24/04/2014 09:13
Para costurar o futuro
Recentemente, a ABIT, Associação Brasileira da Indústria têxtil, divulgou uma agenda “Para um país mais próspero e competitivo”, onde estão colocados, com objetividade e transparência, os pontos principais que permeiam a relação entre o setor industrial e poder público, itens que podem, coerentemente, integrar os compromissos dos futuros governantes, do país, e do estado, na sua relação com a sociedade. Chama a atenção a ênfase dada pelo Documento à consolidação e ampliação do programa “Educação, Costurando o Futuro”, já implementado pelo Ministério da Educação, a ser viabilizado com verbas do orçamento Federal (recursos do Pré-Sal, dentre outros), primeiramente para os 1.000 municípios com pior IDEB, o indicador da Educação Básica, a raiz de toda a tragédia educacional que constrange o Brasil no cenário continental e global, e incomoda o cidadão brasileiro, vítima das sequelas deste cenário educacional adverso. A rigor, e esta é a percepção mais provocante do conjunto de proposições da ABIT, aí está o maior gargalo, pois uma nação evoluída, com sua população qualificada, além de escolher bons dirigentes, terá a tranquilidade de vê-los equacionar os gargalos da segurança jurídica, da tributação compulsiva que recolhe muito e é desastrosa no gerenciamento.
Infraestrutura, a solução compartilhada
No item Infraestrutura, a proposta da ABIT começa por destacar a redução do custo da energia para cadeias produtivas intensivas em mão de obra, com a revisão de tarifas de energia para dar maior transparência e previsibilidade, com a inclusão de representação da Indústria nesses processos e compensação com benefícios objetivos às empresas que desenvolvam projetos de eficiência energética ou utilização da água, um desafio que começa a preocupar segmentos industriais abastecidos com fontes hidrelétricas de energia. E nos diversos setores, a proposta é acelerar as parcerias público-privadas, PPPs, com vistas a alcançar 5% do PIB, em 10 anos. Nesse contexto, aparece a sugestão de fazer com que o Gás Natural possa ser usado de forma competitiva, com custos equivalentes ao mercado Internacional, além da internet e telefonia compatível com os serviços ofertados nos países desenvolvidos (custos, velocidade e confiabilidade).
Os gargalos da ZFM
Sem mensuração não existe gestão. E este é um dos desafios intrigantes das empresas e do setor público relacionado à atividade do polo industrial de Manaus e seus custos de infraestrutura. Há sempre uma nevoa de informação a respeito. Todos reclamam do custo Manaus, arriscam dizer que a logística dos transportes chega a consumir bem mais de 10% dos custos da produção, mas as portas se fecham na hora de precisar abrir a caixa preta da informação. E a premissa da mensuração, em cima de dados objetivos, é e será sempre requisito essencial. Sem mensurar riscos, custos, margens, perdas e ganhos a gestão é cega e o resultado, cedo ou tarde, desastroso. Matemática, Estatística, Informática são, decididamente, ingredientes aliados e essenciais para aproximar saber e fazer, informação e desempenho, laboratório e chão de fábrica, reflexão e ação, uma interatividade inadiável entre empreendedores e pesquisadores, na sistematização de informações, como ocorre nas economias evoluídas. O que não pode é fazer de equipamentos de eficácia logística, como os novos scanners utilizados na fiscalização da Receita Federal, fator de cobrança formal, exorbitante e mortal à planilha já saturada de despesas no setor.
Tropeços da competitividade
Há 10 anos, as empresas do Polo Industrial de Manaus iniciaram uma movimentação para identificar os gargalos de infraestrutura do modelo e promoveram, através do CIEAM, um estudo que mostrou na logística dos transportes a maior dificuldade e o maior custo de comprometimento da competitividade. Trânsito, ineficiência e segurança ainda permanecem gargalos de uma logística que virou desafio permanente e pedra de tropeço da competitividade. Ao se constituir como um verdadeiro e rentável setor da economia, associações setoriais e instituições – são estimados mais de R$ 3 bilhões de faturamento/ano na estrutura ZFM – fornecedores de serviços, certificadoras de qualidade de serviços no setor, inovação e modernidade ganham força, ao tempo em que a atividade se consolida e se diversifica. É hora de retomar a caixa de Pandora desta questão e reler o Logistics Performance Index, vade-mécum do Banco Mundial, que classifica os países segundo seu desempenho no setor, considerando infraestruturas, normas e serviços, aponta o caminho aos Estados sobre como se inserir de forma competitiva nos mercados internacionais através de investimentos materiais e, sobretudo, de regulações mais favoráveis à fluidez de mercadorias. Sem receio de consolidar a competitividade, a hora é agora!
==============================================================================
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicado no Jornal do Commercio do dia 24.04.2014