01/08/2018 08:33
Aproxima-se o momento de realização da I AMAS, a conferência internacional de Gestão da Amazônia, a ser realizada em Manaus, de 29 a 31 de agosto próximo, em Manaus, no Centro de Convenções Vasco Vasquez, da Arena Amazônia, no âmbito do DINTER, Doutoramento Interinstitucional entre USP e UEA, uma iniciativa de enfrentamento da esfinge amazônica: “decifra-me ou serei devorada!”. Como se dá a relação entre economia e ecologia na Amazônia e porque ela não mobiliza a atenção nacional? A Amazônia virou um problema quando tem tudo para ser saídas. Por que aprendemos a desconversar sobre os problemas gerenciais e, assim procedendo, acabamos por descobrir que os embaraços não estão nos outros mas em nossa incapacidade de transformar as potencialidades em oportunidades efetivas de mudanças nos paradigmas de produção de riquezas? Apontamos o confisco das reservas de recursos aqui produzidos mas temos preguiça de recorrer à justiça para corrigir ilegalidades. Precisamos fazer da rotina dos ovos iguais o omelete da transformação. Reclamamos a mesmice do cotidiano, a permanência da contravenção, a ineficácia da polícia, mas nada fazemos para mobilizar os atores responsáveis pelas soluções. Chega! Ou fazemos o que tem de ser feito ou nos calemos com as insuportáveis e inócuas reclamações.
O mote de Samuel
Há mais de 40 anos cientistas como Niro Higuchi tem proposto a urgência da gestão deste patrimônio ignoto e imensurável. Para ele, foi involuntário mas também equivocado o gesto de preservar o bioma quase intacto sem investir no conhecimento de como funciona a fotossíntese e o que fazer para expandir a produção do oxigênio que a Terra precisa. Conhecer os paradoxos, entender a dinâmica, utilizar sem depredar os biomas, gerar riqueza e fortalecer a economia com os produtos madeireiros e não madeireiros, quantificar e expandir os serviços ambientais, são as tarefas mais emergenciais no enfrentamento deste desafio de administração da contabilidade socioambiental. A academia e o setor produtivo precisam trabalhar mais comprometidos em encontrar saída para nossa região que sejam, a um tempo, rentável, próspera, socioambientalmente robusta e politicamente correta, como insistia o saudoso professor Samuel Benchimol.
Potencialidades no powerpoint
Ainda está disponível no portal da Suframa, órgão gestor da Zona Franca de Manaus, para registro de um momento simbólico de renovação e das oportunidades adiadas de transformação, o “Estudo das Potencialidades Regionais”, iniciado em 1998 na gestão Mauro Costa e concluído em 2003, por Flávia Grosso, ambos destacados superintendentes da autarquia, visionários e obstinados pelo adensamento, diversificação e Interiorização de nossa economia. O que foi feito com este trabalho tão meticuloso e promissor? Suas métricas, taxas de retorno, vis-à-vis volumes de investimentos, suas indicações precisas, foram pauta das reflexões e recomendações da prof.ª Bertha Becker, ao definir corredores das vocações econômicas e ecológicas da região.
Taxas da Suframa
Os recursos para uma revolução na bioeconomia, usados legalmente para atividades econômicas geradoras de emprego e renda até os anos 90, autorizados pela Carta Magna para reduzir desigualdades regionais e interiorizar o desenvolvimento, foram minguando desde ali, quando os recursos da ZFM passaram a ser alvo da cobiça federal. Suframa e governo estadual lutavam em grupos opostos – algo sempre lastimável – mas concordavam em reter na região os tais recursos das Taxas da Suframa e compartilhar com todos os estados da Amazônia Ocidental, além do Amapá, os benefícios que poderiam ser gerados. Não prosperaram. As empresas pagavam os serviços da Suframa e o governo FHC resolveu abocanha-los com a instituição da Conta Única da União, contingenciando as verbas de desenvolvimento regional num patamar médio de confisco na ordem de 80% para outras destinações. Isso se agravou nos governos seguintes, onde o Amazonas foi muito visitado para os interessados nos seus bens e não no bem comum de seus cidadãos.
O Pará sabe agitar…
E quais eram essas Potencialidades, cantadas em verso e prosa, numa apologia capenga, estéril e constrangedora? O Pará, um vizinho mais aguerrido, que tem projeto e comunhão da tribo na hora de trabalhar, virou um frisson de inovação econômica, com algumas lições de economia florestal, mineral e cosmética. Eis algumas de nossas potencialidades que, apesar de se passarem tantos anos, se comportam com a mesma robustez e obviedade de bem sucedidos investimentos, mas estão guardadas nos escaninhos da omissão. Açaí, Guaraná, Amido de Mandioca, Palmito de Pupunheira, Cacau, Piscicultura, Cupuaçu, Plantas Para Uso Medicinal ou Cosmético, Dendê, Produtos Madeireiros, Plantio Comercial de Mandioca, entre outros, sem mencionar os serviços ambientais e o acervo mineral, com destaque para os recursos hídricos. O trabalho ficou a cargo do ISAE, Instituto Superior de Administração e Economia, criado por Gilberto Mestrinho, em 1992, com apoio da FGV.
A economia florestal
Os estudos não se detiveram na apologia mas no detalhamento das vantagens de fazer nova matriz de economia, com definição de Área de plantio, definição da Produtividade, do Mercado Consumidor, a Agroindústria LocaI e os investimentos de implantação. Dessa investida pouca coisa sobrou, além do projeto Açaí de Codajás, outros com vitalidade efêmera, pois carecemos de visão empreendedora e de gestão de Projetos. Além disso, e dos recursos desviados para outros fins, sejamos sensatos pra não dizer coerentes e decentes: faltou o apetite da diversificação, foi escassa a motivação da necessidade de empreender, de seguir criando parâmetros de desenvolvimento sem depredação. Manter a floresta intacta distribuindo emprego é um virtuosismo que se revelará estéril se não avançarmos na inovação, na combinação da manufatura com a poesia da bioeconomia racional, ambientalmente oportunista e onde a economia é partilhada com a ecologia, nessa infinidade das potencialidades amazônicas de uma brasilidade exemplar. Está na hora de arregaçar as mangas…
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 01/08/2018