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Energia, o descompasso entre produção e distribuição

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29/08/2014 14:25

O discurso de resolver de uma vez por todas os embaraços do apagão energético, é contrariado por uma rotina de transtornos, desencantos e revolta por parte dos usuários da energia (não) distribuída em Manaus. Empresas de grande porte, ou seja, generosos contribuintes da compulsão arrecadatória que descreve o regime fiscal do país, relatam ficar mais de sessenta horas por mês (sic!) sem fornecimento de energia. Um desrespeito institucionalizado, que atinge empresas, moradores e demais envolvidos, por exemplo, na área denominada Distrito II. Por coincidência a mesma área igualmente afetada pelas crateras crônicas das vias do polo industrial de Manaus. Eis uma das razões objetivas do encolhimento da atividade industrial local. Apagão energético, vias sem manutenção, estrutura logística precária e cara põem em cheque as promessas que se repetem nas últimas décadas sem perspectiva de solução.
 
Origens do descompromisso

Com a colocação da Amazônia no centro da discussão climática, os países poluidores conseguiram provocar a atenção dos governantes do país, a partir dos anos 90, com a Conferência da ONU sobre meio ambiente e desenvolvimento. Resultaram grandes discussões e uma abundância de promessas, projetos, planos, programas e mecanismos técnicos, financeiros e jurídicos para responder à pressão estrangeira. Ou seja, o aumento de importância da questão ambiental obrigou o país a sistematizar a ação pública. O resultado disso foi o proibicionismo de um lado e o esfacelamento de órgãos e iniciativas públicas sem articulação e concatenação entre si. Por isso, instala-se uma conexão gigantesca a partir da hidrelétrica de Tucuruí em direção até Manaus, onde chegou há alguns meses, depois de 4 anos de obra e expectativa e – para surpresa geral e indignação técnica – não havia rede de distribuição adequada para utilização. O mesmo se deu com a “nova matriz econômica” do gás de Urucu, cujo gasoduto levou 4 anos para ser concluído e toda uma expectativa generalizada de barateamento e eficiência energética da nova matriz.
 
Protesto cívico

É importante reafirmar a ausência de uma política consistente de gestão da Amazônia. Ela não se enquadra nas categorias clássicas da nova fronteira agrícola e sua infraestrutura não pode ser equacionada única e exclusivamente como novo canal de escoamento do agronegócio para desobstruir a logística portuária do Sul e do Sudeste do país. Hoje a Amazônia tem estrutura produtiva própria, com múltiplos projetos e diferentes atores. É importante mobilizá-los. A precariedade da distribuição energética e a logística que proíbe a competição e modernização para a competitividade atingem o setor produtivo e, igualmente, o cidadão comum que paga a cesta básica mais cara do país. Daí o posicionamento crítico das entidades em relação à omissão das iniciativas públicas – é inaceitável que a rede de distribuição não tenha sido implantada em conexão com o cronograma do linhão de Tucuruí. Este posicionamento também abriga as reivindicações de cidadania, posto que exigem, em última análise, assegurar o bem estar humano. A infraestrutura é premissa que permite o acesso às redes de desenvolvimento regional, reivindica-la é um protesto cívico, que exige iniciativas consistentes em nome dos interesses da sociedade. E não se trata de indignar-se com os prejuízos das grandes, médias e pequenas empresas do Distrito II. Estamos insistindo na presença dos responsáveis pela legitimação e a finalização plena dos projetos em andamento na área da Eletrobrás Amazonas Energia para entender os entraves e exigir cronogramas objetivos do equacionamento definitivo desta constrangedora questão. É evidente que existem diversos outros problemas, como o sistema viário, o saneamento básico, a distribuição de água, a transmissão de dados e voz para consecução dos programas e projetos da indústria e do cidadão. O que justifica um apagão de cinco, seis, horas e a interrupção duas a três vezes por dia, com descalibramento de equipamentos, perdas de produtos, horas não trabalhadas e pagas, para listar alguns dos tormentos cotidianos nas empresas instaladas em Manaus? A última novidade é anunciar aos quatro ventos que está sobrando energia no Amazonas, e ai vai a pergunta: de quem é a responsabilidade da ausência de infraestrutura de distribuição? 
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do Centro da Indústria do Estado do Amazonas. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br
 

Publicado no Jornal do Commercio do dia 29.08.2014

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