30/06/2017 10:53
Numa apresentação brilhante, recheada de informações emblemáticas e elucidativas sobre os gargalos e embaraços de Infraestrutura do setor produtivo da Zona Franca de Manaus, o engenheiro Saleh Hamdeh, titular do Observatório da ZFM em Brasília, FIEAM/CIEAM, pôs o dedo na ferida, tanto durante o XXII Fórum dos Executivos da CNI, e Federações das Indústrias de todo o Brasil, 16 de junho, como na Audiência Pública, na Comissão de Infraestrutura do Senado Federal, dia 20 último. Nesse clima de surpresas e reviravoltas diárias onde uma decisão é válida até que se publique a próxima anulando seu teor e relevância, as colocações de Hamdeh mostraram, sobretudo aos representantes das empresas e aos empresários presentes, que não se pode transferir ao poder público qualquer expectativa ou tomadas de decisão envolvendo a rotina, os estragos e as sequelas da crise. A prioridade do poder neste momento é segurar a cadeira, a caneta e o controle do Tesouro. De concreto e estratégico está a certeza de que vem mais imposto por aí. A notícia incomoda e inquieta com intensidade adicional quando a sociedade assiste às razões da má gestão do erário que empurraram o país a recessão. Má e fraudulenta, a gestão do país – na medida em que o núcleo duro está integralmente implicado em graves acusações – não tem autoridade moral para propor a imoralidade de mais imposto para repor recursos fraudados. Nesse bolo, ninguém duvida, a riqueza gerada no Polo Industrial de Manaus está incluída. Os recursos que deveriam reduzir as desigualdades regionais foram “contingenciados”, uma forma elegante de descrever um confisco ilegal. Em sua apresentação, Saleh inicia com o relato da BR 319, uma novela absurda, ícone do descaso logístico do governo federal. O Amazonas, a despeito da pobreza de seus índices de desenvolvimento humano, está entre os estados que carrega o país nas costas. Recolhe três vezes mais do que recebe nas contrapartidas federais. Mesmo assim, juntamente com Roraima, está isolado do resto do país por via terrestre. As licenças, mais uma vez, mostraram que as desculpas ecológicas esconderam o descaso econômico. Não há impedimento e o estado tem um crédito ambiental superavitário. Para Saleh, a própria classe política parece que não está interessada em priorizar a equação do problema.
O sol sobre a peneira
Em seu relato, Saleh mostrou que o processo de esvaziamento se deu bem antes da crise. O faturamento das empresas, camuflado nos indicadores da Suframa desde sempre, com dados nominais de performance em real estão sendo revelados, no portal do CIEAM, em dólar, desde 2013. Na real, porém, o faturamento geral das indústrias caiu 43,31% em dólar nos últimos 5 anos. E o uso da moeda americana fala por si, posto que as transações de compra e venda na cadeia produtiva se baliza por ela. Não adianta tapar o sol com a peneira. Outro indicador eloquente são a perda de 35 mil postos de trabalho, desde o final de 2014. Considerando que cada posto movimenta outros cinco, essa perda representa, numa estimativa discreta, 200 mil postos de trabalho a menos. Algumas iniciativas de fomento, com um naco discreto dos R$ 1,3 bilhão repassado pelo estado, geraram operações de crédito e geração compensatórias de postos de trabalho. Entretanto, o poder público não foi capaz de fazer sua parte, ajudando a ZFM a exercer com dinamismo seu papel de indutora do desenvolvimento. Na realidade, o estado, aqui traduzido por poder público federal e estadual. As sequelas estão aí. Investimentos fixos estagnado nos últimos 10 anos impediram que o modelo de maior indução de crescimento regional ficasse estagnado.
Pressão predatória
E essa desindustrialização desembarca em seu contraponto: a pressão do desmatamento. Como gerar emprego numa planta industrial abandonada, esburacada, desprovida de investimentos em energia de baixo custo, logística competitiva e comunicação de dados e voz com preços adequados? A recuperação da BR 319 é fator de competitividade do setor produtivo, um diferencial que, em vez de ameaçar o fator ambiental, permitiria gerar a riqueza necessária à sua conservação. Na semana passada, diante do mundo abalado pelas mudanças climáticas, o presidente Temer levou um "chega para lá" da Noruega e perdeu metade dos recursos que deveriam ser investidos na Amazônia com o Fundo de U$ 2 bilhões. O Brasil, sequer soube usar, e se danou a desmatar. Como alertar o poder público para esse grito de presta atenção como tem buscado fazer o trabalho vital e essencial do Observatório da ZFM em Brasília?
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 30.06.2017