01/12/2022 11:26
“Além de 1.300.000 castanheiras plantadas, o projeto, que já distribuiu mais de 800.000 mudas a mais de 1500 famílias, desde 2006, prossegue entregando, gratuitamente, 100.000 mudas anuais de castanheira aos habitantes da Amazônia” – por Ana Luiza Vergueiro/ECONUT
Entrevista com Ana Luiza Vergueiro – Fazenda Aruanã
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Conheci o programa de revitalização agrícola da Fazenda Agropecuária Aruanã, em Itacoatiara, da Família Sérgio Vergueiro, em 1992, antes da Conferência da ONU, no Rio de Janeiro, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92. Gilberto Mestrinho, governador do Amazonas à época, acompanhava e apoiava o projeto e contou seus primeiros resultados no Fórum Global da Conferência. Os desbravadores paulistas estavam substituindo a pecuária por reflorestamento da área aberta na floresta com espécies nativas de alto valor comercial. E com ênfase na Bertholletia excelsa, a lendária castanheira, a árvore mais nobre da Amazônia, que produz a castanha-do-Brasil, ou do Pará, como é mais conhecido o fruto dessa espécie.
Depois de anos de acompanhamento da iniciativa, assisti à formatação de um verdadeiro parque tecnológico de produtos sustentáveis, com o suporte da Embrapa, INPA, UFAM, ESALQ, CBA, entre outras instituições de pesquisa e desenvolvimento. Ali, em Itacoatiara, a 200 km de Manaus, um paradigma de empreendimento na floresta foi consolidado. De quebra, a jornada resultou num protocolo detalhado do processo de domesticação da castanha no Estado do Amazonas, com agregação de saberes locais e muita inovação tecnológica. Em Glasgow, na COP-26, em2021, Sérgio Vergueiro contou parte dessa história, aqui esboçada pelo olhar de Ana Luiza Vergueiro, dirigente do Instituto Excelsa, e participante ativa dessa viagem. Confira:
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-up
Coluna Follow-up – Os Vergueiro foram para a Amazônia nos anos 60 para fazer pecuária. A natureza, porém, em pouco tempo, sugeriu reflorestamento com espécies de alto valor comercial. Como se deu este dilema?
Ana Luiza Vergueiro – A Fazenda Aruanã aprovou, em 1969, um projeto agropecuário na SUDAM (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia). Iniciada a implantação de 3700 ha de pastos e instalações pecuárias, houve a introdução do gado a partir de 1971. Após 4 anos, as pastagens começaram a se degradar diminuindo a capacidade de suporte do gado e passamos a buscar uma atividade que pudesse associar-se à pecuária para, assim, dar continuidade ao projeto. Foi no cultivo da castanheira-do-Brasil que encontramos a solução para esse dilema.
FUp – Foram plantadas mais de 1 milhão de castanheiras, a mais nobre das espécies amazônicas, além de outras preciosidades. Quais os principais benefícios resultantes dessas escolhas?
ALV – O cultivo da castanheira-do-Brasil, destocando-se as pastagens e mecanizando sua manutenção, foi a solução inicial para manter associado à pecuária. As primeiras castanheiras foram plantadas em 1981. Em 5 anos, recuperamos toda a área de 3700 ha de pastagens plantando 1.300.000 castanheiras. Com o passar dos anos, fomos encerrando a pecuária e desenvolvendo a plantação de castanheiras, cuja produção comercial iniciou-se em 2009, quando, então, instalamos o setor de beneficiamento das castanhas produzidas organicamente na Fazenda Aruanã e criamos a marca ECONUT.
FUp – Outra medida, para movimentar a atuação do Instituto Excelsa, fundado para assegurar a interlocução com a comunidade e a sociedade, foi a distribuição de mudas para pequenos agricultores principalmente. Como se deu essa iniciativa?
ALV – Para recuperar as áreas desmatadas pelos pequenos agricultores no bioma floresta amazônica, incluindo grupos indígenas, iniciamos o Projeto Excelsa, juntamente com o IDAM e, posteriormente, com apoio da Federação das Agricultura do Estado do Amazonas (FAEA). Além de 1.300.000 castanheiras plantadas, o projeto, que já distribuiu mais de 800.000 mudas a mais de 1500 famílias, desde 2006, prossegue entregando, gratuitamente, 100.000 mudas anuais de castanheira aos habitantes da floresta no Estado do Amazonas.
Confira a fala de Sérgio Vergueiro, proprietária da premiada fazenda Aruanã, na sua participação na COP26
FUp – O modo Vergueiro de gerenciar negócios e oportunidades na Amazônia ganhou notoriedade e reconhecimento mundial. Que vantagens teriam novos empreendedores em refazer esse passo a passo de geração de riqueza e sustentabilidade
ALV – Novos empreendedores poderiam espelhar-se nesse exemplo e juntar-se ao Projeto Excelsa, ampliando essa ação recuperadora da floresta e fixadora do habitante no bioma florestal, inclusive, ampliando sua ação com a criação de créditos de carbono de forma eficiente e econômica.
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A coluna follow up é publicada às quartas, quintas e sextas feiras sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade.