06/04/2018 09:16
Entrevista com Paulo Abreu, Diretor-Executivo do Simplast.
Na Sessão Histórica do Superior Tribunal Federal desta quarta-feira, um recado explícito foi dado a economia do Amazonas. Ao priorizar a jurisprudência e legitimar, mesmo com o placar apertado, a prisão de um cidadão após sentença de Tribunal de Segunda Instância, a Suprema Corte do país disse aos atores diretamente envolvidos na economia da ZFM, Zona Franca de Manaus que, a qualquer momento, este arranjo fiscal bem sucedido pode ir pelos ares. Vivemos num país liquefeito de mudanças onde a segurança jurídica se submete ao imperativo do momento. A indiferença com que o governo central nos trata, e sua postura de quem reza o Pai Nosso até a primeira linha, exige criarmos saídas autônomas que independem de Brasília. Este tem sido o alerta permanente do CIEAM, através de seu presidente, Wilson Périco, na insistência da criação de novas modulações econômicas para o Estado. Uma das entidades a se movimentar alinhadas com essa imperativa criatividade emergencial tem sido o Simplast, o Sindicato das Indústrias de Material Plástico de Manaus, cujas movimentações aqui descrevemos nas palavras de Paulo Breu, diretor-executivo da entidade e entrevistado do dia.
1. Follow-Up - Que estragos o efeito China provocou no segmento de componentes plásticos, que já foi um dos mais vigorosos esteios do polo industrial de Manaus?
Paulo Abreu: O estrago é anterior à crise. No período de 2013 a 2017 nossa mão de obra empregada caiu de 10.000 trabalhadores para 6.900, segundo os dados da SUFRAMA. Buscamos ajustes nos incentivos, tivemos ajuda, mas precisávamos mais. No Brasil é muito caro gerar emprego na medida em que a fome tributária é de Leão. Qualquer pressão competitiva decorre dessa tributação excessiva, mesmo numa contrapartida fiscal que existe na Zona Franca de Manaus.
2. FUP: Que caminhos o Simplast buscou para superar o encolhimento das empresas e o desemprego dessa concorrência desleal?
P.A. : Criatividade e negociação. Foram montadas estratégias com a SUFRAMA e o Governo do Estado (SEPLAN/SEFAZ) para segurar empregos e estabelecer parcerias com as empresas de bem final e com os Ministérios da Industria e Comercio e Ciência e Tecnologia, visando o restabelecimento da cadeia produtiva regional, considerando que possuímos parque de máquinas com tecnologia evoluída, processo industrial com profissionais capacitados capazes de produzir qualquer produto, e logística adequada e serviço com melhores soluções práticas para atender nossos parceiros. Mesmo assim, foi arrasadora e desleal a competição chinesa, mesmo que as negociações tenham alcançado limites extremos.
3. FUP: O Decreto n. 1435/75, que incentiva empregas que agrega insumos da biodiversidade na produção industrial sob os critérios da sustentabilidade, claro, marca da ZFM. Como aproveitar esse caminho lançando mão de recursos de pesquisa e inovação?
P.A.: Nosso setor termoplástico vem incrementando paulatinamente o aproveitamento de matéria-prima regional como: Óleo de dendê, óleo de buriti, fibras de malva/juta e fécula de mandioca. O acervo da biodiversidade, mas encontramos severas dificuldades por não encontrar parceiros como: Departamentos nas instituições com serviços específicos de Laboratórios dotados para atender as certificações necessárias ao mercado. Serviços de análise, protocolos, orientações técnicas nas Universidades para desenvolvimento de pesquisas, focado nas demandas de produção das matérias-primas em quantidades suficientes e qualidade para atender as necessidades das empresas, as demandas do mercado e a expansão da riqueza.
4. FUP: A produção do plástico verde, as embalagens comestíveis, a produção de plásticos com reciclagem lucrativa podem ser as saídas para o setor?
P.A.: O plástico verde já está tecnicamente equacionado, mas ainda não está disponível em quantidade e preço para que possamos ser competitivos. Temos que incentivar a cultura do reflorestamento em áreas degradadas e licenciar áreas de várzeas para culturas orgânicas de oleaginosas. E quanto a reciclagem já está presente em alguns seguimentos. No Amazonas, as empresas já incorporaram a cultura da sustentabilidade, afinal este é um de nossos maiores ativos de negociação socioeconômica e ambiental. Para dar um exemplo, o da Injeção plástica, com percentuais determinados pelos compradores e com resinas recicladas de qualidade e origem atestada. Hoje temos possibilidade de usar caroços de frutas regionais para agregar insumos e atender a Lei.
5. FUP: Recentemente a FAPEAM, agência estadual de amparo à pesquisa, soltou um Edital que incentiva pesquisadores e empresas a buscar modulações produtivas a partir da biodiversidade. O que isso representa para os associados atuais e os que podem se aproximar com esta tendência de uma bioeconomia sustentável?
P.A.: O SIMPLAST, em conjunto com o CIEAM, mobilizou pesquisadores do Inpa, técnicos da SEPLAN-CTI e do Centro Tecnológico da UEA, integrou a elaboração de um projeto visando detalhar demandas de inovação e expectativas do mercado, para se candidatar ao financiamento de pesquisadores através de Edital, que acabou contemplando em sua abrangência a demanda do setor. As empresas de plástico associadas ou não ao Simplast poderão disputar recursos para agregar valor à seus produtos através de inovação tecnológica nos seguintes setores do programa Amazonas Estratégico Fi1) Agricultura (Fruticultura); 2) Aquicultura (Piscicultura e Peixes Ornamentais); 3) Química Fina, Biocosméticos e Biofármacos, ; 4) Tecnologia da Informação e Comunicação; 5) Novos materiais (bio-compósitos, compósitos avançados e metamateriais bio-inspirados); 6) Recuperação / Regeneração de Área Degradada; 7) Serviços ambientais; 8) Mineração. Eis uma oportunidade de impulso para a Ciência, e agregação de valor aos produtos de origem agrícola e agroextrativistas, alinhados sustentavelmente com as empresas do setor termoplástico. O presidente desta entidade, Cláudio Antônio Barrela e seu antecessor, Celso Zilves, aplaudem esta parceria e torcem para que a aproximação da pesquisa com o desenvolvimento traga um novo ciclo de produção e prosperidade para o Amazonas.
==============================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 06.04.2018