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Covid-19, a descoberta do outro

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17/12/2020 11:26

Fonte: Brasil Amazônia Agora

Covid-19, a descoberta do outro

“Especialistas em Inteligência Emocional, uma área muito procurada por gestores em processo de auto-avaliação, escolheram a empatia como o conceito que precisa ser integrado na vida, por toda a vida, isto é, capacitar-se para compreender o outro para além do que se vê.”

Alfredo Lopes
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A literatura referencial da Psicologia é abundante nas especulações/investigações sobre a importância do outro como mecanismo da descoberta do eu, condição básica para compreender o papel e os distúrbios da relação entre as pessoas e suas potencialidades. Debruçar-se sobre a alteridade, portanto, nos ajuda a rebuscar espaços esquecidos de nosso autoconhecimento. Esta, entretanto, não é a única vantagem de dedicar ao outro tempo e importância bem maior do que costumamos dispensar quando interagimos no cotidiano.

Chegando perto do enigma

Dizem ainda os clássicos de literatura universal – as melhores viagens ao universo fascinante das emoções e comportamento humano, conduzidas por romancistas, ensaístas, – que a descoberta do outro é a condição fundamental de aproximação do enigma humano. É assim que se dá a decodificação dos parâmetros da alteridade, bem como o conhecimento de si mesmo, dos próprios conflitos, contradições e frustrações. E mais, as grandes obras literárias da história da humanidade, são grandes na medida em que nos fazem mergulhar na condição humana dos personagens, transformados em outro pela narrativa do autor.

Alfredo Lopes é editor-geral do BrasilAmazoniaAgora e consultor do CIEAM.

Educação sentimental

A descoberta do outro pode ser exemplificada, com radicalidade e fascínio, na obra de Gustave Flaubert, especialmente, em Educação Sentimental, um dos 100 melhores romances de todos os tempos segundo importantes literatos contemporâneos. Flaubert se revela como um dos primeiros psicólogos da literatura do Século XIX, ao descrever o que pensa, teme e sofre o personagem da narrativa, Frederic Moreau, um caipira francês que frequenta as altas rodas parisienses das conspirações que antecederam a Revolução Francesa. Ele se apaixona pela esposa do banqueiro que o acolheu sob recomendação de um amigo. Mais tarde, Jean Paul Sartre vai se inspirar no conterrâneo para sentenciar, a propósito desta trama: “O inferno são os outros”.

A fome e o risco do outro

Trazendo para 2020, o ano que nunca vai acabar porque teremos a vida inteira para entender o que se deu com a pandemia, suas lições e adversidades, poderíamos dizer que alguns movimentos em nossa cidade foram provocados pela importância da descoberta do outro. Por que? O que movimentou a junção virtual das pessoas, considerando o veto preventivo às reuniões presenciais senão a necessidade do outro como condição essencial e pessoal de sobrevivência? Entidades de classe, pesquisadores, agentes públicos, parlamentares se misturam nessa festa de uns e outros. E foi exatamente a percepção da importância do outro que levou esses atores sociais a imaginar o universo tenebroso dos profissionais de saúde, ou o cinturão desesperado da fome dos despossuídos, cutucando em todos o sentimento mais nobre da espécie humana, que as vezes se embrutece, mas dele não consegue se livrar: a Solidariedade. O amor em movimento como disse alguém.

O caminho sumiu

Pessoas que se foram por conta da pandemia e outros que tombaram ao tentar salvá-las. E os que se foram levaram consigo um pouco de nós. Eram nossa alteridade. A conversa preciosa interrompida, um projeto abortado, uma festa de conquista ou uma declaração de afeto ou amor reprimido… E isso não ficou pelo caminho, porque para muitos o caminho sumiu, junto com o parceiro de caminhada. E se a dor da perda, a fragilidade, a insegurança nos ameaçaram a resistência, debruçar-se sobre as sugestões do outro, nos fizeram teimar em seguir, resistir, cooperar, comungar, crescer, acolher…é infindo o manancial de saídas, respostas, sentidos e razões para o existir quando se descobre o outro.

Dignidade do aprendiz

O outro, na verdade, é cada um de nós. É a construção da minha dignidade, aquela que se mistura com a sensibilidade humilde do aprendiz que assimila a dimensão do seu semelhante. É a consciência de si mesmo como resultado das interações. Antipáticas ou empáticas, depende apenas de quanto alcançamos expandir em nosso acolhimento. Especialistas em Inteligência Emocional, uma área muito procurado por gestores em processo de auto-avaliação, escolheram a empatia como o conceito que precisa ser integrado na vida, por toda a vida, isto é, capacitar-se para compreender o outro para além do que se vê. As relações estremecidas se romperam ou foram refeitas e fortalecidas nessa pandemia, segundo pesquisas realizadas por Unicamp e USP, sobre aumento de psicopatia com a COVID-19. Alguns estudos apontam mais de 50% dos entrevistados reportaram depressão, insônia, tristeza ou, outros tantos, em contrapartida, no mesmo período, entrevistados se aproximaram mais nas relações familiares. Podemos especular sobre os ganhos de quem adotou ou debochou dessa descoberta de vida, vital e determinante, que chamamos de outro para quem olho e com quem me envolvo para o salutar exercício de compartilhar.

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