12/02/2020 09:42
Entrevista com José Jorge do Nascimento Júnior, presidente da Eletros. Numa conversa descontraída e muito densa por parte do entrevistado, o presidente da Eletros, José Jorge Nascimento Júnior, recebeu a Follow-Up e percorreu alguns dos assuntos que traduzem as inquietações e expectativas do setor produtivo em tempos de insegurança jurídica e ameaças do Coronavírus. Presidente da Eletros, Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos, Jorge Júnior se divide entre São Paulo, Brasília e Manaus, além das visitas aos associados por todo opais, para administrar um setor em movimento constante evolução. Confira.
1. FOLLOW-UP: Como você analisa o risco do Coronavírus contaminar a economia do Amazonas?
JOSÉ JORGE DO NASCIMENTO JÚNIOR: Considero preocupante a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China. O desabastecimento pode trazer riscos e prejuízos, pois o país asiático é um fornecedor importante de componentes para empresas que fabricam produtos para a linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar ); linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo); e eletroportáteis ( secadores de cabelo , sanduicheira, ventiladores, entre outros). E o que mais nos preocupa com isso, é que os insumos que chegam ao Brasil por via aérea, considerados de maior valor agregado (para celulares, TV e tabletes fabricados na ZFM) são suficientes para abastecer a produção das indústrias por entre 10 a 15 dias. Em relação aos insumos que chegam ao país por via marítima, os estoques são suficientes para abastecer a produção por até 90 dias. Ou seja, podemos ter um risco de paralisação de recebimento de insumos neste momento e depois daqui a uns 3 meses, caso as coisas não se regularizem nesta semana. O fato é que a China já está com seu PIB contaminado e a indústria e o turismo mundial já se preparam para as mudanças em curso.
2. FUP: A performance do setor eletroeletrônico em 2019 causou surpresa aos próprios empresários. Entretanto, a concorrência dos importados começa a ser uma ameaça crescente. Como você analisa essa questão?
JJNJ: O mercado eletroeletrônico é extremamente competitivo e a indústria brasileira consegue atender o consumidor do Brasil mesmo não tendo o ambiente de negócios idêntico ao de outros países onde estão instaladas as empresas estrangeiras que vendem para cá. A proposta do Governo Federal de abertura comercial ou inserção comercial competitiva do Brasil, como alguns preferem chamar, deve ocorrer concomitantemente com a melhoria do ambiente de negócios no nosso país. Sem isso, a indústria nacional terá imensas dificuldades de competir com os produtos importados é isso causará a migração de investimentos para outros países e o desemprego em nosso país.
3. FUP: Em recente visita Manaus, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, deixou no ar um desestímulo a indústria local, especialmente o segmento de duas rodas, de bicicletas. Isto é um sentimento isolado ou do alto escalão do governo na sua opinião!?
JJNJ: Nem todos conhecem a realidade e a efetividade do parque industrial instalado em Manaus por isso surgem alguns comentários infundados. O Ministro Ricardo Sales após a sua declaração que criticou a ZFM retificou sua posição e reconheceu publicamente que a indústria da ZFM é importante para a geração de emprego e são esses empregos que evitam a degradação do meio ambiente. O Polo Industrial de Manaus é um dos mais importantes do país e quem o conhece o defende por sua relevância.
4. FUP: Pessoalmente você se envolveu com o problema dos PPBs, o famoso embargo de gaveta. Um atraso de muitos prejuízos aos interesses do Amazonas. Com a oportunidade do Grupo de Trabalho – GT PPB tratar deste assunto em Manaus, você acredita que a Suframa poderá transformar seu Conselho de Administração em palco das decisões que nos dizem respeito?
JJNJ: Não acredito que algum dia o Conselho de Administração da Suframa será o fórum exclusivo das decisões sobre os PPBs de produtos do PIM. Até gostaria que fosse. Fato é que devemos ter uma forma mais célere e extremamente técnica para se estabelecer ou alterar os PPBs. Acho que o CAS pode exercer um papel importante nas tramitações dos PPBs porque tem em sua composição representantes do Ministério da Economia e de Ciência e Tecnologia que são as bases do GT PPB, juntamente com a Suframa. Agora, ser o CAS o fórum exclusivo das decisões entendo que isso não deve acontecer.
5. FUP: Estamos vivendo a era do Fake News e do pósverdade. A comunicação nunca foi tão intensa, como também tão confusa. Temos sido alvo de uma campanha publicitária subliminar para demonizar a Zona Franca de Manaus e transformá-la em razão do déficit fiscal do Brasil. Como você veria uma campanha publicitária associando PIM com proteção florestal e benefício ambiental para o país e o mundo?
JJNJ: Acho que sempre
cometemos um grande erro
ao não saber como divulgar as
verdades sobre a ZFM e repelir
as mentiras, aliás, esclarecer as
mentiras apresentadas. Temos
que considerar também que
nos faltam espaços na imprensa
nacional para isso e muitas
vezes acabamos falando para
nós mesmos, ou seja, falamos
sobre a ZFM geralmente
para aqueles que conhecem
esse modelo e sabem do seu
êxito e importância para o
desenvolvimento regional,
soberania e preservação da
Amazônia. Não se pode falar
ou pensar em crescimento
econômico do país sem
pensar no desenvolvimento
sustentável da Amazônia. E
a ZFM é comprovadamente
o mais bem sucedido modelo
de ação econômica sustentável
por gerar emprego e renda,
estar dotada de uma indústria
moderna, com centros de
pesquisa de excelência e avanços
significativos na redução das
desigualdades regionais
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