12/07/2019 10:15
Por que os empresários, promotores do desenvolvimento da região, da geração de emprego e renda, precisam assumir o protagonismo do setor produtivo diante das decisões e prioridades da gestão pública?
Esta é uma questão permanente no debate e inquietação de Luiz Augusto Barreto Rocha. Empresário nativo – Bicho da Seda e Fio De Agua – e extremamente ativo nas conexões corporativas do Brasil. Trata-se de militante obstinado pela integração mais próxima com os demais estados brasileiros, notadamente São Paulo, com quem estabelecemos o maior volume de transações do setor produtivo. Ele não tira o pé da tomada quando o assunto é defesa da economia do Amazonas, dos acertos e direitos da ZFM, a Zona Franca de Manaus, de onde tiramos o pão nosso de todo dia. Eleito por aclamação para dirigir o Conselho Superior doCIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, Luiz Augusto recebeu a Follow Up para contar seus planos, compartilhados com seus pares, e jogar algumas luzes e entusiasmo neste momento crucial que o Amazonas e a região atravessam. Confira.
Follow Up Sua presença na direção do Conselho Superior do CIEAM inaugura novas contribuições no CIEAM, uma entidade que tem promovido uma ação mais organizada do setor produtivo da ZFM. Gostaria que você descrevesse sua visão de nossa economia, principais dificuldades e desafios?
Luiz Augusto Barreto Rocha – Nossa economia é cheia de potencialidades e oportunidades. Temos tudo para ser uma potência econômica reconhecida pela Brasil. As dificuldades são centradas na reduzida interação e de contatos com os demais Estados do país, tanto no ambiente empresarial, quanto nos ambientes institucionais das entidades de classe e demais organizações, como centros de pesquisa e desenvolvimento de produtos ou órgãos de governo. Há muito por ser aprendido e muita cooperação a ser feita. Nossa empresa tem desenvolvido parcerias de projetos com o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), com o Senai/CETIQT e outras instituições focadas em inovação. Vejo com muito bons olhos as oportunidades que se apresentam às indústrias do Amazonas com o advento da Indústria 4.0. Aqui está nosso propósito e destino. Temos que transformar as dificuldades em janelas de oportunidades e ensaio na superação diária dos desafios. E um dos maiores desafios de nossa região é convidar e acolher parcerias dos demais estados do Brasil. Nos diversos polos existentes, no adensamento e diversificação produtiva, temos um cardápio imenso de oportunidades para oferecer. Temos, pois, que estreitar laços, propor e celebrar parcerias, para aproveitar e trocar experiências com todo o país. Em suma e – parafraseando uma fábula conhecida, criação de um grande amigo – precisamos convidar o Brasil a passear na floresta!
Follow Up – Como Conselheiro da ABIT, Associação Brasileira da IndústriaTêxtil, a combativa e efetiva entidade do setor têxtil e de confecções brasileiros, quais suas propostas de integração e gestão institucional no mandato que ora se inicia?
Luiz Augusto – Estamos há muitos anos no Conselho da ABIT, motivo de orgulho, graças a um convite do então Presidente Paulo Skaf. Ali coordenamos ainda o Comitê Setorial Nacional de Roupas Profissionais. Aprendemos ao participar voluntariamente destas entidades associativas empresariais a definir, estudar e equacionar as pautas do setor. Na ABIT, sob a batuta valente e altiva do presidente Fernando Pimentel, amparado em sólida base técnica e econômica, numa estruturação que tem nos permitido enfrentar e vencer as sucessivas batalhas do cotidiano. O presidente Wilson Périco é testemunha dessa jornada e assim pretendemos caminhar para ampliar a base técnica do Cieam, para agregar mais valor ao associado. Entidades associativas são bem-sucedidas quando conseguem se pagar. Não há como empresas admitirem contribuições espontâneas sem contrapartidas. E é assim que queremos contribuir mais fortemente com nossa Cieam e com a indústria amazonense, trazendo as lições que ajudamos a construir nas outras entidades em que temos atuado.
Follow Up – O cenário das medidas liberais que se vislumbra no novo governo do Brasil tem sido preocupante para a economia do Amazonas. Como podemos assegurar a continuidade do modelo ZFM, suas vantagens competitivas e seu aparato jurídico?
