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Coluna do CIEAM

Barraca da cidadania

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22/10/2014 14:51

Simbólica e eloquente a multidão que lotou as dependências da Barraca do Bixiga, neste último fim de semana, nas dependências do SESI – Clube do Trabalhador, situado na Zona Leste de Manaus e transformado numa Pizzaria da Solidariedade. Embalado pela barulhenta festividade italiana, o evento completou 30 anos de assídua presença fraterna de todos aqueles que veem nesta iniciativa o sentido da partilha e da comunhão de sentimentos em favor do próximo. Organizado pelos empreendedores do polo industrial de Manaus, que se transformam em garçons, pizzaiolos, lavadores de pratos e faxineiros, além de doadores, a Barraca já integra a paisagem da solidariedade manauara entre outras ações em favor de segmentos sociais que demandam por acolhida sincera e comunhão efetiva. E isso, é bom lembrar, tem foro intimo, independe de status econômico, social, étnico ou religioso dos participantes. É exercício espontâneo de cidadania que se engrandece na proporção exponencial da descoberta de que há maior alegria em se doar do que receber.

Contrato e responsabilidade social


A cobrança recente por maior filantropia em favor da municipalidade – por parte do prefeito de Manaus – na direção das empresas do polo industrial – nada tem a ver com o departamento cívico acima descrito. Por isso soou embaraçosa e ensejou algumas reações. Algumas assustadas outras aborrecidas por sugerir descompromisso das empresas com as demandas do tecido social. Isso é absolutamente improcedente, à luz dos indicadores revelados neste espaço das generosas e extraordinárias contribuições da indústria para o cidadão. Um dos axiomas da filosofia política no desafio de compreensão do mundo recomenda frieza de raciocínio no reconhecimento das contradições e atribuições dos diversos atores no cotidiano em questão. E é nesse contexto que não cabe cobrar filantropia nas relações de produção baseada no lucro – dentro dos parâmetros clássicos da relação capitalista. Faze-lo é constranger as regras estabelecidas e levar o discurso para além daquilo que está estipulado pelo contrato social. Afinal, filantropia é um sentimento que faz com que os indivíduos ajudem outras pessoas, algo completamente inerente aos valores éticos e padrões morais de cada indivíduo. Às empresas só cabe cobrar a responsabilidade social. É relevante anotar que filantropia é um termo de origem grega, que significa "amor à humanidade". É a atitude de ajudar ao próximo, de fazer caridade, seja ela através de donativos, roupas, comida, dinheiro, ou presença festiva e proativa para arrecadar fundos de doação solidária. Desse ponto de vista, o prefeito revelou desconhecer múltiplas ações em pleno vapor humanitário por parte dos empresários e de seus representantes. Filantropia, entretanto, não é responsabilidade social das empresas, esta sim uma ação pública que deve nortear e legitimar eventuais cobranças em seus deslizes. No fim das contas de cada ano, e considerando que as empresas trabalham mais de 5 meses por ano para pagar impostos, as indústrias de Manaus recolheram quase R$ 3 bilhões em 2013, em contribuições e contrapartida dos benefícios fiscais recebidos. É bem verdade que esses repasses se destinam ao poder público, federal e estadual. E é essa lógica distributiva que precisa ser revista, analisando melhor o grito de alerta do prefeito. Topamos sentar e conversar com quem de direito para redimensionar e melhor atender as demandas cívicas desta questão.

