03/06/2022 08:00
Amazônia, as portas abertas do esclarecimento e do reconhecimento
Por Alfredo Lopes (*)
“Pra não dizer que não falei das flores”, a secretária Glenda Lustosa, da Indústria, Comércio e Serviços, do Ministério da Economia, que tomou posse em março último, tão logo começaram a edição dos Decretos sombrios, veio visitar a Suframa. Foi recebida com a hospitalidade informal e atenta do superintendente Algacir Polsin, que tratou de mostrar-lhe o que é a tal da Zona Franca de Manaus. E neste evento, a propósito, ficou demonstrada a abissal diferença entre os que ouviram dizer e os que viram fazer. No roteiro de Glenda Lustosa estava a Samsung, a Moto Honda da Amazônia, a Smart Semicondutores, a Midea e a Cal-Comp, algumas das 600 indústrias da ZFM, 0,6% dos estabelecimentos industriais do país.
Orgulho da tribo
Certamente a visitante ficou impactada, pois é assim que os brasileiros, “especialistas” em ZFM, reagem quando veem, pela primeira vez, um lingote metálico entrar numa ponta e na outra sair uma motocicleta de classe mundial, com tecnologia japonesa e o retoque Manaó, uma das etnias indígenas que fundaram Manaus. Com 85% de verticalização nacional, isto é, o percentual de partes e peças que compõem a motocicleta, a Honda fabrica, num piscar de olhos, a CG 160, a mais vendida no ano passado com mais quase 400 mil unidades. São três dezenas de fornecedores tupiniquins na fábrica da Honda e sete mil cunhatãs e curumins vestidos de branco, que produzem itens de duas ou três rodas, mais baratos que os importados, com mais de mil concessionárias para suporte técnico e de assistência aos usuários. Um orgulho da tribo.
Semicondutores da reindustrialização
Ué, mas não dizem que aqui só põem o parafuso nos produtos, a embalagem com a gaivota símbolo da Zona Franca de Manaus? Tudo não vem de fora? Essas questões, infelizmente, permanecem no imaginário da desinformação nacional. Obviamente, as demais empresas visitadas emprestaram, em seu segmento específicos, as mesmas impressões e espanto. E encanto, principalmente. Com 4.300 empregos diretos, a Samsung produz 20 mil TVs por dia, incluindo a charmosa "quadro vivo", além de monitores, led display, ar-condicionados com sistema wi-fi e aparelhos celulares de última geração, no ponto de expectativas a tecnologia 5G. Na Smart, uma fábrica de semicondutores com 20 anos de Polo Industrial de Manaus, que atende a Samsung Eletrônica da Amazônia. Graças a ela, a gigante coreana mantém sua fábrica funcionando – ainda que, parcialmente - pois faltam semicondutores pelo mundo afora e os que são fabricados em Manaus não são totalmente suficientes para a demanda produtiva.
Alvoroço por decreto
Enquanto a visita à indústria da floresta estava ocorrendo, despertando as boas impressões de Glenda Lustosa, o ministro Paulo Guedes da Economia - convidado a explicar ao Congresso Nacional o imbróglio de seus decretos, que nocautearam a segurança jurídica das empresas instaladas em Manaus – não compareceu. Nem disse o porquê. Agora ele será convocado, pois as medidas contidas nos tais decretos, que foram parar na Suprema Corte, provocaram um alvoroço não apenas nas empresas instaladas em Manaus. O alvoriço é geral, incluindo a frustração generalizada com relação aos impactos prometidos pelo ministro com relação aos benefícios estimados.
Madeira pra toda obra
Antes de encerrar a visita, a secretaria de Indústria e Comercio, Glenda Lustosa, confirmou que seu setor está trabalhando na publicação de uma Medida Provisória para buscar soluções imediatas para o problema dos semicondutores em todo o país. O caos provocado pela pandemia e a desestruturação da ordem mundial com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a escassez de componentes se agravou, notadamente com a deficiência que os países apresentam nesse item tecnológico. Temos condições de produzir, com destaque para as empresas instaladas em Manaus, como a Cal-Comp, e até fornecer para muitos países. O parque fabril instalado em Manaus – isso ficou provado no auge da pandemia – é madeira pra toda obra e muita construção.
De portas abertas
A iniciativa da gestão Polsin, à frente da Suframa, tem-se destacado por pressionar o poder central para prestar um pouco mais de atenção na Amazônia Ocidental, como fator de respostas a múltiplas demandas, tanto por parte do setor industrial de Manaus, como pelo conjunto de iniciativas que borbulham nas startups da região. Ou seja, não é o garimpo ilegal, nem o desmatamento criminosos e sim a inovação tecnológica, o melhor caminho para a gestão da Amazônia. A iniciativa “Portas Abertas” não é só para a sociedade local ou regional. É para o gestor federal que precisa saber a diferença entre carimbó e xaxado, e que aqui, dizem os profetas e os visionários que aqui viveram e optaram por mergulhar no mistério promissor da Amazônia, sua cultura, seu engenho fabril e sua vocação de sustentabilidade para assentar as pilastras da prosperidade.
(*) Alfredo é consultor do CIEAM e editor do portal BrasilAmazoniaAgora.