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A construção da fidelidade

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28/05/2014 14:26

Na gestão dos negócios, o termo fidelidade se aplica ao processo de investimento que ultrapassa o nível do produto ou serviço e desembarca na gestação do valor. É um conceito que embute o objetivo maior de um empreendimento: construir a fidelidade no sentido da credibilidade, da consolidação do compromisso, elo vital entre os atores de uma relação. Esse valor se faz acompanhar de sentimentos, que ultrapassam a lógica imediata do lucro e traduz vínculos. Certamente este valor permeava coração e mente do jovem Samuel Benchimol, o grande pensador da Amazônia que, ainda estudante, quando utilizou o termo “querência” para traduzir seu significado pessoal, alcance e interpretação do conceito de fidelidade. “Querência” aparece em Amazônia um pouco-antes e além-depois, a obra referência do pensador, onde ele retoma a própria trajetória para explicar alguns fundamentos de sua visão da Hileia. O termo emerge no verão norte-americano de 1947, quando Samuel concluiu seu mestrado em Economia e Ciências Sociais na Miami University, após o qual recebeu bolsa de dois anos para seguir no doutorado, além de convite para lecionar em diversas universidades americanas. O termo traduziu sua fidelidade em relação às próprias raízes, seu compromisso ético e afetivo de voltar ao Amazonas onde seus familiares – que lhe haviam financiado a qualificação – estavam tocando o projeto Bemol. Era o empreendimento que ele, Samuel, com os irmãos Israel e Saul, iniciaram havia cinco anos sua contribuição para as novas trilhas para a Amazônia. Era preciso continuar a saga de Isaac Benchimol, o patriarca, cujos negócios na Amazônia, dos seringais do Abunã, Alto Rio Madeira, na fronteira com a Bolívia, foram definhando com a queda na economia da borracha. O jeito foi diversificar a pauta de exportação onde figuravam itens da economia extrativa como o óleo essencial de pau rosa, madeira, castanha, fibras vegetais, resinas, para depois incrementar o varejo ao importar medicamentos e instrumentos médicos. Naquele momento, a floresta ainda era a maior referência de negócios para acumular o capital de novos empreendimentos.

Lealdade e confiança

Fidelidade é um termo com origem latina, fidelis, que descreve alguém que é fiel, de quem tem compromisso com aquilo que assume. Na doutrina bíblica, o termo se aplica a Abrahão, e traduz sua lealdade e confiança em relação a seu Deus. Daí se origina também o conceito de fé, que reúne um valor e uma atitude. Acreditar e querer remetem à observância rigorosa da verdade. No limite, fidelidade é um dos atributos da divindade na medida em que as promessas da relação teológica se expressam na confiança de que o Criador não desiste de suas criaturas nem as abandona. Os Salmos de Davi são fartos na ilustração da transcendência desse valor. Um quadro moral que se detecta na visão de mundo grandes pioneiros da Amazônia.

Obstinação construtiva


Nessa terça-feira, com a simplicidade dos que buscam a construção da fidelidade no terreno transcendental do valor, às vésperas de completar 72 anos, a família Bemol inaugurou mais um estabelecimento no bairro Nova Cidade, núcleo de expansão urbana de Manaus. Ali, na periferia que se cosmopolitiza, o espaço arquitetônico transpira o mesmo bom gosto e a sobriedade dos locais frequentados pelas classes mais abastadas, nos centros comerciais elitizados. Construir a fidelidade supõe, neste caso e com essa escolha, partilhar com o tecido social e suas diversas classes, os valores do respeito, da integridade, da economia e da energia proativa, antecedentes dessa obstinação construtiva da saga de Isaac Benchimol. Em sua tese, “Manaos, o crescimento de uma cidade no vale amazônico”, o mestre Samuel, em Ciências Econômicas e Sociais, já profetizara a modernidade, a universalidade e a voluptuosidade urbana da capital baré, sua integração planetária e sua vocação inovadora. Um desafio que é compartilhado com a visível adesão de mais de 2200 colaboradores que não disfarçam orgulho e alegria em fazer parte da empreitada. De quebra, toda essa epopeia, hoje é evocada como vaidade de curumins e cunhatãs que curtem a fidelidade Bemol.

Caminhada de reinvenção


A construção da fidelidade, da fidelização de valores, que a saga dos empreendedores da Amazônia representa, é uma trajetória que resume e simboliza a saga amazônica da superação da adversidade, que faz do tropeço, apogeu e quebra da economia, a teimosia que retoma a caminhada de reinvenção. Por isso acomodar é retroceder. Deitar na rede ganha hoje o sentido da partilha da construção, jamais da omissão. Daí o emblema da resistência e enfrentamento da penúria, focado na semeadura da transformação e na multiplicação dos talentos. Nesse momento de decisão em torno da economia do Estado, dependente dos incentivos da Zona Franca de Manaus, meditar sobre a construção da fidelidade é também um convite, proposto pelo próprio líder da saga Bemol, o economista Jaime Benchimol, para avançar, diversificar e imprimir criatividade na formulação de novos caminhos para a economia regional, onde “...as indústrias aqui instaladas podem - em uma ou duas décadas - diversificar a nossa base econômica e dar novo e sustentável ímpeto ao nosso crescimento, livre das atuais dependências da União e em harmonia com as nossas mais verdadeiras vocações. Temos, ao mesmo tempo, que nos reconciliar com as virtudes do capitalismo, da empresa privada, da livre iniciativa e da liberdade de escolha. Essas instituições formam o dínamo que impulsiona a inovação, a competição e o crescimento econômico. Precisaremos de investidores privados para empreender (...) e aproveitar nossos melhores anos de arrecadação, de entusiasmo empresarial e de interesse mundial para com o Brasil e com a Amazônia para conquistarmos a autonomia sobre o nosso futuro”... na busca da fidelidade!
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Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br

Publicado no Jornal do Commercio do dia 28.05.2014

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