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Amazônia, é hora de parar pra conversar e acertar

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24/05/2023 08:19

Sugestões não faltarão se buscarmos a qualificação de nossos juventude em Ciência, Tecnologia e Inovação, e assim assegurar a diversificação, adensamento e interiorização da economia e do acesso das populações tradicionais e ribeirinhas aos benefícios da civilização. De quebra, vamos combater a desinformação com maior interlocução, priorizando o que nos une e nos descreve, enfim, o que devemos conhecer, amar e proteger, a Amazônia.

Por Belmiro Vianez

Onde estamos, o que estamos fazendo, para onde estamos indo? Pela falta de assuntos, proposta ou questões vitais ao tecido social, tudo sugere uma onda vazia de conteúdos proativos como se estivéssemos vivendo o melhor dos mundos. E, decididamente, não estamos. E isso é, sob todos os pontos de vista, um mau

Não ter assunto relevante para debater – a não ser aqueles que provocam cliques ou se concentram na vida alheia e se movem pela maledicência ou desinformação – significa capitular diante das esparrelas que o lado podre da tecnologia nos impôs: a desinformação. Pois bem: enquanto o mundo inteiro destaca a Amazônia, sua importância e urgência climática, seus paradoxos e conflitos, o que se vê por aqui é a desinformação e a indefinição de rumos e propósitos.

“Sem preconceito nem mania do passado”, como cantava o poeta, quais são os grandes temas que nos chamam a atenção neste caldeirão incessante de informações suspeitas, desencontradas, entretanto, propositalmente estimuladas, para deleite de seus promotores, os usurpadores disfarçados de nossas vontades, opiniões, convicções e, quem sabe, valores.

O mais desconcertante das redes sociais – além de repaginar imagens e distribuir miragens, e customizar o cotidiano caótico – é sua facilidade de nos fazer achar que estamos informados objetivamente das questões vitais, essenciais no nosso cotidiano. Não estamos. O termo essencial, espero não estar enganado, é aquilo que, sem o qual, só resta o superficial.

Nossas emoções, ansiedades, ou satisfação de necessidades, reais ou impostas, já estão devidamente planejadas e sob o comando e controle dos robôs – conhecidos por algoritmos – programados para pensar por você e identificar, manipular, em linha, on-line, seus desejos, transformando o trivial em necessidade com imediata satisfação no simples toque do consumo. Experimente buscar na web qualquer item de sua necessidade diária.

Na mesma hora você sua procura será inserida no perfil como informação que definirá sua personalidade. A partir desses detalhes que o descrevem você passa a adotar este padrão como seu. Se você prestar um pouco mais de atenção, tudo, literalmente, se transformou ou é tratado como mercadoria, a começar pela sua consciência, inquietação e desejo.

Por isso, “é preciso estar atento e forte”, para lembrar o alerta baiano dos anos 60, uma recomendação mais atual do que nunca Passados alguns dias, ainda podemos tomar como exemplo, o polêmico relatório do Banco Mundial, com quase 400 páginas, denominado Equilíbrio Delicado para a Amazônia Legal Brasileira. Quem leu o catatau socioeconômico e ambiental sobre nossa região?

Essa é uma questão fundamental num mundo em que elogiamos ou denegrimos qualquer coisa de acordo com a opinião do “influencer” favorito. Este novo iluminado, um “conselheiro” fabricado pelo algoritmo, conquistou esse status porque assimilou uma habilidade programada para fazer a cabeça da freguesia, no jeito mais efetivo de cair no agrado das consciências distraídas. E assim, somos influenciados a nos desinformar.

O “erro” do economista Marek Hanusch, autor da façanha, foi comentar a ineficiência da Zona Franca de Manaus. Pronto, o alarido começou. O comentário destacando a crítica foi suficiente para mobilizar as redes sociais da desinformação, onde ninguém é entusiasmado a aprofundar nada, no máximo compartilhar sensações. E aí, o resultado costuma ser o mesmo: o Banco Mundial passou a ser o inimigo número 1. Pois é necessário que assim seja, que haja uma ameaça no ar. Quem leu o Relatório? Sei lá… isso não importa. O que importa é parecer que estamos a par da questão. E aí passamos a dizer loas nada boas sobre a reputação do inimigo.

