20/08/2015 17:04
O olhar estrangeiro
Em 1987, professores da Universidade do Texas, dois cientistas de nome Martin Katzman e William Cole, propuseram como melhor forma de preservar a Amazônia a compra de direitos de desenvolvimento dos países amazônicos. A compra seria feita por organizações internacionais capitaneada pela OCDE, a organização do comércio e desenvolvimento econômico, que reúne os 30 países mais desenvolvidos no planeta. Este é um exemplo da cobiça, que se acende desde a chegada de cientistas da Europa na Amazônia, a partir do século XVI. Na década de 80, no século XX, a tomada começou a ganhar contornos de parcerias internacionais. À época, pré-derrubada do Muro, o comunismo ainda pontifica no outro lado da Guerra Fria, mas deixavam seus seguidores enfrentando o imperialismo em nome da revolução, a dos Bichos, de George Orwell, focada no poder e domínio da riqueza natural. O que queriam e querem até hoje os militares quando desmontam o discurso preservacionista das Ongs estrangeiras e ironizam as ações do “altruísmo ambientalista?”. Na verdade, não há novidade na doutrina da soberania brasileira, apenas maior explicitação de seus compromissos de defesa deste patrimônio amazônico. Nos anos 80, além das novas investidas das corporações estrangeiras – que pressionaram o Governo Color para a demarcação da gigantesca Reserva Ianomâmi, maior que o território de Portugal em área de ocorrência de metais preciosos e estratégicos – espocam os cartéis colombianos, os contrabandistas e os movimentos guerrilheiros que ampliavam a rota florestal da Amazônia brasileira como base de operações. Argumentos, que se radicalizaram com a Conferência da ONU, em 1992, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde a comunidade internacional passa a explicitar que o governo brasileiro é incapaz de controlar seu próprio território e proteger a floresta amazônica.
A fundação e o espírito de Nação
Essas são as premissas de algumas ações desde então, lembra o general Taumaturgo, ao recordar o confronto com os novos invasores travestidos de ambientalistas messiânicos. Algumas ações do governo brasileiro incluem Sistema de Vigilância da Amazônia e o Programa Calha Norte dão indícios de que a tese da cooperação nas áreas de segurança e defesa ganham força e aliados no país. A próxima etapa no processo de aprofundamento da cooperação militar vai se dar no âmbito continental, onde se amplia a consciência das ameaças que afetassem toda a região. O enfoque olhou problemas como a degradação do meio ambiente, o garimpo, o contrabando de madeira, minerais e armas, além da biopirataria, que afetam as áreas fronteiriças amazônicas tornando-as cada vez mais vulneráveis à cobiça internacional. Isso se torna factível se considerarmos o vazio demográfico existente na Amazônia e a escassa presença governamental na área. Com todas essas questões, a Amazônia tornou-se para o Exército um símbolo da nacionalidade, da territorialidade e do preparo militar, reavivando sua mais antiga razão de ser: a de fundador da própria Nação. Isso está consignado na conduta militar de defesa da legalidade republicana, quando o general Taumaturgo de Azevedo ajudou a conter o golpismo que tentou tomar de Eduardo Ribeiro, em 1985, a governança do Amazonas, mas está presente, também, na construção dos fortes de São Gabriel e São José de Marabitanas, na região do Alto Rio Negro, no século XVIII, quando Portugal consegue seu intento de tornar brasileira a região onde está a Amazônia até então espanhola. Esse mesmo espírito de zelo e guarda está presente na criação dos pelotões de fronteira na mesma área, consolidada com a iniciativa do Programa Calha Norte. Uma presença civilizatória, que sinaliza uma postura mais cooperativa do Exército brasileiro com seus vizinhos pode contribuir para o surgimento de uma comunidade de segurança pluralista no sul da América Latina.
A esfinge e o desafio
E o que tem a ver tudo isso com pesquisa em alternativas energéticas, em logística inteligente é coerente com a geografia e a geologia amazônica, a Amazônia conectada, que liga as veias fluviais de fibra ótica para levar modernidade, informação, benefícios enfim, civilização, melhor qualidade de vida. Esta foi a graciosa e gratificante pauta com general Theóphilo e seus guardiões da floresta, entrincheirados na instituição Pro-Amazônia. Por isso faz sentido acolher e integrar-se ao Inpa, a Embrapa, UEA e Ufam, fazer parte do CBA e ter assento no Capda, o Comitê gestor dos recursos de Pesquisa e Desenvolvimento, gerados na Amazônia e usados para fins estranhos a seus interesses. Por isso, faz sentido, integrar-se ao DINTER - Doutorado Interinstitucional que forma cientistas em gestão da Amazônia, na parceria USP-UEA. E a proposta do governo do Estado/UEA de um programa adicional de gestão e partilha de metodologias e projetos da Amazônia Continental. Quem conhece mais o bioma amazônico que as instituições de pesquisa que aqui atuam e quem defende a Hileia por razão institucional de ser e integrar na brasilidade fraturada? Essa comunhão de propósitos e portfólios é a proposta do Pro-Amazônia, do CIEAM e demais entidades e instituições decididamente empenhadas na gestão dos recursos e dos interesses coletivos desta esfinge chamada Amazônia.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 20.08.2015