12/08/2021 06:55
“E qual é o papel deste Conselho, além de sua inestimável contribuição ao crescimento socioeconômico regional? Penso que é integrar-se ao mutirão de recusa desta anomalia, ajudar a criar um conselho gestor da riqueza aqui produzida com a finalidade de aqui ser aplicada, para o desenvolvimento integral, integrado e sustentável de um novo Brasil a partir da Amazônia”.
Por Nelson Azevedo(*)
Para que serve em última instância um conselho de profissionais liberais em economia da definição de rumos de nosso desenvolvimento regional. Na verdade, entre tantas finalidades e benefícios para seus membros e para o tecido social , vamos encontrar na própria palavra Conselho a síntese dos ganhos, acertos e avanços institucionais que repercutem na vida de cada um de nós.
Aprendendo a ouvir
O dicionário se vale de três conceitos para traduzir a palavra Conselho: opinião, prudência e sabedoria. Vejamos o quanto isso se aplica e está presente na história deste admirável Conselho Regional de Economistas do Amazonas. Eis um lugar muito especial em que aprendemos a ouvir opiniões e, assim procedendo, temos a oportunidade de crescer, e expandir no cotidiano e na bagagem de informações e de inquietações pelo conhecimento que nos liberta e pela mudança que podemos implementar e nos habilitar a melhor servir à sociedade . Afinal, economia é principalmente uma Ciência Social.
Maturidade Institucional
Ao priorizarmos a audição de opiniões com nossos parceiros, desenvolvemos habilidades de prudência, que advém da consciência e relevância do aprender mais do que impor nossa opinião. Passamos a descobrir que a prudência é a ante-sala da aprendizagem a partir do que o outro tem a dizer. No final das contas, essa dinâmica de aprendizagem alinhada pelo crescimento e expansão do conhecimento desembarca no estuário generoso da sabedoria, resultado do somatório de nossas experiências compartilhadas e alimentadas pelo nutritivo exercício do pertencimento. É sobre o Conselho, o nosso conselho, que aqui estamos a exaltar e felicitar sua maturidade institucional.
Pedregulhos, sobressaltos e perseguições
A caminhada para quem faz, vive e defende a importância da economia do Amazonas e sua presença na Amazônia Ocidental é apinhada de pedregulhos, sobressaltos, perseguições e incompreensões. Somos submetidos a gráficos e tabelas de gastos fiscais e confundidos como unidade da Federação privilegiada por favorecimento tributário quando na verdade estamos impregnados pelo preconceito nacional do desconhecimento e maledicência.
Confisco Institucional
A rigor, nossa compensação tributária já foi superior a 20% do bolo nacional dos incentivos. Hoje está abaixo de 7,5% e o poder público, cada dia que passa, busca reduzir mais essa contrapartida que nos permite atuar numa região remota, açoitada por uma infraestrutura precária, pelo confisco da riqueza aqui gerada e quer Constituição determina seja aqui aplicada para a redução das desigualdades regionais.
Mutilação oportunista
Ao longo do cinquentenário deste Conselho, vimos o programa Zona Franca de Manaus ser mutilado pela caneta do oportunismo de determinados setores e da indiferença federal. O Brasil aguarda desde sempre a formulação de um projeto Brasil para nossa floresta, para abraçar um futuro de bioprosperidade e inovação tecnológica como requisitos da mudança. Temos a oportunidade/potencialidade de oferecer ao país uma economia de sustentabilidade e de pujança em todos os setores a partir da nossa diversidade biológica. O mundo civilizado gostaria de ter uma chance semelhante àquela que temos oferecido ao Brasil. E não haveria necessidade de qualquer desembolso pois geramos muita riqueza. Estamos entre os oito estados superavitários do país. Infelizmente somos impedidos de aplicar esta riqueza na finalidade prevista na Carta Magna. Só assim poderíamos reduzir as inaceitáveis desigualdades entre o norte e o sul do Brasil.
Destaques de IDHs negativos
Há 50 anos, esses recursos, destinados à pesquisa e ao desenvolvimento regional, qualificação dos nossos jovens, construção de parques tecnológicos e biotecnológicos, são confiscados para outros fins.
Um olhar mais atento ao portal da Receita Federal vai descobrir que somos o quinto maior contribuinte da União, apesar de termos 11 municípios entre os 50 piores IDH do país. E qual é o papel deste Conselho, além de sua inestimável contribuição ao crescimento socioeconômico? Penso que é integrar-se ao mutirão de recusa desta anomalia, ajudar a criar um conselho gestor da riqueza aqui produzida com a finalidade de aqui ser aplicada, para o desenvolvimento integral, integrado e sustentável de um novo Brasil a partir da Amazônia.
Pandemia versos economia
É imperativo relatar um conjunto de iniciativas que surgiram ao longo de 20 conferências a partir de março do ano passado no Comitê COVID 19: Indústria ZFM. Era preciso combater a pandemia e ao mesmo tempo resguardar a economia para evitar o caos generalizado. Em parceria com o os professores de Economia da Fundação Getúlio Vargas dos especialistas locais, as entidades da indústria, que haviam formulado em 2018, o documento Zona Franca de Manaus: impactos, efetividade e oportunidades, foi firmado um conjunto de princípios, conceitos e desafios para diversificar a economia do Amazonas e Amazônia Ocidental, visando um novo momento para a redução das desigualdades regionais. Foi assim que surgiram, desde março último reuniões bissemanais com diversas instituições de P&D&I, especialistas do Brasil e com autoridades locais, sobre a Amazônia, sua economia, gestão e alternativas de desenvolvimento sustentável, notadamente com o manejo de nossa diversidade biológica.
São os *Diálogos da Amazônia*, debates e exposições de alto nível sobre diversificação de nossa economia.
Amazônia do futuro
No final de julho, foi lançado o documento: Amazônia do futuro, retomando as contribuições que resultaram dos debates e estudos dos últimos três anos. Essas iniciativas e seus resultados envolveram grande parte dos economistas locais, especialmente aqueles focados em nosso programa econômico de desenvolvimento regional. Estão aí colocadas as alternativas de expansão econômica e a justificativa de uma gestão sustentável que inclua setores da sociedade para que a riqueza aqui gerada pelo programa Zona Franca de Manaus seja aplicada na região. Temos insistido nessa tecla e temos certeza que só lograremos bons resultados com a adesão de entidades como o nosso Conselho de Economia, bem como a classe política e demais instituições da sociedade civil.
Ampliando mutirão de parcerias
Temos acompanhado de perto, a propósito, o trabalho dedicado da atual superintendência da Suframa, buscando diversificar iniciativas e modulações econômicas para desconcentrar o nosso programa de desenvolvimento e alcançar todos os estados integrantes da Amazônia Ocidental. Com certeza, só alcançaremos a mudança de que
precisamos, se soubermos dar as mãos entre nós primeiramente, aos parceiros regionais e a classe política que representa as aspirações da comunidade amazônica. Vida longa ao CORECON, nosso glorioso conselho regional de economia do Amazonas
(*) Nelson é economista, conselheiro do CORECON, do CIEAM e vice presidente da FIEAM