18/05/2022 09:45
“A vinculação da ZFM à elevação do preço da carne só faria sentido na cabeça de alguém que seja contrário a manutenção de 97% da nossa floresta em pé, graças ao tipo de economia que adotamos. “
Por Wilson Périco*
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Coluna Follow-up 18.05.22**
Nas redes sociais algumas pérolas refletem opiniões desencontradas sobre a economia do Amazonas. Vejamos algumas: “A Zona Franca de Manaus é responsável pelo aumento do preço da carne no resto do país”. “O Brasil não pode parar para atender os privilégios da Zona Franca.” “Os investidores que apostam no Amazonas ganham bolsa empresário e o Brasil gasta R$25 bilhões para sustentar a ZFM”. Decididamente a comunicação é um dos maiores desafios para escalar o entendimento construtivo e a empatia inadiável de que a brasilidade precisa.
Até que nos provem o contrário, as pessoas que emitem este tipo de informação não são, necessariamente, aqueles que costumam nos virar as costas. São pessoas que manifestam as convicções que se formaram sabe-se lá de que jeito, mas não buscam checar tais opiniões. Desse ponto de vista, compete a nós, os mais interessados em integrar o Norte ao Sul do país, tomar a iniciativa do esclarecimento. Temos que fazer, portanto, o mea culpa, e reconhecer que falhamos em comunicar o que somos, o que fazemos e aonde queremos chegar. O contribuinte precisa saber aonde vão os impostos e contribuições que é obrigado a desembolsar para o poder público. E de quebra, ele precisa saber o que é feito na Amazônia Ocidental, área gerenciada pela Suframa, com menos de 8% dos incentivos fiscais do Brasil. Quem não se comunica se complica. E se complica mais ainda quando a comunicação é intencionalmente distorcida.
Vamos a um exemplo: o risco de uma III Guerra Mundial pode ser materializado a partir de uma comunicação distorcida. Um país se viu no direito de tomar posse de outro. E para isso, construiu uma narrativa para dar legitimidade a essa imoralidade, não apenas à opinião pública mas, principalmente, a seus financiadores da sinistra aventura.
Foi assim que se deu a persuasão nazista, segundo a qual, os judeus representavam terrível ameaças à raça ariana da ideologia hitlerista, em nome da qual 20 milhões de pessoas foram assassinadas. “Uma mentira contada 1000 vezes se transforma em verdade!”.
E no caso, essa “verdade” foi suficiente convencer uma população manipulada pela desinformação destinada a naturalizar a barbárie. Nosso urgente desafio, portanto, é construir uma descrição coerente e transparente do que se passa na economia do Amazonas e da Amazônia Ocidental, sob a gestão da Suframa, a autarquia responsável pela ZFM.
É um absurdo especular que a ZFM é contra a redução da carga tributária nacional, ou que é responsável pelo rombo fiscal do Brasil, ao utilizar menos de 8% de compensação fiscal do bolo fiscal. É também absurdo insinuar que o governo federal patrocina os custos do Polo Industrial de Manaus.
Fossem verdadeiras essas especulações, faria sentido o poder público implodir o programa ZFM com os decretos federais 10.979/22, 11.052/22 e 11.055/22 que, desavisadamente(?) o fizeram. O que nos resta, agora, é colaborar/torcer pelo devido e inadiável esclarecimento. E a partir dele, retomar o trabalho e seguir costurando nossa integração e interlocução a favor do Brasil e de sua população.
A vinculação da ZFM à elevação do preço da carne só faria sentido na cabeça de alguém que seja contrário a manutenção de 97% da nossa floresta em pé, graças ao tipo de economia que adotamos. Não podemos desmatar a cobertura vegetal para fazer pasto.
Temos outros meios de gerar riqueza sem derrubar a mata, onde estão os princípios ativos daBioeconomia. Ora, um hectare de pastagem gera 500 kgs de proteína bovina por ano. No mesmo espaço, temos tecnologias que geram 22 toneladas de proteína de peixe por ano. No Sul do Amazonas, nossa entidade do setor primário, a Federação da Agricultura, trabalha com a Embrapa, no sistema LPF, Lavoura, Pecuária, Floresta, com produção robusta de laticínios. Então, a carne está cara por outros motivos, jamais por causa da ZFM.
Outra tolice sugere que o governo federal gasta 25 bi/ano com a ZFM. Os impostos que deixamos de recolher são repassados para o consumidor por meio dos produtos mais baratos fabricados na ZFM. Além disso, para cada R$1,00 que a União deixa de recolher – pois não há repasse de um centavo sequer de investimento público – com o programa ZFM, o contribuinte põe no bolso R$1,4. Uma taxa de retorno de 40%. Ninguém paga melhor que o Amazonas de todos os estados da Federação, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Finalmente, cabe esclarecer que mais uma vez a justiça brasileira, através da Suprema Corte, reconheceu nossos direitos de sobrevivência econômica, social e ambiental. Geramos 500 mil empregos e protegemos a floresta, ou seja, cuidamos das pessoas e do meio ambiente. Patrocinamos a Universidade do Estado do Amazonas, presente nos 62 municípios do Estado, qualificando os filhos de nossos trabalhadores. E, além de beneficiar os consumidores e os contribuintes, somos um dos 5 estados da União Federal que mais contribui com os cofres federais. Ou seja, ajudamos o Brasil a carregar nas costas, uma boa parte dos gastos do Brasil. Venha passear na floresta, e nos ajude a eliminar o lobo da ignorância, das mentiras e distorções.
* Wilson é economista, empresário e presidente do CIEAM Centro da Indústria do Estado do Amazonas
** Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras pelo Jornal do Comércio do Amazonas, sob responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, portal BrasilAmazoniaAgora