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“Bioeconomia avança no Amazonas, ainda bem!”

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31/05/2019 10:41

Adrian Martin Pohlit é um americano nascido na Pensilvânia e formado na Califórnia, com passagem pelo Vale do Silício. Ele aqui chegou há quase três décadas e por aqui pretende ficar, pelo volume de desafios científicos que tem enfrentado e pela sintonia fina com nossa região. Adrian pode ser considerado mais “caboco” do que muito nativo que ainda não descobriu as maravilhas de sua terra. Com a multiplicação de iniciativas na área de Bioeconomia, uma de suas paixões, ele já incorporou as lições de sua rápida passagem pelo CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, e tem-se movimentado, nos limites de sua influência, para aproximar pesquisa, desenvolvimento e mercado, ou seja, academia, economia e negócios. Confira!

Follow Up – Nos próximos dia 6 e 7, Manaus vai abrigar mais uma Conferência Internacional sobre Processos Inovativos da Amazônia, para fomentar gestão e oportunidades de bionegócios de nosso banco de germoplasma. Qual a leitura que vc faz dessa e de tantas movimentações em direção à nossa biodiversidade?

ADRIAN MARTIN POHLIT – Na semana passada, a reitoria da UEA promoveu um Seminário Brasil-Alemanha de Bioeconomia Plantas Medicinais, “Conectando Florestas, Ciência e Negócios”, um evento em que o prof. Cleinaldo mostrou que está antenado e motivado a integrar este esforço coletivo de promover Bioeconomia no Amazonas. No evento deu para sentir o forte “encontrão” entre culturas científicas e tecnológicas distintas da Alemanha e da Amazônia...culturas que se vão se misturar, provavelmente, como água e óleo, se não encontrar um surfactante adequado para criar uma mistura homogênea nanoformulada lucrativa. Surfactante é um agente tensoativo, substância que reduz a tensão superficial do líquido presente nos alvéolos. Esses eventos são significativas e necessários para avançarmos nos desafios de uma nova matriz econômica. Alguns sugerem que seria mais fácil levar as plantas do Amazonas para desenvolvê-las em um local onde se possa plantar sem desmatar. Faltou chamar pessoal da tão temida área de silvicultura (forestry), Manejo Florestal Sustentável , para mostrar como se pode plantar árvores e ganhar muito dinheiro com a madeira e outros produtos.

FUp - Em sua recente passagem pela gestão do Centro de Biotecnologia da Amazônia você experimentou as dificuldades da burocracia brasileira para flexibilizar os processos de economia florestal. Quais as lições mais importantes que você aprendeu?

AMP – A primeira lição é que, por mais difícil que seja esse diálogo de cientistas, engenheiros e outros profissionais técnicos com as empresas e empresários, dentro das instituições públicas precisamos ter estruturas técnico-cientificas que identificam e resolvem problemas técnicos das empresas relacionadas a produção e valoração da biodiversidade. Isso é algo urgente para implantar. A segunda lição diz respeito à Inovação incremental (em vez de mirabolante, revolucionária) pois é mais fácil para conseguir resultados na falta de recursos e para gerar competências dentro da academia e na empresas. Acredito que estamos avançando na criação de um novo ambiente de negócios. Temos que multiplicar esses Núcleos de Inovação Tecnológica. Esses NITs seriam os locais onde as instituições de ensino e pesquisa concentrariam seus esforços para promover inovação tecnológica e disponibilizar a tecnologia para a Sociedade. Também, o NIT funcionária como um balcão para promover interações formais com o setor privado. Os NITs no caso de algumas instituições estão ligados a incubadoras de empresas, por exemplo.

FUp - Você é um dos químicos mais destacados do Brasil tanto pela prospecção de conhecimento na Amazônia, descoberta de anti-maláricos, por exemplo. Destaque, também, na insistência de maior aproximação entre academia e mercado. Como você imagina uma estrutura inteligente e eficiente na gestão de novos negócios de Bioeconomia?

