31/08/2018 09:18
Entrevista com Cleinaldo Costa, reitor da Universidade do Estado do Amazonas.
Anfitrião da conferência de Gestão da Amazônia, evento que reúne pesquisadores e formuladores de políticas públicas locais, nacionais e estrangeiros, empresários, para debater o futuro da região, Cleinaldo Costa, reitor da UEA, recebeu a Follow Up para contar o que o Amazonas tem feito em termos de parceria para preparar sua juventude para enfrentar os desafios de criar massa crítica apta a enfrentar desafios, formular soluções inovadoras, de maneira próxima a indústria e focada na geração de emprego e oportunidades. Confira.
FOLLOW Up – Em que medida essa Conferência vai agregar maior valor na relação entre academia e economia?
CLEINALDO COSTA – a aproximação entre a Universidade do Estado do Amazonas e o Polo Industrial de Manaus refinou a relação que hoje responde pela formação de recursos humanos de que a indústria efetivamente precisa. Então, trouxe mais consistência ao aparelho formador na definição de políticas de formação de nossos engenheiros, do nosso pessoal da área de tecnologia, área de logística, a própria questão jurídica, onde a formação do nosso curso de Direito, em diversas áreas, que essa relação e aproxima, ao mesmo tempo dá conteúdo e da novas características ao profissional que nós precisamos formar no século XXI, sobretudo na questão da multidisciplinaridade, na questão da integração dos serviços e naturalmente no pensar para o Polo Industrial de Manaus e para a Amazônia num contexto de futuro.
FUp – Que frutos poderiam ilustrar essa aproximação?
CC – Nós temos diversos frutos vindos desta relação. Primeiro deles foi a constituição do Grupo de Trabalho entre a Federação da Indústria do Estado do Amazonas- Fieam, o Centro da Indústria do Estado do Amazonas- Cieam, a Universidade do Estado do Amazonas - Uea, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - Fapeam. Este grupo começou a pensar novas diretrizes para o aparelho formador, para os nossos cursos de graduação e pós-graduação, na capital e interior, com aplicação de recursos, usos de nova tecnologias no âmbito da indústria, e hoje começa a pensar de forma consistente no modelo de indústria 4.0, tanto para o polo industrial, quanto para nós, instituição formadora.
FUp - Este diálogo, obviamente, está em processo e precisa ser melhorado…
CC - Eu costumo dizer que, até bem pouco tempo, as universidades rezavam missa em latim de costas para a classe produtiva, de costas para o Polo Industrial de Manaus, isso não é mais realidade, nós trabalhamos hoje muito próximos, o diálogo é muito profícuo, isso tem resultados em alguns avanços, um deles é a parceria da Faculdade de Economia e de Administração da Universidade de São Paulo FEA- USP, que resultou num doutorado interinstitucional entre FEA-USP e a UEA, e isso tem qualificado neste momento 22 professores da Administração, do Direito e de áreas afins, que irão liderar naturalmente esse processo ao longo dos próximos 10 anos e é uma estrada sem volta, nós estamos aqui lançando as bases de um novo entendimento administrativo, financeiro e estratégico para o polo industrial e para a Amazônia. E se essa relação com a USP é muito boa, ela acaba sendo excelente para o Brasil, que aos poucos passa a perceber as ações d ZFM e de suas empresas, empenharas em apoiar saídas que tem relevância regional e nacional.
Jaime põe o dedo na ferida ambiental
Relutante em participar do “I Congresso de Gestão da Amazônia, temendo que os debates repitam a lenga-lenga de fazer mais um documento e encher as gavetas da omissão, o empresário Jaime Benchimol, do Grupo Bemol/Fogás, não mediu as palavras e disse que as políticas ambientais brasileiras travam o desenvolvimento da região amazônica. Devemos nos insurgir contra isso é criar um novo ciclo de desenvolvimento, que exige maior exploração dos recursos naturais e minerais da Amazônia. Benchimol alertou que o modelo Zona Franca de Manaus, que não tem substituto no curto prazo, mas afirma que ele está ameaçado pela obsolescência dos produtos fabricados nas indústrias de Manaus. “Esse modelo é fantástico, nos trouxe até aqui, beneficiou a todos nós, não podemos abrir mão dele, mas ele está concentrado sobre pilares muito fracos, dependendo de incentivos fiscais e com um enorme risco de obsolescência tecnológica sobres os produtos que produzimos aqui”. Infelizmente, como denunciou o representante da empresa Agropalma, o Brasil exige o cumprimento de mais de 1200 leis para autorizar projetos na Amazônia.
Smartphone roubou a cena
Benchimol lembrou que 50% dos produtos do Polo Industrial de Manaus estão migrando para dentro do telefone celular. “Televisor, aparelho de som, vídeo game, GPS, calculadora, máquina fotográfica, computadores etc, tudo está migrando para o telefone celular”. A saída, segundo o empresário, é buscar um novo modelo de desenvolvimento regional que não seja assentado sob as mesmas bases da Zona Franca de Manaus. “Essa convergência [dos produtos para o celular] coloca um enorme desafio de obsolescência tecnológica sobre o nosso modelo. E não há a quem recorrer. Não adianta ir para Brasília, como estamos acostumados a fazer. Vamos pedir o que? Para proibir o telefone celular?” “Atividades como agricultura, fruticultura, em alguns casos a pecuária, a mineração, a construção naval, as atividades de logística de grãos que estão explodindo na região, piscicultura, produtos regionais, fármacos, madeira, peixes ornamentais, etc.” são exemplos apresentados por ele no painel “Estratégias de Sustentabilidade na Amazônia”.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 31/08/2018