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Basta de improvisação

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04/02/2015 13:04

Na semana passada, avançamos a reflexão sobre o imbróglio da bioindústria, a vocação maior de negócios deste bioma amazônico, lembrando que o Centro de Biotecnologia da Amazônia teve suas instalações pagas pelas empresas do polo industrial através das taxas da Suframa, que desembolsou aproximadamente R$ 120 milhões para a encrenca. E destacamos que nenhuma entidade do setor foi consultada sobre as razões, vantagens e cronograma da parceria envolvendo CBA e sua estrutura milionária de laboratórios, e o Inmetro, uma autarquia do Ministério do Desenvolvimento cuja razão de existir é “...executar as políticas nacionais de metrologia e da qualidade, cuidar da observância das normas técnicas e legais, no que se refere às unidades de medida, métodos de medição, medidas materializadas, instrumentos de medição e produtos pré-medidos”. Nenhum esclarecimento, também, sobre o modelo de gestão, o tal do CNPJ, um cadastro que confere existência formal, jurídica e legal à iniciativa. No limite, se os promotores desse arranjo improvisado tivessem consultado os patrocinadores da edificação física e institucional do CBA, teria ouvido a sugestão da troca de nome e de gestão para toda essa encrenca. A troca de nome se deve à perda da credibilidade da iniciativa, aguardada e protelada há mais de uma década. Como promover parcerias com uma entidade juridicamente fictícia? E qual é a expertise da Suframa para gerenciar ações dessa natureza e envergadura? Basta de improvisação e amadorismo, os tempos são outros e não temos direito de dilapidar patrimônios, projetos e a esperança de um desenvolvimento regional integrado, inteligente e eficaz.

Ciência, Matemática e Linguagem


Começa a tomar corpo o debate e o detalhamento dos estudos de viabilidade do Parque Tecnológico de Produtos Regionais para o Polo Industrial de Manaus, uma iniciativa entre outras para adensar o relacionamento entre academia e economia, mediatizado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas. Com duas demandas bem pontuais que merecem estudos e precisão rigorosa de seus alcances e significados, o grupo formado pelos atores desta promissora parceria priorizou levantar o perfil dos recursos humanos disponíveis e as condições necessárias para qualificar os atores dessas proposições e projeções institucionais. Há uma escassez preocupante de massa crítica para levar adiante projetos mais ambiciosos e sofisticados na área de inovação tecnológica. E isso remete a uma política pública e indaga se é mais eficaz financiar a vinda de celebridades da pesquisa ou patrocinar a qualificação de jovens talentos no exterior. Há problemas nas duas alternativas e há experiências bem sucedidas ou proposições tentadoras para equacionar a questão. Afinal, entre os 50 países mais destacados em desenvolvimento, o Brasil ocupa os últimos lugares em Ciência, Matemática e Linguagem. Não é possível ir muito longe sem equacionar, na base, essas questões vitais.

Jovens cientistas

Para incentivar jovens estudantes americanos a dedicarem suas carreiras profissionais à ciência, tecnologia, engenharia e matemática, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama propôs recrutar um milhão de mentores em ciência, de órgãos públicos e privados do país, que terão a tarefa de orientar jovens estudantes. O anúncio foi feito em abril último, durante a III Feira Anual de Ciências da Casa Branca. Em resposta, dez ONGs educacionais e grandes empresas de tecnologia – entre elas SanDisk, Cognizant e Cisco Systems – se propuseram a se tornar fundadoras de um programa de mentores chamado US2020. Elas querem que 20% da força de trabalho de cada empresa se comprometa a 20 horas anuais de trabalho voluntário até 2020. E prometeram fornecer mais de US$ 2 milhões em capital privado para financiar o lançamento do programa.

Pátria das águas


Enquanto o Sudeste do Brasil experimenta a tragédia da escassez das águas que açoita o Nordeste desde sempre, com riscos reais e inevitáveis de comprometimento na produção de alimentos, é importante realçar a oferta de água da região amazônica, a pátria das águas, cujo espelho disponível permitiria avançar numa das atividades mais promissoras na produção de proteínas: a aquicultura. Aqui está a aposta para o desenvolvimento social e econômico de populações e de regiões menos favorecidas, um desafio que carece de planejamento, adequações e investimentos com perspectiva de retorno em prazos mais curtos. Os resultados produtivos, segundo as agências de extensão e fomento, são alcançados mais rapidamente sob o império das águas. De acordo com a Embrapa, suas ações no setor há mais de quatro décadas, as ciências agropecuárias que revolucionaram os campos brasileiros investigando os domínios da terra têm hoje um novo desafio, a conquista das águas. Nessa nova fronteira agropecuária está a aposta para o desenvolvimento social de populações carentes, o crescimento econômico de regiões menos favorecidas, a virada da balança comercial brasileira de pescados e o fornecimento veloz de proteína animal de qualidade.

A resposta produtiva


A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) acredita que a criação de organismos aquáticos, a aquicultura, é a mais rápida das atividades agropecuárias em termos de resultados produtivos e uma das poucas capazes de responder com folga ao crescimento populacional mundial, o qual pressiona um dos maiores desafios do planeta, o combate à fome. A atividade, no entanto, exige abundância de um bem natural cada vez mais raro, a água, e, no caso de peixes e crustáceos, a presença de matérias-primas para a alimentação desses animais. O Brasil conta com ambos e ainda possui uma biodiversidade aquática capaz de fazer inveja a qualquer outra nação do mundo. Estão em território brasileiro nada menos do que 12% da água doce do planeta e o País figura entre os maiores produtores mundiais de grãos, o que garantiria farto fornecimento para a indústria de rações. Não por acaso, a maior instituição financiadora do setor agropecuário do mundo, o banco holandês Rabobank, publicou no início de 2013 um estudo no qual coloca o Brasil entre os futuros gigantes do setor.

O anão da aquicultura


Contudo, o desafio para chegar até lá é tão grande quanto o potencial propalado. Em 2011, o Brasil importou 291 mil toneladas a mais de pescados do que exportou, gerando um déficit de US$ 992 milhões. Em outras palavras, o maior exportador de carne bovina do mundo ainda é um anão na produção de proteína animal gerada nas águas. Entre as razões para isso está o fato de o País ter passado por um despertar tardio para esse setor. Há pouco mais de uma década começou-se a estruturar a aquicultura, fato que levou o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) a criar a Secretaria Especial de Pesca e Aquicultura, em 2003, a qual se tornaria seis anos depois, em 2009, o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). A pesquisa científica acompanhou esses movimentos. Em 2007, a Embrapa lançou o projeto AquaBrasil, reunindo esforços de pesquisa das principais instituições brasileiras que estudavam organismos aquáticos. Componente da carteira Macroprograma 1 da Empresa, que reúne trabalhos voltados a grandes desafios nacionais, o AquaBrasil deu sinergia a vários laboratórios e cientistas de todo o País que trabalhavam de maneira isolada. O projeto também foi um catalisador de avanços ao concentrar as investigações em poucas espécies de interesse econômico para o Brasil: tambaqui (Colossoma macropomum), cachara ou surubim (Pseudoplatystoma reticulatum), tilápia Gift (Oreochromis niloticus) e camarão marinho (Litopenaues vannamei). Eis um caminho para o Amazonas, que importa 90% da proteína que produz. Só a demanda das refeições de 120 mil trabalhadores do polo industrial já asseguraria o mercado de discretos planos de negócios. Uma saída que já está demonstrada e consolidada em Rondônia, Roraima e outros vizinhos mais ousados. Voltaremos!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 04.02.2015

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