30/08/2023 00:05
“Uma passagem aos tempos áureos da borracha até chegar ao que nós somos hoje – uma região com um parque industrial com alta tecnologia empregada, proporcionando à nossa população emprego, renda e mais qualidade de vida, educação, saúde e segurança pública, colaborando com a preservação do meio ambiente, permitindo que o estado do Amazonas tenha mais de 90% de sua floresta preservada”. Silvana Aquino, presidente da Comissão de Recursos Humanos do CIEAM
Por Alfredo Lopes (*) Coluna Follow-up BrasilAmazoniaAgora
Quem percorreu os stands e as iniciativas exuberantes da 20ª edição do Conamarh, o Congresso Amazônico de Recursos Humanos, concebido e trazido à luz pela Associação Brasileira de Recursos Humanos,pode dizer que experimentou o fator Amazônia da questão humana, o diferencial da cultura expressa nos 20 mil anos das populações originárias da floresta. Dessa vez, o Congresso foi realizado no Centro de Convenções Vasco Vasques, uma referência de iniciativas emblemáticas da região. A sensibilidade indígena de Silvana Aquino, suas raizes Mura, sintetizou a partilha da sensação/percepção/intuição humana que o evento disseminou. Os enigmas do ambiente florestal e cultural permeados pelos avanços e produtos tecnológicos produzidos a partir se transformaram um convite para - em lugar de querer decifrar é sempre melhor se entregar aos mitos da sedução.
O conceito de Seringal associado ao salto tecnológico da inteligência artificial foi orecorte genial e singular da monetização revolucionária aplicada às das folias do látex. Não fora a invenção do processo de vulcanização da borracha, porém, o ciclo econômico não ocorreria. O inventor, Charles Goodyear, por um feliz acaso, adicionou enxofre ao leite extraído da lendária Hevea brasiliensis, essa mistura conferiu maior elasticidade e durabilidade ao ouro branco extraído da árvore, a árvore da fortuna. Em tempo, prosperidade e sustentabilidade vão bem obrigado quando acompanhadas do fator humano da inovação tecnológica.
Conseguimos emplacar um ciclo de pujança, ajudamos o país a sair do atoleiro colonial contribuindo com 45% do PIB durante três décadas. Descuidamos o fato de que essa base material da transformação - o insumo elástico da seringueira - só existia na Amazônia. Pagamos caro pela distração de não beneficiarmos os insumos na região. Afinal, Manaus e Belém estavam no lugar mais estratégico para distribuição dos produtos da borracha para o Norte do Continente e para o Velho Mundo. Quando foi implantada a Universidade Livre de Manaus, em 1909, os ingleses já haviam plantado a seringueira em seus domínios asiáticos. E já estavam exportando o insumo 5 vezes mais barato do que o látex extraído nas madrugadas do sertão florestal. Nossa chance de inaugurar os alicerces do desenvolvimento sustentável escapou pelas mãos da negligência de um país, desde então, postado de cócoras e de costas para seu megatesouro, a biodiversidade da Amazônia.
A dialética poética entre o chip e o cipó da inteligência robótica, é muito mais do que um instrumento de compreensão do paradoxo de ter e não perceber no quintal de nossa casa comum as respostas para as demandas da Humanidade no que se refere à perenização da juventude, com a dermocosmética florestal, seus alimentos e suplementos sem efeitos colaterais e a farmacopeia da saúde permanente. O roteiro apenas se esboçou e segue a nos convidar insistentemente a voltar e passear na floresta com todos os seus lobos, homens e lobisomens que se perderam ao tentardesenhar os limites e as surpresas da evolução. O Seringal foi o primeiro ensaio da biotecnologia que nos reprovou. Está na hora de acertar o prumo e o ponto, através das pessoas e a favor delas.