AMP - Em primeiro lugar, entendo que precisamos ajustar realmente o comportamento das academias regionais, se quisermos um polo de bioindústria aqui. Precisamos incentivar teses de mestrado, especialização e doutorado que estejam focadas em questões que as empresas precisam resolver. Ou seja, precisamos manter atualizado o cardápio de necessidades das empresas e as pessoas precisam usar a criatividade para gerar publicações de bom nível, com análises rigorosas de questões técnicas. Sem descuidar que somos academia, e temos que manter excelência acadêmica. Por outro lado, o foco dos trabalhos poderia ser a questão que estão impedindo a qualidade dos produtos, as oportunidades e alternativas presentes nas castanheiras, por exemplo, a maneira como as pessoas fazem determinadas escolhas e resultados. Isso tudo poderia ser realmente focado em projetos e estudos acadêmicos para atender as necessidades das empresas, e as empresas deveriam financiar este tipo de estudo dos que tem competência nessa área. Temos um exemplo bem recente, seria bom lembrar da empresa Transire, que é mais conhecida como produção de máquinas que fazem débito e crédito. A empresa inaugurou recentemente em Manaus o Instituto Transire de Tecnologia, para pesquisas em tecnologia e biotecnologia. A empresa investiu R$ 22 milhões para abrir o instituto. E até o final do ano aplicará outros R$ 40 milhões, especialmente na montagem de laboratórios. O dinheiro vem de isenção fiscal, dentro do limite de até 5% da receita bruta da empresa. Eles resolveram investir aqui na região em produtos naturais. Contrataram três doutores recém formados, para abraçar a causa da biodiversidade. Precisamos de mais empreendedores desta envergadura. Precisamos entender que tipo de mercado se pretende atingir e seguir as lideranças, seguir bons exemplos de pessoas que estão fazendo o que nós precisamos, investindo, construindo laboratórios e procurando inteligentemente fazer dinheiro com a biodiversidade

FUp - O empresário Sérgio Vergueiro plantou mais de 3 milhões de mudas Castanha do Brasil, , Copaíba, Cumaru, Pupunha entre outras espécies de alto valor comercial no município de Itacoatiara. Plantou e está aberto a parcerias de inovação. Que negócios sustentáveis e rentáveis um país empreendedor iria promover nesta amontoado de oportunidades?

AMP – Estive diversas vezes com o empresário Sergio Vergueiro e conheço bem o trabalho que é desenvolvido em Itacoatiara na Fazenda Aruanã. Na verdade, conheço uma boa parte, pois é extensa a área cultivado e essa atividade que sempre achei muito louvável. Inclusive coloquei essa opinião publicamente para as autoridades federais. É um pouco frustrante para mim, porque o foco do Sérgio sempre foi no plantio. Faltou estrutura ou presença das instituições acadêmicas para envolver pessoas interessados em explorar o rico material que não é aproveitado. São muitos insumos além dos frutos da castanheira, a pupunha, o palmito. Interessante seria encostar pessoas que fizessem estudo dos resíduos. Existem recursos para pagar esses estudos para que realmente sejam conhecidos. Que sejam produzidos relatórios sobre o que poderia está extraindo desse material que, a princípio, vai deteriorar. O que fazer com a árvore depois que você tira os palmitos, ou com a madeira da castanheira que tem cascas, folhas, muito produto químico. Estou colaborando no que posso fazer, mas é algo que precisa ser estimulado pelo lado da empresa, das empresas. A academia pode focar nessas questões, mas em algum momento a empresa tem que ter condições de fazer mais do que simplesmente plantar, é preciso inovar, sair um pouco da área de certeza e arriscar junto com os jovens empresários. É o caso de envolver empresas pequenas para explorar resíduos, e ver se é possível fazer dinheiro. Claro que é. Uma parte dessa economia é especulativa, não pode ser apenas concreta, na venda de açaí por exemplo, pode ficar no concreto, mas isso é questão de agricultura. Mais a economia de que se está falando é de bioeconomia. Temos que prospectar, de tomar alguns riscos com coisas que tem mercado, mesmo sem demanda imediata. E então temos que criar essa demanda e usar a capacidade, competência em gerar moléculas de boa qualidade, e mostrar que essas moléculas são ricas e servem para varias coisas, além de serem consumidas pelos seres humanos milênios como parte da tradição local. A Bioeconomia, enfim, avança no Amazonas, ainda bem!

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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicada no Jornal do Commercio do dia 31.05.2019


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