12/06/2020 10:21
“Precisamos avançar na formação de capital humano e na redução dos entraves (legais e institucionais) ao empreendedorismo amazônico sustentável.” Denis Minev.
No dia 22 de maio último, Dia Internacional da Diversidade Biológica, o economista e empresário, Denis Minev, na qualidade de anfitrião, acolheu um debate, via webinar com o objetivo de responder a seguinte questão “Como destravar a Bioeconomia na Amazônia?”. Publicamos a seguir os principais momentos dessa importante indagação, organizada pelo Idesam com apoio do portal Página 22, divulgada com o título Bioeconomia na Amazônia e o cenário Covid-19
COMO DESTRAVAR A BIOECONOMIA NA AMAZÔNIA?
A chegada da temporada de queimadas, o aumento do desmate e a crise da Covid-19 exigem senso de urgência para alavancar uma nova economia baseada nos ativos da biodiversidade. Na temporada de clima seco que começa em junho e vai até outubro, na Amazônia, mais uma preocupação se soma ao desenrolar da Covid-19 pós-crise: as queimadas na floresta, que neste período devem voltar como destaque no noticiário nacional e internacional. Contra elas, entra em cena uma nova arma visível nos céus: um drone acoplado a um sistema inteligente de sensores, em desenvolvimento na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), promete processar dados como temperatura do fogo, gases, umidade do ar e velocidade dos ventos para subsidiar o planejamento e as decisões das brigadas no campo, com ganhos além dos ambientais.
A inovação ilustra o potencial de uma nova matriz econômica associada à manutenção da floresta em pé como fonte sustentável de riquezas, com possibilidade de melhoria também dos indicadores sociais. No início do debate, a tecnologia voltada ao controle das queimadas foi apresentada como case de inovação que contribui para evitar, no futuro não muito distante, as imagens de árvores em chamas que preocupam o mundo diante da influência da região na mudança climática.
Aumento do desmatamento
No ano passado, os satélites registraram quase 90 mil focos de incêndio na Amazônia, 30% mais do que em 2018, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – números relacionados ao aumento do desmatamento. “Além da maior agilidade e eficácia na prevenção de queimadas, a vantagem está no menor custo, obtido pela nacionalização da tecnologia”, afirma o biólogo Jair Maia, pesquisador da UEA que adapta às novas demandas o trabalho com drones antes utilizados no estudo da copa das árvores. Junto ao casal Patrícia e Guilherme Guimarães – ela, doutora em clima e ambiente; ele, dedicado à engenharia de software –, Maia soma expertise para testar o primeiro protótipo em campo, em parceria com a Defesa Civil, no município de Humaitá (AM), durante a nova temporada de queimadas que se aproxima. Posteriormente, o plano é aperfeiçoar o equipamento em novas versões para que incorpore Inteligência Artificial, seja operado em centrais de comando à distância e ganhe maior espectro de aplicações, inclusive na agricultura de precisão e controle da qualidade do ar em fábricas, expandindo-se no mercado como um negócio baseado em soluções a favor da sustentabilidade.
Há avanços na legislação e novos arranjos institucionais de apoio para que histórias assim se repliquem, atraiam mais investimentos e alcancem escala proporcional ao desafio de unir a agenda econômica à ambiental, na Amazônia. “Mas é preciso conectar institutos de pesquisa e tecnologia ao atual sistema de fomento à bioeconomia, preparando-os para atendimento às necessidades das empresas em novos produtos, processos e serviços com visão de mercado”, afirma Carlos Gabriel Koury, diretor técnico do Idesam, instituição que coordena o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), vinculado à Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa).
O encontro da informática com a biotecnologia
O mecanismo pelo qual o sistema com drone antiqueimada recebeu investimentos para tomar impulso inicial foi lançado há um ano e meio. Prevê o repasse de recursos por empresas do Polo Industrial de Manaus obrigadas pela Lei de Informática a destinar 5% do faturamento à pesquisa tecnológica, fatia que representa R$ 700 milhões ao ano e estava restrita às inovações do mundo digital.
A partir de agora, o montante – contrapartida das empresas do setor pelos incentivos fiscais que recebem – poderá beneficiar também a biotecnologia. Entre os sete eixos tecnológicos do PPBio aptos a acessar parte desses valores, estão a prospecção de princípios ativos, a bioinformática, o tratamento biológico de resíduos e os negócios de impacto ambiental e social – apoio que pode ocorrer por meio de diferentes modelos de parceria.
Algumas empresas de informática investidoras (indústrias de celulares, computadores, tablets, periféricos, e eletroeletrônicos) almejam apenas visibilidade institucional ao patrocinar o uso sustentável dos recursos naturais na Amazônia; outras buscam soluções voltadas à utilização de bioinsumos e a processos internos de menor impacto ambiental, como substituição de fontes energéticas sujas, além de acesso a ferramentas de gestão em sustentabilidade. Há, ainda, a modalidade de participação acionária em negócios inovadores de startups como forma de diversificar a carteira de investimentos e, desta forma, ampliar alternativas diante de novas demandas de mercado.
“Podemos fomentar cadeias produtivas de espécies amazônicas, como o açaí e a andiroba, mas também o ecossistema de serviços para que elas se desenvolvam, incluindo soluções para superar os desafios logísticos, por exemplo”, explica Koury.
Ponte entre desenvolvimento de tecnologia e empresas investidoras
No primeiro ano, o PPBio recebeu 73 projetos de universidades e centros de pesquisa para apresentação a companhias de informática do Polo Industrial de Manaus. Até o momento, por meio dessa ponte unindo desenvolvimento de tecnologia e empresas investidoras, foram captados R$ 9,5 milhões. Entre os projetos beneficiados estão os produtos à base de açaí e copaíba da nova linha de creme facial Energetic Face, da marca de cosméticos naturais Simbioze Amazônica, mantida por uma startup instalada no Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), em Manaus. A novidade tem o selo Halal para venda ao mercado árabe.
A expectativa agora é avançar em tecnologias baseadas em insumos da biodiversidade e soluções customizadas para enfrentamento à Covid-19 na Amazônia Ocidental e Amapá, região de influência da Zona Franca, e ajudar na qualidade de vida pós-crise, conforme portaria específica recentemente publicada pela Suframa, com regras facilitadas frente a situação de emergência.
Nove projetos foram cadastrados até o início de junho e a previsão é chegar a um investimento entre R$ 30 milhões e R$ 50 milhões até o final do ano – recursos também oriundos da Lei de Informática. “É lamentável dar marcha ré e discutir o desmatamento como entrave à bioeconomia, apesar das leis e mecanismos de fomento existentes”, ressalta Koury, para quem o papel das empresas é fundamental no momento.