O evento da ABRH levou-nos bem pra perto do essencial, o recurso mais nobre da evolução humana, as pessoas, para quem o darwinismo não deu a merecida atenção. O evento, uma tradição institucional da ABRH e sua habitual imersão no universo singular das condição humana, a gestão de seus valores, pendores e qualidades guardadas, faz de todo Congresso fonte incessante de descobertas que emergem das interações sociais, das aproximação individuais e das revoluções e descobertas pessoais. Poucas coisas no universo se assemelham à riqueza e às s proezas que brotam no rotina do ensino e aprendizagem na gestão e compreensão das pessoas.
Charles Darwin e seu alterego mais relevante, Alfred Wallace Russel, ambos criadores de teorias sobre a origem e evolução biológica das espécies, se detiveram marcadamente nos exemplares vegetais, renunciando às oportunidades da percepção antropológica que se destaca na biota Amazônia. São eles, os povos originários, os mais criativos da cadeia evolutiva. São eles nosso ponto de partida, travessia e chegada, depositários de uma Cultura milenar que acumulou tecnologias de sobrevivência, superação e harmonização com o universo natural. Hoje a Antropologia, buscando livrar-se de seus vícios colonialistas, se debruça sobre os achados da Genética e se deslumbra com os significados inalcançáveis das tramas do DNA que o fator humano representa.
E por falar em tramas, quem percorreu atentamente os segredos e conselhos dos vários debates, palestras e enigmas dos recursos humanos, será unânime em reconhecer o recado do evento Tramas, o modo Amazônia de ser e aparecer na tela da vida, que aqui borbulha em profusão. O que poderia ser apenas um desfile de moda indígena, com peças de coleção com o mesmo nome, ‘Tramas’, do estilista amazonense Maurício Duarte, revelou-se a mesma face que aparentemente diferencia o artesanato da tecnologia. As peças ressaltam os saberes e ancestralidades dos povos originários. Uma oportunidade única para desmontar a pobreza dos estereótipos. Duarte foi didático: “A ideia é fazer com que as pessoas entendam a importância não só da tecnologia que as grandes empresas utilizam hoje, mas das manualidades que que vem, por exemplo, dos nossos avós e da nossa construção amazônica”.
Faz todo sentido descobrir que ‘Tramas’ é um produto cultural desenvolvido principalmente no estado do Amazonas, em São Gabriel da Cachoeira, município que tem a maior concentração de povos indígenas aqui no Amazonas. O produto em desfile é fruto das “manualidades” criativas de mulheres inseridas em cinco associações e de artesãs individuais. Intuição, percepção, imaginação são os pontos dessa Trama de vida refletida na representação que as autoras fazem de si, de seu convívio e interlocução de alma e coração com as vidas que a rodeiam e que em todasfluem e refluem em intensidades originais. Transformar em investigação sociológica a fenomenologia que dai emerge é um desafio para a academia e a economia se quiser conhecer, aprender, compreender o fator humano, suas potencialidades, talentos e promessas. Sem sombra de dúvidas, o recurso mais precioso da sociobiodiversidade, signo de intuição disruptiva que descreve a esfinge humana da Amazônia que é preciso decifrar para chegar em algum lugar.
Muito simbólico que as origens da implantação da sessão Amazonas da ABRH tenham ocorrido no ambiente CIEAM, assim como a realização de seus eventos sempre encontra acolhida nos associados da entidade. Importa lembrar o Conamarh é um dos maiores eventos do Brasil sobre gestão de pessoas e questões relacionadas ao ambiente corporativo, no calendário da Associação Brasileira de Recursos Humanos. Por isso, “Temos como missão valorizar, respeitar e manter a marca ABRH Amazonas como referência na região na área de gestão de pessoas e organizações. Com o tema deste ano propomos uma viagem sobre a nossa própria história da economia do Amazonas. Uma passagem aos tempos áureos da borracha até chegar ao que nós somos hoje – uma região com um parque industrial com alta tecnologia empregada proporcionando à nossa população emprego, renda e mais qualidade de vida, educação, saúde e segurança pública, colaborando com a preservação do meio ambiente, permitindo que o estado do Amazonas tenha mais de 90% de sua floresta preservada”, finaliza Silvana Aquino, a presidente da ABRH-AM e responsável pela Comissão de Recursos Humanos do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.