04/08/2017 10:49
Temos assistido, entre estarrecidos e inquietos, ao acirramento do conflito político que não tem desembarcado em vantagens objetivas para a economia e cidadania, posto que escondem blefes, surpresas e assombros. O momento é crucial para a história do Amazonas. Na contramão desses conflitos e desencontros – quando vivemos às vésperas de mais um pleito eleitoral – a palavra de ordem é privilegiar a sinergia criativa e proativa e abraçar novos patamares de cidadania. Este é o clamor da economia, nosso setor produtivo tão bombardeado e confiscado de recursos que deveriam ser aplicados no tecido social. Certamente o clamor é também do cidadão, cujo exercício diário de cidadania tem sido marcado pela violência, desemprego, saúde pública deficitária e ensino de qualidade sofrível. Não causamos esta crise mas fomos os mais atingidos por ela, sem poder contar com a defesa de nossa representação política, e açoitados pela precária infraestrutura que nos privou de competitividade, pelo confisco de verbas que nos permitiriam diversificar e regionalizar a economia e porque, entre as entidades do setor produtivo, devêssemos atuar em bloco, no protagonismo de afirmação de direitos e deveres de parte a parte.
Sinergia grega e emergencial
Estamos acostumados a usar na Física a palavra sinergia descreve o exercício da inteligência elucidativa das conexões. Para os gregos, a Física, a Physis, descreve a natureza é tudo o que nela contém, incluindo a polis, a cidade, na qual o homem, sai inteligência, desejo e necessidades estão inseridos. É na polis que as pessoas estão atrás de novas saídas, sejam econômicas, socioambientais e de tecnologia da inovação. Sinergia e política, portanto, são a face de uma única moeda, heranças valiosas da Grécia antiga, que querem simbolizar a necessidade de unir e organizar a polis, isto é, a vida social. Sinergia política, portanto, é junção da necessidade de promover a coesão das partes, dos membros da coletividade pra consolidar o bem comum.
Contrapartida lastimável
Nesta quarta-feira assistimos a lógica que traduz o oposto disso. O Brasil está descambando para o confronto estéril, que não produzirá nada mais do que ódio, perseguição e atraso. De quebra, a corda acaba arrebentando nas costas de quem produz, trabalhadores e empreendedores, a um custo tributário insuportável com uma contrapartida cívica lastimável. E todos já começam a ver claramente para onde vai tanta compulsão fiscal. Estamos empanturrados das manchetes da corrupção, distorção de valores e manipulação das verdades, e das promessas ocas, de quem poderia fazer e não fez. Basta de guetos políticos a disfarçar confrarias mafiosas que estão levando o Brasil ao abismo da exclusão, do atraso e da desesperança.
“Follow The Money”
O impeachment do presidente Richard Nixon começou com essa instrução dada por dois jornalistas americanos, que entenderam ser esta a melhor maneira, a Transparência, de apurar ilegalidades e resguardar o sentido prático da Democracia. Para onde tem ido a riqueza produzida no Amazonas? Nas últimas duas décadas, quando o setor produtivo do Amazonas tinha um crescimento exponencial, o Estado do Amazonas superou, em termos de arrecadação comparada, a geração da riqueza do Ciclo da Borracha, quando contribuíamos com 45% do PIB do Brasil nas folias perdulárias do látex. A Zona Franca de Manaus, neste período, bateu recordes seguidos de arrecadação, abarrotou os cofres públicos, locais e federais, porém não alcançou o cidadão. A gestão caolha da abundância se revelou socialmente perversa, politicamente corrompida, e economicamente desastrosa. Recursos da ordem de R$ 8 bilhões, pagos pela indústria, e destinados à interiorização do desenvolvimento, no período, foram e são aplicados progressivamente no “custeio” da máquina pública e da gastança sem fim. Apesar das promessas, as entidades que representam o setor produtivo não tem assento na gestão desses recursos, incluindo o da UEA - custeada integralmente pela indústria.
Sem conhecimento não há desenvolvimento
A União beliscou 54% da riqueza aqui gerada e 80% das verbas destinadas a pesquisas regionais de fomento econômico. O Estado confiscou mais de R$1 bilhão da UEA. Sem conhecimento não há desenvolvimento, essencial para o combate da pobreza e redução das desigualdades. Os jovens estão perambulando pelas ruas do desemprego e do ilícito, carentes de novos parâmetros da receita pública focada no crescimento socioeconômico. Há um clamor generalizado pela diversificação e interiorização da economia e da prosperidade a partir do aproveitamento sustentável das riquezas naturais. Uma convicção que, à luz da concentração de negócios na capital, se confirma na multiplicidade de iniciativas de atores e setores empenhados em estudar, propor e materializar projetos mais atentos às vocações econômicas dos insumos amazônicos.
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br
Publicada no Jornal do Commercio do dia 04.08.2017