02/05/2014 14:10
Nas prateleiras
É simbólico que o ministro da Educação Aloizio Mercadante não seja um educador. Formado em economia ele largou a academia pela militância, pós-graduou-se há bem pouco tempo – às vésperas de assumir o ministério de Ciência & Tecnologia em 2011 – com uma tese de exaltação do governo em que atua, foi criticado pela banca que o sabatinou por conta da apologia exagerada e por omitir-se em relação ao futuro. Economista, foi repreendido pelos doutores da área na prova de qualificação acadêmica/educacional. A Educação no Brasil, pois, incluindo o futuro das gerações, não ultrapassa os quatro anos de uma gestão de governo, não é um assunto prioritário, e as lideranças politicas não ouvem especialistas, não há acatamento dos sábios como indivíduos essenciais no conhecimento dos problemas, na preparação de planos e metas para aprimoramento do exercício da cidadania, com esporádicas exceções. Na Amazônia, nos contentamos em inventariar o bioma, já conseguimos por no laboratório 5% das espécies, e multiplicamos prateleiras, escaninhos e edições de revista científica de costas para o mercado, como se as pessoas estivessem todas satisfeitas em suas necessidades básicas ou de ascensão econômica e social.
Ensino Superior
A indústria instalada em Manaus recolheu R$ 351 milhões aos cofres estaduais para educação no ensino superior, em 2013, um volume de recursos destinado legalmente à qualificação dos jovens. Com essa expectativa, as entidades que representam as empresas mantenedoras têm cobrado insistentemente a constituição de um Conselho que represente a sociedade, no qual tenha assento o setor produtivo, de tal forma que se assegure não apenas o acompanhamento público na aplicação dos recursos, mas o perfil dos profissionais que o mercado de trabalho demanda da academia. Afinal, médicos, gestores, advogados, professores e demais profissões dependem objetivamente de uma estreita conexão com o mercado de trabalho, as expectativas das empresas e da sociedade para os serviços oferecidos pelo conjunto das categorias profissionais. Longe de ameaçar a autonomia universitária, essa presença legitima a autonomia e lhe confere trilhas de novas escolhas, de acordo com as necessidades prioritárias. Essa expectativa de acompanhamento se aplica às demais contribuições feitas para Turismo, interiorização do desenvolvimento, das cadeias produtivas da AFEAM, a agência estadual de fomento, a única que oferece assento de acompanhamento de suas atividades. São mais de R$ 1,2 bilhão/ano cuja gestão a sociedade em geral e os contribuintes em particular devem e querem participar, conforme a legislação prevê.
Academia e economia
Por isso, é essencial apressar o compromisso público de parceria entre o setor produtivo do Estado e a academia, aqui representado diretamente pela UEA, Universidade do Estado do Amazonas. Não faz sentido prolongar o desfecho sacramental desta aproximação. É preciso assegurar que a parceria se dê com o conjunto da Ação Empresarial do Estado, articulando as entidades do Setor produtivo: FIEAM, CIEAM, ACA, FAEA, FECOMMERCIO e quem mais demandar os perfis oferecidos à comunidade e ao mercado de trabalho. Do músico ao arquiteto, academia e economia não podem caminhar em divórcio. Em sua última visita ao Centro da Indústria, o reitor Cleinaldo Costa foi enfático: “Daqui pra frente, com a consolidação deste entendimento, será exequível desenhar cursos, perfis, número de vagas necessárias conforme a demanda para os próximos anos, num projeto denominado UEA + 20. Ao mesmo tempo, conjuntamente, repensar a qualidade do ensino por meio dos Núcleos Docentes Estruturantes - NDE´s dos cursos integrantes da parceria”.
Premissas e expectativas
O CIEAM tem acompanhado a evolução das cadeias produtivas da AFEAM, Agência de Fomento do Estado do Amazonas, financiadas pelas empresas, que devem receber em breve uma injeção adicional de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID. Na pauta proposta pelo Centro da Indústria do Estado do Amazonas, a UEA terá um papel importante na formação de parcerias com a evolução das cadeias produtivas na perspectiva das Novas Matrizes Econômicas. Chama a atenção, entre as cadeias ora financiadas e que receberão apoio diretamente, a de borracha, para a indústria de pneumáticos, o curauá, uma bromeliácea que produz uma fibra vegetal capaz de substituir a fibra de vidro de celulares, motos e automóveis, a de óleos vegetais para a indústria de química fina e a de fitoterápicos, uma demanda de indústria farmacológica que tem um mercado consumidor nacional e mundial ávido por produtos da flora amazônica. Conectada à iniciativa, a UEA já se dispôs a oferecer a estruturação de laboratórios focados em formar os profissionais que as empresas precisam através da qualificação permanente e de cursos de pós-graduação Lato Sensu em Farmácia, Segurança do Trabalho, Produção, Petróleo e Gás, Qualidade, Telefonia Celular, Mecânica, Redes, Novos Produtos, Urgência e Emergência (PAE), entre outros itens e áreas que se fizerem necessários, além da qualificação no Stricto Sensu (Mestrado e Doutorado). Integra ainda o propósito o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia e Inovação, a parceria com o Instituto Nokia, além de Acordos de Cooperação Técnica com 16 Universidades Brasileiras e Europeias. Não há unanimidade em relação a isso no âmbito do setor produtivo, mas ao menos há a certeza de que é preciso diversificar e interiorizar a economia.
================================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 02.05.2014