabalhadores de nível técnico em todo território nacional. Um grito de alerta e um convite para o país olhar com rigor e atenção para este tema, a maior e melhor ferramenta de transformação social. O descuido virou entrave dramático de competitividade e crescimento. É a indústria propondo sua parte, num Brasil que tem apenas 6,6% de seus jovens em situação de ensino na qualificação técnica. Na Alemanha, o país que enfrenta a crise europeia com mais criatividade e resultados, esse percentual é de 53%. E lá o poder público acompanha, dá suporte, premia e cobra resultados das instituições responsáveis. Por isso a equação é direta entre qualificação e avanço na sociedade globalizada e estribada no conhecimento. O axioma é elementar, simples e evidente, mas, parece, no Brasil em geral e no Amazonas em particular, difícil de entender e complicado de enfrentar. Constrange relembrar que as duas universidades públicas do Estado, uma delas a mais antiga do país e a outra financiada pelas indústrias, estejam nos últimos lugares no ranking das universidades aferido pela Folha. Constrange a todos, mais ainda, porque este Estado representa a sexta economia do país e precisa de maior suporte técnico e educacional.
Dever de casa
O levantamento da CNI no Pará, por exemplo, uma economia diversificada e com focos de produção espalhados em diversos pontos geográficos, foi pontual e elucidativo, nos limites de sua atuação e demandas. O estado teria de formar 104,4 mil trabalhadores em nível técnico e em áreas de média qualificação para atuar em profissões industriais até 2015. No Amazonas, o Senai focou no Polo Industrial de Manaus sua estratégia de qualificação, e está avançando no imperativo da inovação com parcerias interacionais, incluindo Alemanha. Mas não lhe compete estruturar estratégias de ensino à luz das demandas e potencialidades regionais. Pela pesquisa, as indústrias dos sete estados da Amazônia carecem de 294,8 mil profissionais nos próximos três anos. O Pará com 104 mil, o Amazonas responde por cerca de 95 mil dessas vagas, seguida por 62 mil de Rondônia, 15 mil do Tocantins, 9 mil do Amapá, 6 mil do Acre e 3 mil de Roraima. As ocupações com maior demanda passam por inovação – é imperativo agregar valor à produção local – e se espelham na expectativa de técnicos em eletrônica; técnicos em segurança no trabalho; técnicos de controle da produção; técnicos em eletricidade e eletrotécnica; técnicos em operação e monitoração de computadores.
Novas matrizes
O planejamento do perfil técnico do Mapa do Trabalho Industrial, porém, atende a uma demanda da indústria instalada, mas não alcança, no caso do Amazonas, os polos potenciais e mais coerentes com a vocação de negócios e bionegócios da região: da bioindústria, o polo gás-químico e de fertilizantes, a mineral, as cadeias produtivas, o beneficiamento dos itens do extrativismo sazonal, a fruticultura, as tecnologias de produção intensiva de látex, guaraná fibras, alimentos. E isso não é exatamente atribuição da indústria embora o setor tenha interesse e proposições a apresentar. De que vale tão-somente definir o modelo de gestão do CBA, o Centro que daria suporte a um polo de bioindústria sem a vontade política de mobilizar investidores, pesquisadores, agências de fomento, com o respectivo aporte de recursos em qualificação. No Mapa serão necessários 174,6 mil trabalhadores para a indústria de alimentos - cozinheiros industriais - entre 2012 e 2015 em todo o Brasil, mas na Amazônia, podem ser criadas milhares, ou milhões de vagas na produção de alimentos com a piscicultura das fazendas aquáticas ou com a agroindústria de várzea na produção e beneficiamento de grãos, bioenergia, infraestrutura de energia solar que permite funcionamento de comunicação e transporte mais acessível. Outro planejamento e respectivas exigências.
Divórcio nocivo
Mas a roda não gira. O setor de Ciências Exatas da Universidade Federal do Amazonas, que engloba diversos setores de Engenharia, Matemática e Tecnologia, costuma abrir concursos para a média de mais de 100 vagas rotativas disponíveis, e não consegue suprir as próprias demandas por falta de candidatos ou pelo baixo nível dos que se apresentam. Salários, desarticulação institucional, ausência de uma cultura empreendedora entre academia e economia travam a saída para novas trilhas. O mesmo se dá na UEA, a Universidade do Estado do Amazonas, onde os alunos pressionam de diversas formas por docentes no setor. Há um ano, FIEAM/CIEAM fizeram um estudo para identificar lacunas e buscar alternativas para minimizar o problema atual e futuro da falta de profissionais qualificados para atender as demandas do PIM. Descobriram que há recursos disponíveis para a qualificação profissional nas instituições ligadas às indústrias, mas falta interatividade entre academia e setor produtivo. Maior participação dos empresários em conhecer e contribuir com as atividades realizadas pelas instituições para adequação dos cursos às reais demandas da indústria.
Academia, economia e mercado
E não é só a engenharia em que a escassez prejudica a indústria. A criação do programa do governo federal Ciência sem Fronteiras, concebido para aumentar a formação e especialização de engenheiros e de outras profissões de ramo tecnológico, como muitas das soluções de emergência, carece de um planejamento sobre as verdadeiras demandas, vocações, parcerias e, aí, então, a definição do perfil técnico que se impõe. O estado fornece bolsa aos estudantes amazonenses matriculados em programas de pós-graduação fora do estado, num esforço exemplar de qualificação para chegar ao número de 8 mil doutores, atualmente há 1,6 mil, mas muitos estão desempregados ou subempregados porque avançaram sem uma articulação interinstitucional entre academia, economia e mercado, uma triangulação que demanda vontade política, debate, oitivas, disposição proativa e planejamento inteligente e eficiente de médio e longo prazo à luz de novas matrizes econômicas e das demandas sociais que o IDH recente detectou.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
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