22/09/2022 08:33

Por Alfredo Lopes

Escritor, consultor do CIEAM e editor-geral do portal BrasilAmazoniaAgora

Um dos grandes desafios do Amazonas é o rompimento da impressão de que temos hidrovias. De fato, existem cursos d’água abundantes e rios fantásticos. Entretanto, não são hidrovias. Faltam sinalizações, manutenção constante, mais cartas náuticas, dragagem, derrocagem e tantas outras obras de Engenharia. Se tivéssemos um conjunto amplo de hidrovias, o cenário da região poderia ser muito mais próspero.

Há regiões onde o calado é restrito e isso faz com que embarcações que transportam contêineres possam ter restrições e não ocupar a sua capacidade máxima. Isso aumenta expressivamente o custo dos transportadores e, consequentemente, o custo das indústrias e de toda a sociedade. O custo associado à praticagem também traz impactos adicionais, em especial para os contêineres destinados para o comércio e indústria.

A operação entre os portos e as empresas do Distrito Industrial não são de trânsito fácil e rápido. Poderia existir, por exemplo, a implantação de um projeto antigo para conectar as áreas do Porto Chibatão e Superterminais diretamente com o Distrito Industrial, passando entre a pista do Aeroporto de Ponta Pelada e o Rio Negro. Há espaço e projeto para esta avenida expressa, mas ele não tem sequer expectativa de execução.

A operação entre Manaus e o interior do Amazonas poderia contar com diversos terminais hidroviários compatíveis com a região. É uma grande oportunidade repensar o interior com estruturas de concentração de viagens para as várias calhas de rios, imaginando o percurso como se pensam os hubs do modal aéreo. Fazer operações mais rentáveis para as empresas que operam é um grande desafio da sociedade, pois de outra forma não teremos bons serviços.

Manaus poderia também concentrar operações de exportação de soja por contêineres e uma ampla integração de modais, com a expansão do brilhante conceito regional do rô-rô caboclo (simpática derivação da terminologia roll-on roll-off), onde os veículos são embarcados em balsas. Poderíamos ter diversos ferry boats ou mesmo balsas modernizadas, conectando uma frequência maior entre Manaus e os pontos de concentração. As estradas na região poderiam ser pensadas com um embarque e desembarque mais eficiente do que os barrancos improvisados e as barreiras de proteção da floresta seriam muito mais viáveis nestes portos concentradores.

A conexão entre subcentros regionais no interior do Amazonas para cargas sustentáveis talvez seja a maior oportunidade desperdiçada. Repensar a região com base nos rios, com a integração com portos, retroportos e embarcações que permitam embarque e desembarque rápido, moderno e eficiente é o grande desafio que temos: trazer a navegação do século XVII para o século XXI, com a adoção de uma visão sistêmica, onde toda a região é percebida.

O que falta para isso tudo acontecer? Prioridade, orçamento e vontade. Falta tudo. Por ora, ficamos desperdiçando tempo e recursos da sociedade, com portos e estruturas ineficientes, com muita gente com boa vontade e esforçada, fazendo uso de uma estrutura antiga e ineficiente, correndo riscos enormes e, principalmente, gerando pouca riqueza para todos os envolvidos. Ainda bem que tem existido algum investimento privado em Manaus e no seu entorno, mas, enquanto isso, o interior segue abandonado.

Até percebermos a região como um potencial para gerar prosperidade, ao invés de ficar chamando de área rica, não chegaremos nunca ao futuro imaginado, onde a Amazônia seja rica. Assim, ficamos girando em círculos de exploração e de desperdício, em todos os sentidos: de potencial, de pessoas, de vidas, da natureza, de dinheiro e de tempo. Precisamos mudar a pauta.

Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

A coluna de hoje teve a contribuição de Augusto Cesar Barreto Rocha