Luiz Augusto – Com muita vigilância e especialmente com muita comunicação e assertividade. Teremos que exercer ainda mais fortemente a unidade em torno de grandes objetivos para a região. Podemos ter divergências ideológicas, mas temos múltiplas razões de resguardo da unidade. Uma delas é e a necessidade de geração de empregos e arrecadação pública. Governos mudam, mas o Estado permanece. Empresas precisam ser entidades perenes e apenas com a cooperação e com diálogo permanente e assertivo é que poderemos proteger e salvar a indústria Amazonense. Alegra-me muito a presença de pessoas no Governo com visão de Estado e que pensam nossa região como um dos centros de desenvolvimento nacional. Precisamos disseminar esta visão de mundo, dos parceiros que acreditam numa civilização amazônica, já em processo de construção. Vamos trabalhar na ampliação deste movimento, com atuação firme, constante e incansável numa pauta construtiva e compartilhada. Só assim podemos salvaguardar nossos direitos constitucionais e históricos. Menciono recente reunião do Comitê de Assuntos Tributários Estratégicos da Sefaz, um momento precioso de articulação governo e entidades empresariais – cada um em seu papel – de forma assertiva. Assim fica mais fácil mostrar ao país nossas garantias constitucionais e a contrapartida que oferecemos. O contribuinte brasileiro precisa conhecer os acertos, avanços e benefícios deste projeto de Estado chamado Zona Franca de Manaus. Esta é a premissa básica para a luta de integração de nossa economia ao desafio do desenvolvimento nacional.
Follow Up – No âmbito estadual um primeiro movimento aproximou as entidades do setor produtivo do novo governo. Como a nova gestão do Conselho que você preside pretende com tratar com o poder local temas como PPB, BR-319, Fundos Estaduais, enfim, os temas cotidianos da Indústria?
Luiz Augusto – Com determinação, o Cieam possui um posicionamento histórico que será mantido e ampliado. Tem sido efetiva e competente a condução e liderança dos presidentes de nossa entidade, desde Maurício Loureiro, quanto Wilson Périco e todos os que os antecederam, com respaldo participativo dos membros do Conselho Superior. Por isso este Centro é considerado a entidade associativa empresarial mais importante da nossa região. Neste momento, com um novo olhar, e novas atitudes, impregnadas pela disposição ao diálogo, sempre atento ao nosso aparato jurídico. São convicções e experiências que estarão a serviço do CIEAM. Que o Senhor nos proteja na inspiração das melhores formas de ajudar e aperfeiçoar propósitos para continuar essa memória de luta. A reconstrução da BR-319 e a simplificação do processo de obtenção de PPBs são pleitos insistentes e permanentes da entidade. De resto, precisamos exigir o respeito às Leis e esse portfólio de acertos de nossa trajetória.
Follow Up – Na sua opinião, o que significa para as entidades de classe assumir de forma coerente o protagonismo civil?
Luiz Augusto – Este é o mote. Precisamos assumir nossa condição de atores responsáveis pela construção do desenvolvimento do Amazonas e os reflexos benéficos para o país aí contido. Assumir o protagonismo é bandeira sagrada palavra do grupo eleito pelos associados por aclamação para dirigir o CIEAM. A sociedade clama pelo protagonismo civil onde estamos inseridos, pois reconhece a relevância social de nossos negócios. Ademais, nossa sobrevivência depende de assumirmos firmemente essa posição. Nosso futuro nunca está garantido. A cada amanhecer precisamos pagar nossos custos fixos. Precisamos colocar este espírito do empresário nos corações e mentes de cada brasileiro e – porque não – de cada político, na medida em que a classe integre o universo de trabalhadores e empresários que ganham a vida honestamente, com o suor do rosto. Precisamos facilitar a vida destas pessoas, que devem protagonizar. Temos que interferir nessa equação preocupante onde os governos recolhem muitos impostos e devolve ao cidadão e aos empreendedores uma contrapartida desigual. A gestão pública precisa, de fato, e em nome do interesse público, ser transparente e participativa. Simples assim.
Follow Up – Como ampliar nossas comunicações com o país, mostrando as contribuições Estado do Amazonas ao contribuinte e ao país?
Luiz Augusto – Vamos ampliar os trabalhos já iniciados em Brasília pelo CIEAM em parceria com a FIEAM. Precisamos considerar a hipótese de cooperar e construir mais parcerias com as entidades empresariais de São Paulo, não apenas por sua importância econômica, mas porque este e o destino da absoluta maioria de nossos produtos. Os principais negócios do Brasil estão em São Paulo. Nessa aproximação maior cabe ao CIEAM ocupar espaço de entendimentos com a FIESP e toda e qualquer entidade ou instituição dispostas a debater o Brasil, as imensas possibilidades de partilha que temos a oferecer e a aprender. Vamos atrás de fortalecer o que nos une, sem se deter diante do que nos possa atrapalhar. A aproximação dos centros de negócios nacionais é muito promissora para o Estado do Amazonas. Somos parte de um país chamado Brasil, não inimigos! O que precisamos é – além das conexões que já temos em Brasília, junto a CNI – considerar também uma presença mais forte em SP, para que possamos transformar a realidade e encontrar aliados que compartilhem o sonho de um país desenvolvido para todos que ganham a vida por meio do trabalho sério e de negócios no segmento industrial. Muito por fazer, e isso é ótimo, mãos a obra!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 12.07.2019