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Entrevista com Paulo Artaxo, presença do Brasil na Conferência do Clima

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30/09/2015 16:13

Nesta terça-feira, diretamente da Croácia, Paulo Artaxo se dispôs a atender a Coluna Follow Up para falar de clima, particularmente sobre as condições adversas e assustadoras do calor amazônico. Confira.

FOLLOW Up -
Que medidas urbanas poderiam amenizar as sequelas climáticas do fenômeno El Niño em cidades como Cuiabá e Manaus?

Paulo Artaxo -
Aumentar a cobertura vegetal urbana, ou seja, plantar árvores é a medida mais indicada para cidades com temperaturas normalmente altas, como as que você citou, como forma de amenizar o efeito de ilha de calor, visto que as árvores auxiliam no equilíbrio térmico urbano. Manaus, por exemplo, é uma cidade com baixa cobertura vegetal e poucos parques urbanos, e o efeito de ilha de calor, então, é de um aquecimento adicional de 2 a 3 graus centígrados. Em outras palavras, aumentar a cobertura vegetal auxilia na redução do efeito de ilha de calor. Outras medidas, como evitar a verticalização da cidade, para favorecer a circulação atmosférica, também auxilia na redução de temperatura em áreas urbanas.

FUp -
Com uma das taxas mais baixas de cobertura vegetal, entre as capitais brasileiras, a recomposição florestal é o principal instrumento de alívio climático?

PA -
SIM, o aumento da cobertura vegetal e a redução da verticalização urbana são as medidas mais recomendadas para minimizar o aumento de temperatura urbana, como está demonstrado nos registros de temperatura em Manaus antes de sua ocupação desordenada.

FUp -
Há um ano, o agrônomo Antonio Nobre, depois de ler 200 artigos sobre clima, foi ao Fantástico insinuar que a escassez de água no Sudeste se deve ao desmatamento da Amazônia, vc endossa essa tese?

PA -
O fluxo de vapor de água que causa precipitação na região Sudeste do país tem principalmente três origens: 1) Frentes frias do Sul do País e Argentina; 2) Oceano Atlântico subtropical; 3) Região amazônica. Cálculos realizados por climatologistas do INPE e USP mostram que, na média anual, somente cerca de 30% do vapor de água que atinge o Sudeste são provenientes da região amazônica. Salienta-se que 70% da umidade que atinge o Sudeste não vem da Amazônia, de acordo com esses mesmos estudos. O desmatamento total na Amazônia, de acordo com cálculos do INPE, é de cerca de 19% de sua área. A região desmatada diminui a sua evapotranspiração, mas ela não se reduz a zero. Portanto, é improvável que o desmatamento na região Amazônica seja o fator responsável pela seca no Sudeste brasileiro.

FUp -
A pobreza polui, porque depreda, dizem os críticos da tese da floresta em pé, questionada pelos baixos índices de desenvolvimento na floresta. Quais modalidades de uso vc defende para compatibilizar clima e desenvolvimento humano na Amazônia?

PA -
Destruir a floresta não pode ser a única maneire de dar um meio de vida digno para o povo amazônida. É preciso pensar em alternativas econômicas que não dependam da destruição deste rico patrimônio. Uma possibilidade é explorar a enorme biodiversidade de forma sustentável; e também investir em indústrias de alta tecnologia que não comprometam a integridade do meio ambiente e que também sejam sustentáveis a médio e longo prazo. Muito obrigado pela oportunidade.

Artaxo, rigor e talento em Paris


Em dezembro próximo, o debate do clima desembarca em Paris, na tentativa desesperada de buscar saídas para as ameaças para a vida humana no planeta. Os desastres ecológicos, a escassez da água, paradoxalmente convivendo com enchentes destruidoras, o acúmulo de indagações frente ao imponderavelmente parece encurralar a condição humana na terra. Apesar das limitações e superficialidade da posição do Brasil até o momento, temos um profissional do mais alto gabarito para apontar análises e saídas para este impasse crucial em que nos encontramos. Paulo Eduardo Artaxo Netto foi um dos pesquisadores mais citados no mundo científico no ano passado, de acordo com a conceituada lista Higly Cited Researchers. Professor titular do Instituto de Física (IF) da USP e Pesquisador de Produtividade em Pesquisa 1A do CNPq, Artaxo é mestre em Física Nuclear e doutor em Física Atmosférica, e se dedica à pesquisa em física do meio ambiente há mais de três décadas, sendo referência mundial em conferências nacionais e internacionais sobre a física das mudanças climáticas globais.A internacionalização da pesquisa, assim como a interdisciplinaridade, são grandes marcas da trajetória científica de Artaxo. No início dos anos 80, ainda realizando seu doutorado, o professor Artaxo trabalhou com o professor Paul Crutzen, prêmio Nobel de Química, no primeiro experimento mundial que investigou o papel de emissões de queimadas da Amazônia no clima regional e global. Além disso, realizou Pós-Doutorado nas Universidades de Antuérpia, Estocolmo, Harvard e na NASA, tendo, atualmente, parcerias científicas fortes e de longo prazo com pesquisadores de mais de 15 países.

Produção Científica


O professor Artaxo publicou 370 trabalhos científicos nos últimos 30 anos, tem mais de 10.500 citações no Web of Science e mais de 22.700 citações no Google Scholar. Em sua carreira acadêmica, Paulo Artaxo apresentou mais de 850 trabalhos em conferencias científicas internacionais. Dedicou-se à tarefa de formar recursos humanos e orientou 53 alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado. Entre os vários prêmios internacionais recebidos, é Doutor Honoris Causa pela Universidade de Estocolmo na Suécia e membro da equipe do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), agraciada em 2007 com o prêmio Nobel da Paz pelos trabalhos associados às mudanças climáticas globais. É também membro de várias academias de ciências, entre elas a ABC, ACIESP e TWAS.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

Publicado no Jornal do Commercio do dia 30.09.2015


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