Situada no coração da Amazônia e uma das poucas atividades que emitem NFE, nota fiscal eletrônica, com tudo de bom que isso significa, a Zona Franca de Manaus, 56 anos de contradições, ataques e incompreensões, é um assunto vital para a sociedade, e que só é colocado em pauta quando uma crítica, ameaça ou denúncia pairam no ar. No caso do Relatório a crítica foi mais elaborado e trouxe à tona um problema que insistimos em empurrar para debaixo do tapete.

E tratamos logo de ressuscitar o filósofo francês Jean Paul Sartre, segundo o qual, “o inferno são os outros”. É sempre mais fácil apontar a culpa dos outros, uma frequente e indisfarçável tendência a esconder nossa presença na situação. Ou não?

Em se tratando de Amazônia, de fato a ZFM tem sido pouco eficiente em vários momentos, assuntos e questões. Vamos recordar uma das ineficiências. A manutenção e fortalecimento de um velho álibi que temos usado para justificar a contrapartida fiscal dos investimentos da Indústria, insinuando que este programa de desenvolvimento regional protege a floresta. Dizíamos que a ZFM mantém intacta 97% da cobertura vegetal original do Estado.

Este argumento impressionou, por muito tempo, gentes importantes como a União Europeia e a Organização Mundial do Comercio, que nos respeitaram e exaltaram. E sabe o que a ZFM fez para manter esta contrapartida ambiental? Nada. Foi a essa ineficiência a que se referiu o Relatório.

O Banco Mundial raciocina como uma instituição financeira, apesar de dizer que trabalha para reduzir a pobreza e prestigiar o desenvolvimento sustentável como critério de construção da prosperidade social. Nosso problema é o Banco Mundial ou somos nós mesmos que não conhecemos nossa história, não nos envolvemos com seus problemas, não cobramos as responsabilidades de nós mesmos, ou daqueles que escolhemos para nos representar.

Proteger a floresta e desenvolver atividade não predatória a partir da biodiversidade não é crítica nem perseguição, é obrigação de todos nós. Sequer a pesca artesanal fomos capazes de organizar. Todo ano, desperdiçamos toneladas de peixes por inépcia na gestão dessa atividade.

Os pecuaristas de Rondônia e Roraima descobriram que um hectare de floresta desmatada produz 500kgs de proteína por ano. E que a mesma área, transformada em tanque escavado de piscicultura, produz mais de 22 toneladas de proteína de tambaqui, Matrinchã ou pirarucu no mesmo período. Ambos abastecem o mercado local com a deliciosas proteínas dos peixes. Sem vacinas, hormônios nem agrotóxico, muito menos emissão de metano dos rebanhos, um dos mais danosos gases do efeito estufa.

Segundo a ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, não precisamos mais derrubar uma árvore da Amazônia para a pecuária ou as commodities agrícolas. Derrubar a floresta é impedir os rios voadores da floresta para os reservatórios do Sudeste e mananciais do Centro-Oeste, onde o agronegócio funciona e equilibra a balança comercial do Brasil.

Por isso, colocar o Amazonas como um dos principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia é tiro no pé, pois retira o valor dos serviços ambientais da floresta e destrói um ativo ambiental que a ZFM deveria, de fato, cuidar. Não fazê-lo complica nossa contribuição com o clima, atividade que a própria ONU já recomendou e conseguiu estabelecer mecanismos de precificação, os tais créditos de carbono.

Precisamos conversar um pouco mais. Conhecer as razões pelas quais o mundo inteiro sempre desejou ter uma floresta para chamar de sua. Manter a floresta em pé é apenas um dos desafios, aliás um dos mais urgentes e inteligentes. O mais sagrado é o fator humano que aqui habita: são aproximadamente 30 milhões de pessoas que podem e devem ter a mesma exuberância vital da floresta preservada com atividades sustentáveis.

Sugestões não faltarão se buscarmos a qualificação de nossos juventude em Ciência, Tecnologia e Inovação, e assim assegurar a diversificação, adensamento e interiorização da economia e do acesso das populações tradicionais e ribeirinhas aos benefícios da civilização. De quebra, vamos combater a desinformação com maior interlocução, priorizando o que nos une e nos descreve, enfim, o que devemos conhecer, amar e proteger, a Amazônia.

Belmiro Vianez Filho é empre­sário do Comércio e colunista do portal BrasilAmazôniaagora e Jornal do Comércio.

Fonte: BrasilAmazôniaagora

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