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Brasil, 50 anos depois

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26/03/2014 06:56

É importante – sob todos os pontos de vista – meditar sobre o Brasil depois de meio século depois do golpe militar de 1964. Os saudosistas foram às ruas e a magnitude do movimento apenas mostra que o país mudou. Foram 30 manifestantes às ruas de Manaus para celebrar a passeata que desembarcou no golpe. Uma adesão não muito diferente de outros quadrantes pátrios. Vivemos, ainda bem, uma Democracia embora nossas instituições ainda não tenham evoluído a patamares consolidados. Para os males da Democracia, porém, o melhor remédio é mais Democracia. A imprensa é livre, porém, com bolsões constrangedores de anomalia editorial. E a classe política atravessa uma crise sem precedentes de credibilidade. 70% das pessoas querem mudança no cenário que aí está, dizem as pesquisas após as manifestações de junho do ano passado. As taxas de corrupção são elevadas e a impunidade campeia. Entraremos, com efeito, na sétima eleição presidencial desde que os militares se recolheram aos quarteis e, aos poucos, admitem rever e debater as distorções e sequelas do obscurantismo deixado. O governo militar, com o apoio inicial da população que acreditou em sua intervenção temporária, revitalizou a economia do Brasil e olhou a Amazônia com visão estratégica. Implantou a ZFM entre outras ações de ocupação e integração, a despeito dos atropelos de obras como a Transamazônica, sob a desculpa de integrar para não entregar a floresta para a cobiça estrangeira. Nestes 50 anos, porém, a Amazônia ainda aguarda um olhar comprometido de integração em que a economia regional esteja articulada com uma política industrial, científica, tecnológica, ambiental, cultural, tanto nacional como continental.    

A greve continua

A mídia nacional começa a detectar o volume e os reflexos dos estragos, tanto em Manaus, em toda a Amazônia Ocidental e sua articulação com a economia nacional. Um prato cheio para o intervencionismo vesgo se manifestar e desembarcar medidas alopradas de equacionamento da questão. Nesta segunda-feira, através de uma entrevista com a imprensa, os servidores da Suframa comunicaram que a greve continua. O superintendente da Suframa, Thomaz Nogueira, convidou a todos para uma reunião em que apresentou dois cenários. O primeiro, precedido de argumentações sobre os estragos, foi um pedido para que voltassem ao trabalho e confiassem num compromisso pessoal de que haveria esforços para o atendimento dos pleitos. No segundo, em sendo decidida a continuidade da greve, ele alertou para o enfrentamento imprevisível por parte do governo federal, onde os servidores poderiam sair prejudicados. Os servidores insistiram num acordo verbal do superintendente e alguma garantia de avanços concretos para a classe. Resultado: a greve continua.

Evolução do esvaziamento

Este último esforço da direção da Suframa apenas ilustra um esvaziamento que começa lá atrás. Bem antes da paralisação. Os grevistas incluem, aliás, esse fato em sua bandeira de luta. Ironicamente estão oferecendo os subsídios para acelerar seu desfecho através do caos. Colocam, assim, num jogo perigoso de articulações incontroláveis, o próprio emprego e de milhares de outras pessoas, as famílias envolvidas. Não apenas, é claro, dos 120 ou 130 mil do polo industrial de Manaus. Neste momento, sem mercadorias para vender, os comerciantes de toda a região começam a dispensar vendedores. Estes só ganham se venderem. Se sem insumos a indústria não produz, o comércio não vende o que não existe, ou não é entregue, por isso encolhe o faturamento e deixa, é claro, de recolher os impostos que pagam os fornecedores dos equipamentos públicos, hospitais, escolas, creches, segurança e moradia. Os caminhoneiros ganham por produtividade e agenda. Há centenas de braços cruzados. São mais de 1500 carretas sem lugar para estacionar nem condições de cumprir suas funções.

Autonomia precária

Independentemente da greve, há tempos a autarquia está descendo acelerada a rampa da falta de autonomia. Uma canetada tirou a Zona Franca comercial, vetou o uso das Taxas Administrativas para as finalidades originais de equipar e fazer funcionar as instalações, promover atividades produtivas nos municípios de sua governança. O abandono do Distrito Agropecuário, a insegurança na manutenção no Suporte de Tecnologia da Informação, na impotência para a liberação do PPB, no fracasso para a interiorização do desenvolvimento, na gestão das verbas de P&D... e por aí vai a paralisia institucional. Quem vai ganhar com isso? Embora os funcionários neguem, já há desabastecimento sim de alguns produtos incluindo o setor alimentação. E sobrepreço, basta ir ao supermercado. A paralisação de grande parte dos serviços de Vistoria de Mercadorias para indústria e comércio, em todos os estados de abrangência da ZFM se junta ao acompanhamento de Projetos Industriais e Licenciamento de Importação, entre outros danos. A justiça federal, provocada, igualmente, por um Mandado de Segurança impetrado pelo CDLM, já se manifestou em relação ao comércio, como o fez o Centro da Indústria, para garantir o funcionamento de, pelo menos, 30% das atividades de seus associados.

Compromisso e diálogo

A entidade assumiu e reitera o compromisso de integrar o movimento de pressão junto ao governo federal, pois reconhece a justeza das reivindicações dos servidores. Mas insiste em recomendar o entendimento, reafirmar a grandeza de propósitos do gestor da Suframa e de sua equipe. Entendemos que a luta alcançou a divulgação de que precisava, para incomodar a letargia federal e sua recusa de retomar a negociação. É preciso debater novos mecanismos de entendimento para assegurar direitos, manter a sinergia com a sociedade e trazê-la como aliada de uma luta maior de resguardar os interesses dos diversos segmentos envolvidos.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes.  cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 26.03.2014

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