18/03/2022 09:36
Por Alfredo Lopes (*)
E a que se destina? Neste 16 de março, o CBA, Centro de Biotecnologia da Amazônia, um gnomo que anseia por existir e decolar, foi “publicizado”. É isso que diz o Diário Oficial da União (DOU), ao divulgar a Portaria nº 2.287/22, do Ministério da Economia, que ensaia trazer à luz suas atividades de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação voltados a negócios na área de bioeconomia. O passo seguinte é encontrar uma Organização Social para tocar a procissão, sabe-se lá em que direção, prioridades e propósitos. A boa notícia, porém, é a movimentação.
Em clima de mais Brasília e menos Amazônia, vinte e dois anos depois, vão decidir o que melhor convém aos nativos, através de critérios burocráticos que se baseiam em critérios burocráticos, na linha do manda quem pode e obedece quem perdeu o juízo. Qual é a novidade deste movimento que repete a mesma abordagem de governos anteriores que, há 10 anos, reduzem verbas para Ciência, Tecnologia e Inovação. Cientistas recebem o mesmo salário desde 2013 e as bolsas de pesquisa perderam 40% de valor no mesmo período.
O que dizem os atores locais a respeito dessa nova iniciativa pró-CBA? Nada! O que esperam os empresários que atuam na região e que não foram consultados pelos condutores desse andor? Muitos deles nem lembram que foram as taxas que pagaram pelos serviços da Suframa que viabilizaram a construção dos pilares, estruturas e laboratórios do CBA. A serviço de quem esse investimento vai ser entregue? Ele pertence a União ou aos seus propósitos institucionais de promover, através da autarquia responsável pelo desenvolvimento regional? Há uma distinção crucial para responder a essa indagação.
É meritório e coerente o esforço da Suframa e de seus gestores para devolver à sociedade um bem para o qual ela não foi criada. Não há entre seus quadros de carreira ninguém qualificado no perfil recomendável para tocar este esperado polo de Biotecnologia. A atual gestão, com muita habilidade e reconhecida transparência, trata de assumir o que dela se espera: segurar e reger a batuta dos órgãos federais na região. Não é novidade para ninguém que, com pontuais exceções, são órgãos dispersos entre si no exercício de suas atribuições. Cada um trata do seu pirão e a Suframa, há quase uma década pressionada pelo TCU e MPF, tenta trabalhar em interação colaborativa.
Osatores locais sempre propuseram a gestão local/regional do CBA, conectado com os demais centros de pesquisa e desenvolvimento de todo o país, como estava desenhado pelo PROBEM - Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia. A ideia força era adensar o polo industrial de Manaus, atraindo grandes empresas com o compromisso educacional de trabalhar com as universidades locais para formação de mão-de-obra qualificada e desenvolver produtos, processos e serviços demandados pelo mercado local, nacional e mundial. Infelizmente, a ideologia espantou a economia e a Novartis, uma das convidadas, pegou o beco na direção de Singapura.
O polo de bioindústria foi desenhado a partir das demandas da economia local e das saídas vislumbradas na diversidade biológica e mineral da região. Tudo ia bem até que começou uma querela estéril e danosa entre os ministérios que passaram a querer um CBA para chamar de seu, na suposição de que esse patrimônio lhes pertencia. Não pertencia e não pertence a ninguém, muito menos à União e seus escalões. É um patrimônio a serviço da Amazônia, das demandas de suas indústrias, das pequenas empresas que se beneficiam das verbas do Programas Prioritários da Suframa para empreendedores, nos programas e projetos a partir da floresta, de seu banco genético, que padece da inovação tecnológica.
A tribo está debruçada na preparação de grande evento de Bio-Tic, Bioeconomia e Tecnologia da Informação, ainda este semestre – aguardem!!! - e, entre os institutos de tecnologia, acaba de ser criada a Escola de Tecnologia, etech, da Fundação Paulo Feitoza. São passos que estamos fazendo avançar para harmonizar a indústria e a bioindústria 4.0 e substituir o extrativismo, o desmatamento, a pastagem por uma floresta - e nossa gente - em pé, caminhando com os próprios pés da autonomia para antecipar a utopia de um tempo de sustentabilidade e prosperidade regional.
(*) Alfredo é consultor do CIEAM e editor do portal BrasilAmazoniaAgora