25/03/2015 11:42
Augusto Rocha é doutor em Engenharia do Transporte pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, onde formulou um Modelo de Avaliação da Competitividade Logística Industrial. Hoje, professor da Universidade Federal do Amazonas, ele tem aproximado economia e academia na busca de novas pesquisas e saídas para a ZFM, através do Coordenadoria de Logística de Transportes do Centro e Federação das Indústrias do Estado do Amazonas. Analista crítico e propositivo do gargalo logístico que compromete a competitividade do Polo Industrial de Manaus, Augusto tem colocado em pauta a urgência do equacionamento desse embaraço de infraestrutura, que está comprometendo a própria sobrevivência do modelo ZFM. Confira.
1. Follow-Up – Em 2005, o Cieam promoveu uma pesquisa sobre os gargalos de infraestrutura do polo industrial de Manaus e aferiu que o maior embaraço é a logística dos transportes. Dez anos depois, qual é sua avaliação?
Augusto Rocha: Minha avaliação é que não evoluiu. Todavia, algumas coisas mudaram. Para melhor: os órgãos de fiscalização possuem sistemas melhores e pessoal melhor preparado; o aeroporto de Manaus possui transelevadores funcionando. Por outro lado, as perspectivas da BR-319 são menores, não temos mais porto público. Pior que tudo isso: parece faltar qualquer perspectiva de melhoria substancial da infraestrutura de transporte. No mercado, também se percebe uma concentração das empresas de transporte com capital estrangeiro, em todos os modais. Também se observa uma concentração com constante redução da concorrência, com uma redução da quantidade de empresas operando no setor. Enfim, é um cenário que não é animador, pois parece sempre que pode piorar mais.
2. FUp – Recentemente, o DNIT debatendo no Cieam a novela da esteve na entidade da indústria e demonstrou que os argumentos ambientais para a recuperação da BR-19, esclarecendo que os impedimentos ambientais foram equacionados. Você diria que os verdadeiros embaraços foram criados localmente?
AR – A cada hora rola uma estória. Falta uma decisão clara da população e dos representantes do Amazonas pela realização da obra. Sem esta decisão, o poder executivo Federal não executará a sua parte. Nem esta, nem qualquer outra.
3. FUp – Como ficou o imbróglio do projeto Norte Competitivo? Na relação entre economia e academia, quais as promessas de equacionamento de alguns gargalos logísticos para o polo industrial de Manaus?
AR – O Projeto Norte Competitivo, em seus microeixos passou a contemplar a nossa cidade e o PIM. Isso foi muito positivo, mas segue-se investindo muito pouco para a transformação da infraestrutura da região. Com respeito à visão acadêmica, o problema é o mesmo dos cursos de engenharia Engenharias: é necessário investir nas pesquisas para ampliar a infraestrutura de transportes da região. A vinculação deste problema com as carências de outras localidades na Amazônia tem sido uma aposta compartilhada com meus alunos de mestrado. Um exemplo disso é uma pesquisa recente do professor Bruno Oliveira que aponta alternativas de competitividade na diversificação logística, que inclui o transporte da soja com o aproveitamento dos contêineres vazios que saem de Manaus.
4. FUp – As empresas empenham de 13% a 20% da planilha de custos na questão logística dos transportes. Qual o papel das entidades do setor produtivo no encaminhamento desse entrave à competitividade?
AR – O papel é cobrar a redução destes custos e uma melhoria nas condições de fatores. Entendo ainda que faz parte do papel das entidades cobrar um investimento significativo e continuado para a infraestrutura, de tal forma que em alguns anos consigamos reduzir a desigualdade neste aspecto, pois prorrogar os incentivos fiscais não é suficiente para manter indústrias aqui no longo prazo. Seria infantil entender que apenas incentivos fiscais serão suficientes para manter funcionando o Polo Industrial de Manaus. Sem uma infraestrutura de transportes barata e ágil, será impossível desenvolver a região.
5. FUp – O que é o projeto ArcoNorte e quais as oportunidades que são oferecidas à inteligência competitiva no Polo Industrial de Manaus?
AR – É um olhar do Ministério dos Transportes sobre a região. Todos documentos que tive acesso até hoje indicam que não há perspectiva de crescimento da região ou necessidade de investimentos substanciais para infraestrutura. Enfim, não é prioridade para o Governo Federal fazer investimentos para transformar a realidade. A ver se isso muda no futuro.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 25.03.2015