ZFM – sustentabilidade em questão


Os caminhos da sustentabilidade ambiental no Amazonas a partir do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) e de seu Polo Industrial foram a pauta de um relevante debate nesta segunda-feira (20), no auditório da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), envolvendo representantes da Comissão da União Europeia e cinco profissionais da Apex-Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, que atua para promover os produtos e serviços brasileiros no exterior e atrair investimentos estrangeiros para setores estratégicos da economia brasileira. Com apresentações da Suframa, da Universidade do Estado do Amazonas, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), da Secretaria de Estado de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (Seplan), o foco do trabalho concentrou-se no painel “Zona Franca de Manaus: conservação ambiental na Amazônia com desenvolvimento”. Os professores da Ufam, Alexandre Rivas e Mauro Thury, apresentaram o estudo que resultou no livro “Impacto virtuoso do Polo Industrial de Manaus sobre a proteção da floresta amazônica: discurso ou fato?”, desenvolvido nos anos de 2009 e 2010 para cientificamente constatar que o PIM contribui para evitar o desmatamento da floresta amazônica. Essa “externalidade ambiental positiva”, não intencional, uma vez que o modelo foi criado essencialmente com a ideia do desenvolvimento e da integração nacional, desencadeou produzindo benefícios não esperados, garantindo a preservação de 97,9% da floresta no Amazonas.

Academia e economia


O reitor da UEA, Cleinaldo Costa, fez uma apresentação sobre a atuação da universidade no ensino, na pesquisa e na inovação, lembrando que são recursos das empresas do PIM que mantém a instituição. Ele informou ainda que a UEA criou uma comissão permanente junto ao Centro e à Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Cieam e Fieam), cujo foco é a inovação com vistas às necessidades industriais. “A inovação nada mais é do que transformar o conhecimento em dinheiro, fechar o elo da cadeia do conhecimento e temos universidade e indústria, ambas trabalhando juntas para este objetivo”. O secretário de Planejamento, Airton Claudino, classificou a ZFM como o único modelo de desenvolvimento que o Amazonas possui. “Temos diversas atividades econômicas, mas nenhuma apresenta ainda resultados que possam ser transformadores da realidade local e também não há ainda no Estado outra atividade que impacte menos o ambiente do que a ZFM. O desafio é justamente esse, de viabilizarmos novos modelos econômicos sustentáveis”. Fabienne Alcaraz, membro da Comissão Europeia que, este ano, passou a integrar a unidade encarregada de relações internacionais com as Américas, quis entender mais as parcerias públicas e privadas que a SUFRAMA faz para incrementar a administração do modelo e, destacou a receptividade e pelo empenho de todos os participantes no esclarecimento da equipe sobre as questões relativas ao modelo Zona Franca de Manaus, alvo de recente questionamento por parte da organização europeia.

Retratos do descaso


Os servidores da Suframa relatam o descumprimento da maioria dos acordos assinados com a União, em fevereiro último. À parte a compensação, entre os meses de abril e outubro, pelos servidores, das horas não trabalhadas durante o período da paralisação, todo o resto foi literalmente abandonado. Quanto às melhorias salariais, foi criado um Grupo de Trabalho com o Sindicato, Suframa, MDIC, MPOG, CONDSEF, SINDSEP e CUT, cujo prazo expira em 04/11/2014. Na última reunião, realizada em 16/7/2014, em Brasília, o SINDFRAMA apresentou um estudo técnico sobre as atribuições dos servidores da autarquia, bem como uma proposta de criação de carreira, que passou para apreciação do Ministério do Planejamento - MPOG. Uma nova reunião estava previamente agendada para acontecer no dia 16/9/2014. Porém, alegando a ausência de tempo hábil para análise da proposta dos servidores, a reunião foi confirmada pelo MDIC para o dia 1º/10/2014, sendo adiada novamente, desta vez pelo MPOG, para o dia 21/10/2014. Em contato com o MPOG na semana passada, o SINDFRAMA foi informado da SUSPENSÃO DA REUNIÃO DO GRUPO DE TRABALHO, sem previsão de data. Diante dos constantes adiamentos da reunião, acreditando que o acordo não será cumprido pelo Governo Federal, os servidores da Suframa decidiram por uma manifestação na próxima quarta-feira, dia 22 de outubro, das 8 às 11h, em todas as suas unidades. Reconhecemos, do ponto de vista das empresas, a justeza e legitimidade das reivindicações e torcemos por seu encaminhamento. Esclarecemos, porém, que a paralisação do início do ano penalizou as empresas – com amplos reflexos no tecido social – que estão fazendo sua parte.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 22.10.2014

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