19/02/2021 08:42
Ilustrar a importância da fabricação da bicicleta foi o tema da campanha de esclarecimento pedagógico/elucidativo lançada em dezembro pela entidade que congrega as empresas que fabricam bicicletas na Amazônia, a Abraciclo. As fábricas ajudam a manter a floresta em pé, ninguém mais duvida. São empresas que não poluem e que fabricam veículos carbono zero e geram mais de 14 mil empregos. São famílias que não dependem de desmatar a floresta para sobreviver. E gerar emprego é a mais digna forma de fazer a estatística da vulnerabilidade social se transformar em exercício da cidadania. Pois bem, este segmento, um dos que mais envaidece os amazonenses, acaba de ser penalizado por medidas do governo federal publicadas pela Camex – Câmara de Comércio Exterior, órgão do Ministério da Economia, nesta quarta-feira, que reduz substantivamente as taxas de importação de bicicletas.
Vertente política
“Vivemos no Amazonas um dos momentos mais críticos da nossa História. Uma crise sanitária sem precedentes com efeitos econômicos gravíssimos. Estamos mais do que nunca dependentes dos empregos do Polo Industrial de Manaus. A medida da Camex inviabiliza o polo de bicicletas da Zona Franca de Manaus e transfere empregos da ZFM para a China. Diante disso, já reunimos a bancada virtualmente e vamos apresentar um projeto de decreto legislativo para derrubar a medida, disse o deputado Marcelo Ramos, ao convocar virtualmente a bancada do Amazonas para elaborar um Decreto Legislativo a respeito.
Solidariedade do setor produtivo
Esta iniciativa do Ministério da Economia, coerente com as promessas de deletar a economia do Amazonas, já manifesta em várias oportunidades, não surgiu neste início de ano, onde Manaus e o Amazonas são manchetes diárias de tragédias da pandemia, com a falta de insumos, oxigênio, pasmem todos!, e o aumento crescente do desemprego e da fome. Aliás, a Abraciclo, Associação Brasileira de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares, integra o conjunto de entidades da indústria de Manaus que produz/ providencia gratuitamente para os trabalhadores da saúde da região no combate à COVID-19 e já recolheu mais de 250 toneladas de alimentos para segmentos em extrema vulnerabilidade social. A relação do Amazonas com o Brasil, a propósito, parece que não tem jeito. É sempre delicada, pois algumas autoridades, por desconhecerem dados essenciais de nossa Economia, acabam por tomar medidas que causam danos à região e ao país. Bicicletas fabricadas na Amazônia, a bola da vez, decididamente, só fazem bem ao Brasil.
Fundo perdido...
No ano passado, o ministro do Meio Ambiente, quando se preparava para vir a Manaus instalar uma repartição daquela Pasta, já demonstrou seu desconhecimento sobre o polo de Duas Rodas, precisamente o segmento de bicicletas. A respeito, o presidente do CIEAM, Centro da Indústria do Estado Amazonas, Wilson Périco, teceu ponderações a respeito. “Na ocasião, ministro detalhou os itens dos planos reativos do Governo à pressão internacional: Força Nacional Ambiental, Secretaria da Amazônia e Conselho da Amazônia, quando soltou a seguinte pérola, ‘... em vez de continuar a dar subsídios a fundo perdido para o cara fabricar bicicleta na Amazônia, vamos fazer coisas que realmente precisam estar na Amazônia’”.
... para quem?
A afirmação gerou reações de toda parte, resumidas pelo líder empresarial. Referindo-se ao fato de que o Amazonas é um dos cinco estados que mais recolhe recursos para o governo federal – que abocanha 75% da riqueza apurada em Manaus - Périco explicou: “Quem recebe dinheiro a fundo perdido não são as empresas do Polo Industrial de Manaus. Nem o povo do Amazonas. Já lhe dissemos isso. O ministro desconhece que não há dinheiro público no programa de desenvolvimento chamado Zona Franca de Manaus. Aqui o setor privado construiu por conta e risco, este generoso (principalmente para a República) modelo de desenvolvimento, aplaudido pelo mundo todo e demonizado historicamente por seguidos governos desta Nação”.
Sem indústria o Brasil vira “a roça do mundo”
Na opinião de Saleh Hamdeh, do Observatório da ZFM em Brasília, “...a medida expressa pela Resolução GECEX Nº 159, de 17 de fevereiro de 2021, de Desgravação Tarifária para Bicicletas, não causa surpresa do ponto de vista da desgravação, mas sim, da forma abrupta como foi feita, sem debater com o segmento, muito menos ouvir os estados e suas representações no Parlamento”. Mais um sintoma de que a Agenda oculta é a desindustrialização. Em recente fórum da indústria, o presidente do IPEA foi muito claro em afirmar que “nosso caminho não é indústria manufatureira, a não ser aquela ligada ao beneficiamento de produtos naturais, minérios”. A esse respeito, Robson Andrade, presidente da CNI foi bem explícito, “O Brasil pode se transformar na ‘roça do mundo’ se abrir mão da indústria manufatureira. Na lógica da desindustrialização, várias indústrias de peso estão levantando o acampamento. O setor de concentrados, o que mais exporta na ZFM é que mais gera empregos no interior do Estado, com múltiplas iniciativas, atua sob a espada da Dâmocles. Mesma situação se deu com o segmento dos empregos, de carregadores de bateria e outros itens que estão no limite do insustentável.
Soberania sobre a Amazônia
Em agosto de 2019, quando esteve em Manaus com
o presidente da República,
o ministro Paulo Guedes foi
enfático ao propor a transformação do Polo Industrial
de Manaus numa referência mundial de negócios da
Bioeconomia, em função da
pujança de nossa biodiversidade. Sabe o que foi feito
nessa pretensão? Melhor não
responder. Preferimos, portanto, o caminho do diálogo, a
opção do entendimento e ficar
com o reconhecimento e compromisso, expresso na mesma
cerimônia pelo presidente Jair
Bolsonaro. “Enquanto existir
Zona Franca de Manaus temos garantia de que o Brasil
terá soberania sobre a Amazônia”. E é exatamente isso
que temos feito e resguardado há 54 anos na Amazônia
Ocidental, a partir do Polo
Industrial de Manaus, para
reduzir as desigualdades regionais do Brasil.
*esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado em: https://brasilamazoniaagora.com.br/bicicleta-fabri...