03/03/2016 20:01
Talvez não tenhamos detalhes de arroubos a destacar na trajetória do guerreiro Athaydes Mariano Felix, até porque os guerreiros de verdade não precisam de destaque individual quando se irmanam a seus pares, transpiram os mesmos ideais, comungam das mesmas inquietações e tem plena consciência de que precisam de muitas guerras para sorver em conjunto o licor da vitória. E cada conquista remete sempre a uma única certeza: a luta continua. Obrigado, Athaydes, pelo testemunho de obstinação em defesa da Zona Franca, de sua interiorização e integração com uma desejável e robusta política industrial brasileira. E parabéns pelo exemplo de peleja diuturna em favor do setor produtivo do Amazonas. Sentiremos sua falta, mas sua lembrança estará presente, sempre é quando, estiverem em jogo os destinos de nossa terra. Descansa em paz, dileto companheiro!!!
CIEAM entra no debate
Propositor insistente da busca de novos caminhos, modulações alternativas da economia local e regional, o presidente do CIEAM, Wilson Périco, já fez saber ao país que este modelo para se manter hígido, respeitado, integrado a política ambiental, industrial e de ciência e tecnologia do país, precisa diversificar. Foi nesse contexto que o líder empresarial apontou algumas sugestões e questionamentos, a seguir listadas, na discussão da Matriz Econômica e Ambiental do Amazonas. E o fez a partir da seguinte questão: o que a indústria espera e pode contribuir com esta iniciativa do poder público na busca de Novas modulações econômicas para o Amazonas?
“EXPECTATIVAS E CONTRIBUIÇÕES DA INDÚSTRIA:
1. Queremos, sobretudo, a construção das novas oportunidades de emprego e renda, que o aproveitamento da vocação de negócios regionais pode oferecer. É duro carregar o ônus do desemprego, como se isso fosse responsabilidade do empreendedor. Com novos empregos, a economia volta a rodar e a apontar o caminho da recuperação. Temos boas notícias da iniciativa do Banco do Povo que está promovendo ações de crédito na capital e no interior para abrir espaços de pequenos empreendimentos com os recursos da Afeam, a agência estadual de fomento, que utiliza recursos do FMPES.
2. Nesse contexto, a nova matriz econômica ambiental precisa ser mais econômica que ambiental, afinal, não há como cuidar do meio ambiente com o desemprego. Desconhecemos mecanismos de preservação ambiental que dispensa a base econômica. A legislação ambiental no Amazonas precisa ser olhada do ponto de vista do fator humano. É ridículo, para não dizer obscuro, obstar a modernização portuária alegando risco de comprometer a sobrevivência do morcego pescador, como já foi argumentado por técnicos do órgão ambiental local.
3. Temos referências promissoras para a produção de agricultura com base tecnológica de caráter orgânico, pois esta é a via inteligente para atender às exigências de segurança alimentar do mercado Por isso, as novas matrizes no setor de alimentos podem integrar-se, como faz o Peru, na produção de agricultura orgânica, numa integração inteligente e até publicitária com a agenda de desenvolvimento, sustentável e global.
4. Integrar-se com as políticas públicas nacionais – infelizmente, já é um outro departamento, pois inexiste integração, muito menos política pública que inclua a economia da ZFM e nem disposição da Pasta do Desenvolvimento em recomendar parcerias com as políticas de diversificação e interiorização deste modelo. É mais fácil, além de preocupante e deprimente, recomendar que as empresas brasileiras invistam no Paraguai, algo escabroso se detectado entre as ações de um Ministério. O Amazonas segue a própria sina de um Estado apartado, excluído do Programa Nacional de Banda Larga e transformado em exportador de recursos para os cofres federais.
5. Iremos a lugar algum com a Nova matriz Econômica Ambiental do Amazonas, se continuar o boicote da conexão rodoviária do Estado com o restante do país, com a recuperação da BR 319, cujos inimigos federais contam com aliados locais. Chega de enrolação e hipocrisia, em nome de interesses inconfessos! Chega de confisco das verbas aqui arrecadadas. Essas verbas, diz a Lei: “Os recursos provenientes da TSA serão destinados exclusivamente ao custeio e às atividades fins da Suframa, obedecidas as prioridades por ela estabelecidas”. Portanto, deveriam estar sendo utilizadas para diversificação do desenvolvimento, com inovação tecnológica e biotecnológica das cadeias setoriais. Chega de boicote às alternativas energéticas, notadamente aquela que aproveita as vocações regionais de produção de energia limpa, como a alternativa solar. Chega de fogueira das vaidades que impediram nos últimos 10, 11 anos o florescimento do polo de bioindústria com o fortalecimento institucional e funcional do Centro de Biotecnologia da Amazônia.
6. E chega, sobretudo, desta visão tacanha que descreve a postura de alguns gestores e pesquisadores que tratam P&D como extensão de seus domicílios bancários e antídotos das próprias crises existenciais. A hora é de somar, conjugar o verbo construir na primeira do plural, identificar os avanços ensaiados, valorizar o saber local, não apenas acadêmico, mas especialmente o saber tradicional, ponto de partida de investigação e ação focada no interesse social e no mercado que desembarca na prosperidade.
7. A indústria precisa apostar na própria competitividade, para recuperar seus ativos e resguardar sua sobrevivência, reduzindo sua folha de custos com o controle de qualidade, comprometida com o transporte das mercadorias na buraqueira do Distrito Industrial. Uma folha de custos que alcança 20% com as despesas da logística de transportes. E ainda: o custo elevado da alimentação, quase toda comprada em outros estados, quando poderia ser produzida no Distrito Agropecuário da Suframa.
8. Com recursos da indústria, estimulados pela Afeam, os produtores de guaraná orgânico de Urucará desenvolveram biodefensivos agrícolas, ou seja, além do guaraná e da Marapuama, eles dominam a técnica dos bioinseticidas. Existem, em ação carente de respaldo, os produtores de café do Nova Olinda. Pouca gente sabe que o cafeeiro veio primeiramente para a Amazônia – Café Palheta – depois levado para o Sudeste porque aqui já havia a pujança da borracha.
9. Alegra-nos representar um segmento que recolheu, nos últimos 5 anos, R$ 6,8 bilhões para os fundos de interiorização, turismo e qualificação técnica e académica da juventude. "Queremos continuar participando na gestão desses recursos, promover a inovação, sugerir qualificações técnicas coerentes, incentivar o plantio racional e extensivo da seringueira para atender a indústria local, conversar e aprender com os plantadores de castanheiras e pupunheiras, e oferecer tecnologia de bioindústria de cosméticos, nutracêuticos, fitoterápicos, insumos dos extratos vegetais para a bioindústria do Polo Industrial de Manaus.
10. E só assim, alinhados, poderemos dialogar, permanentemente, sobre o significado da integração entre os segmentos sociais para resguardar a competitividade empresarial na Matriz Econômica Ambiental do Amazonas".
==========================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 03.03.3016