03/10/2014 10:40
O modal hidroviário
Nesse contexto ganha sentido o estudo da viabilidade econômica, social e ambiental da rodovia e da hidrovia e sua eventual combinação e conjugação. Ainda argumentando o modal fluvial, temos omitido a luta por ajustes na ineficiência operacional, avaliação/revisão e mudança dos custos, na ineficiência, falta de confiabilidade e precariedade operacional dos portos, adicionados aos prejuízos com a maldita burocracia. Assim abordada, a ligação hidroviária com o resto do país, via Porto Velho, asseguradas essas premissas, seria muito mais inteligente, ambientalmente adequada, financeiramente rentável – com tarifas internacionais, o modal hídrico cairia à metade dos custos atuais – e, de quebra, seria turisticamente mais bucólica para quem quisesse desfrutar a experiência amazônica. E quem não iria querer depois de uma divulgação publicitária desse nicho turístico? Pois é..., até aqui, porém, quarenta anos depois da inauguração da BR-319, não decidimos internamente se queremos, pra valer, ou não, essa ligação com o Brasil a despeito dos custos que ela representa. É um volume robusto de recursos para asfaltar de qualquer jeito, como postulam alguns, para depois saber como é que fica. Recuperar a BR-319 é um excelente exercício de pressão política. Basta que os atores queiram sentar, conversar e arregaçar as mangas, partindo da premissa que a pavimentação da BR-319 não gerará maior agressão ao meio ambiente, uma vez que a abertura da floresta para a construção da rodovia já aconteceu no traçado original, há mais de 40 anos. Importa, pois, exigir a presença do Estado para garantir uma ocupação de forma ordenada da região.
A drenagem social
Portanto, debater a questão ou a recuperação rodoviária e resgatar a conexão com o resto do país, não se esgota na resolução de apenas asfaltar sem assegurar a drenagem social. Para evitar gastos, conflitos e desmandos posteriores, é imperativo desde já ampliar ou promover a instalação de equipamentos públicos nos municípios do traçado, para atender a demanda por serviços de saúde, educação, suporte jurídico e de segurança, para evitar o aumento de violência, do desmatamento sem plano de manejo e do esgotamento dos recursos naturais no trecho ainda em uso entre Porto Velho e Humaitá. Asfaltar é mobilizar todos os atores da economia e do parâmetro socioambiental que possam integrar desenvolvimento, prosperidade social e sustentabilidade ambiental. Para conservar o estoque natural só há um meio: dar-lhe suporte e finalidade socioeconômica, finalidade essa que no nosso entendimento se justifica pela interligação por terra de todo o território nacional. Em documento encaminhado ao Congresso Nacional em dezembro de 2013, FIEAM/CIEAM reafirmaram a importância da “pavimentação/reconstrução da BR 319, que trará resultados positivos para as empresas instaladas no Polo Industrial de Manaus. São grandes os benefícios que da BR-319 no aspecto socioeconômico, favorecendo a inclusão social e a redução das desigualdades que sofrem as populações que habitam a área de influência da rodovia. A formulação de uma política de desenvolvimento autossustentado não é incompatível com a integração econômica desta área e com a utilização racional do seu patrimônio ambiental. A recuperação da BR-319 é um anseio não só das classes empresariais, mas também, de toda a sociedade que vê nessa obra o fim do isolamento da região, por tratar-se de uma rodovia de integração nacional que irá entre outras coisas beneficiar a economia local”.
Agenda 21
As entidades propugnam “uma política de desenvolvimento autossustentado”, compreendido, no contexto da Agenda 21, como reposição dos estoques naturais e atendimento das demandas sociais. A intuição original da BR-319 era a mesma da implantação do modelo ZFM, na década anterior, anos 60, integrar o bioma amazônico ao país para não entrega-lo à cobiça estrangeira ou ao narcotráfico continental. Essa intuição ganha outros contornos no século XXI, e exige que o país integre a economia e as demandas socioambientais da Amazônia na política industrial, comercial, ambiental e de ciência, tecnologia e inovação. E aí faz sentido debater a necessidade de rever e fazer, eventualmente, em cima de projetos de curto, médio e longo prazo as premissas relevantes da integração nacional. Estas questões foram colocadas no documento entregue pela Ação Empresarial aos candidatos que disputam neste domingo a gestão do Estado. Elas também, indiretamente, se prestam a nortear a escolha da representação parlamentar do Estado, a via da defesa dos interesses da população e do suporte material e econômico provido pelo setor produtivo. É importante recordar que o último grande debate com a bancada parlamentar do Amazonas, sobre os gargalos de infraestrutura que comprometem a competitividade do modelo ZFM ocorreu em abril de 2010 na sede da Federação das Indústrias. De lá pra cá, as dificuldades permanecem e, em alguns setores, se agravaram como a energia que sobra e a distribuição que falta e a comunicação desconexa, lenta e cara que afasta o investidor. Em suma, e em clima de eleição, vale lembrar o princípio segundo o qual, para os males da Democracia só há um remédio, mais Democracia.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 03.10.2014