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“A Amazônia é uma obra-de-arte, assim como a vida que nela borbulha”

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23/03/2022 08:55

Decididamente é inquietante entrevistar essa entidade chamada artista, sobretudo com o perfil de Eliane Bertão Mezari, alguém que nos faz sentir como se estivéssemos diante de um caleidoscópio de sentimentos, insights, surpresas e revelações valiosas. Para ela, “…a Amazônia é uma obra-de-arte, assim como a vida que nela borbulha. Por isso, sua preservação é a própria preservação da existência, da nossa existência”. Provavelmente esta é a melhor razão para ficar muito atento todo aquele que se atreve a interpretar os movimentos de quem descreve o Belo por opção profissional, com suas surpreendentes manifestações. O trabalho de Eliane Bertão Mezari sugere uma estética universal, na medida em que nos permite captar miríades de mensagens que ilustram essa esfinge chamada vida, suas dimensões, interrogações e utopias. Suas obras não disfarçam o desejo inconfesso da artista de antecipar suas utopias, trazer para o aqui e agora seus retratos de harmonia poética, na descoberta do outro e na reciprocidade da co-existência, e de buscar responder juntos a que tudo isso se destina. Confessando, sem pudor, minhas limitações e atrevimento de decifrar os códigos inegáveis do Belo, ou seja, as primícias que se refletem em suas obras, compartilho algumas provocações e deixo a você, a oportunidade de contemplar, compartilhar e complementar a beleza das intuições de Eliane Bertão Mezari. Confira.

Por Alfredo Lopes–Coluna Follow up
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Entrevista com Eliane Bertão Mezari

BrasilAmazoniaAgora: Quem acompanha a evolução de seus trabalhos artísticos, percebe presença crescente da mística amazônica em suas criações. O que significa essa metamorfose ? E quais os rumos que ela aponta?

Eliane Bertão Mezari – Eu vivo numa cidade no meio da floresta e a mística amazônica está entre os demais temas que internalizei através das minhas experiências. Entendi a existência como um processo e a arte reflete a continuidade, pluralidade e a metamorfose constante nos meus trabalhos, sempre submetidos ao olhar do espectador que interpreta a obra de acordo com suas idiossincrasias. Certa vez pintei o mar azul e coloquei casinhas coloridas no cenário, um dos visitantes na exposição mencionou: aí esta o Rio Negro da minha infância e tomado de alegria adquiriu a obra para interagir sem pressa com seus significados. Podemos afirmar, então, que “ A arte passa a ser sua, assim que você lança seu olhar sobre ela”.

Antepassados
Núcleos
Amazônidas
Pele de Tucunaré

BAA – Através da obra de arte, a compreensão da Amazônia se radicaliza e se diversifica na dialética do compromisso e da comunhão entre o artista, a obra e sua contemplação. Seria adequado chamar esse movimento de a dinâmica da proteção e da perenidade ?

E.B.M. – Penso que sim. Capturamos a realidade e a transformamos com liberdade artística, criatividade, pesquisa e emoção. Nem sempre a obra será figurativa, mas com elementos que lembrem ou retratem a fauna e a flora, enfim, a vida amazônica. A natureza apreendida numa escultura, desenho ou pintura não pode ser apenas uma lembrança daquilo que já existiu… Quando a obra é eternizada em uma moldura e colocada num conjunto espacial, ela se transforma em “janelas” de contemplação, desejos de preservação da realidade imediata que nos fazer refletir sobre a continuidade da vida.

BAA – Os críticos de arte mais atentos costumam identificar, sobretudo nas artes plásticas, a componente do anúncio quase sempre precedida da denúncia. Sua obra propõe a compreensão/construção da utopia em substituição ao caos?. Quais os recados mais frequentes de sua intuição artística?

E.B.M.- Minha intuição está conectada à consciência coletiva e aponta para reflexões humanas, que levem ao mundo interno, sua interpretação e descobertas. A utopia implícita nas minhas obras fazem parte do Belo que há em cada um de nós e cumpre a função de nos distanciar, mesmo que momentaneamente, da distopia do mundo, nos fazer pensar de outras formas com mais parcimônia e esperança. Até o momento minha poética se diversifica entre temas como urbanidade, o cosmo, o mar e a preservação da água e da flora, inteligência artificial e a figura feminina no contexto social …

Quadrilátero
Póstero
Sinapse

BAA – A verdadeira obra de arte traz um viés pedagógico, um veículo que nos transporta a um lugar preferencialmente melhor do que aquele em que nos encontramos. Que papel cumpriria a obra de arte na antecipação desta utopia que é a preservação da Amazônia?

E.B.M.- Costumo dizer que não há nada mais humano do que arte. A arte une as faculdades do pensamento e da sensibilidade para tocar a alma. Um exemplo de expressão artística que considero tocante são as instalações… como o uso de lixo coletado no leito dos rios e dispostos de forma artística para evidenciar as consequências do nosso consumo exagerado e descarte inadequado… o papel da arte neste contexto é sensibilizar, alertar que o lixo individual se tornará sempre coletivo e pensar o óbvio esquecido no burburinho cotidiano… a Amazônia não é apenas um território. Ela é uma obra-de-arte, assim como a vida que nela borbulha. Por isso, sua preservação é a própria preservação da existência, da nossa existência.

Eliane é artista Visual, Psicóloga Clinica e Performer, nasceu em Apucarana, Paraná e vive na Amazônia desde 1989

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