28/05/2020 09:57
Em sua última viagem ao País das Amazonas, o presidente Jair Bolsonaro disse, em alto e bom som, sua opinião sobre a ZFM: “Para garantia da nossa soberania nacional, a Zona Franca é importantíssima. Com o tempo, a Zona Franca vai se modernizando e ajudando cada vez mais a consolidar essa tão cobiçada região Amazônica.” A rigor, a frase renova as razões do Governo Militar – quando aceitou as pressões dos empresários do Amazonas – de integrar a região ao resto do Brasil para não entregá-la à cobiça internacional. Esta prosa é antiga, complicada, e da hora.
“Eles querem nosso bem ou nossos bens?”
E como faz para integrar nossa região ao resto do país, para que não continue sendo aproveitada apenas pela tal “cobiça estrangeira”? Refiro-me ao acesso indiscriminado e descontrolado de nossas fronteiras às milhares, dezenas de milhares organizações não-governamentais, muitas delas com fachada religiosa, ou infiltradas em nossas instituições de pesquisa. Elas querem nosso bem ou nossos bens? Elas conhecem teses regionais de pesquisa pela web sobre insumos e espécies preciosas e cuidam de levar como “souvenires” disfarçados aquelas mais valiosas para beneficiamento nanotecnológica ou propagação genética em seus países.
Das prateleiras ao mercado e à prosperidade
Isso é inevitável. Mais inteligente seria atrair cientistas destacados que possam retirar as descobertas que habitam as prateleiras de coleções de pesquisas, que se encontram mofadas em nossas instituições, e transformá-las em produtos demandados pelo mercado. Isso já está acontecendo sem o gerenciamento das autoridades do país. Consulte o portal alibaba.com onde desfilam muitos produtos de origem amazônica, cujas operações não passam necessariamente pelos controles da CACEX, a carteira de comércio exterior. Não há registro de copaíba nem nióbio na China muito menos nos países europeus ou norte-americanos. No entanto, esses países produzem medicamentos miraculosos com copaíba, no ramo de produtos vegetais, ou equipamentos de alta tecnologia com nióbio, 97% existente apenas no nosso Estado.
Precisamos de parcerias
O “nossa” da pergunta há muito não faz sentido em termos de brasilidade. Não há como policiar fisicamente nossas fronteiras. Nem faria mais sentido. Não somos contra parcerias com inteligências estrangeiras nem com empreendedores internacionais. Muito pelo contrário. Precisamos deles. Aliás, precisamos nos associar a eles. Temos que atrair tecnologia de beneficiamento de nossas riquezas naturais e exportar produtos acabados ou semimanufaturados. Como manter a vigilância de nossas riquezas se com apenas os 7% do contingente militar que atua na Amazônia, que representa 2/3 do território nacional?
Saída pela tangente tecnológica
E, afinal, como tornar nossa a Amazônia, senão integrando-a com atores de elevada qualificação técnica para atrair empresas com destacados portfólios de inovação tecnológica, tanto para adensar, diversificar e regionalizar nossas expertises, como ampliar o Polo Industrial de Manaus, mapeando, na imensidão da Amazônia, negócios e oportunidades de Bioeconomia, mineração sustentável, serviços ambientais demandados pela Humanidade, entre tantos outros.
Uma região rica e uma população miserável
Foi anunciado pela Suframa a instalação do Polo Industrial de Saúde, a consolidação inteligente daquilo que acabamos de demonstrar tecnicamente, empurrados pela necessidade premente de oferecer equipamentos de combate à pandemia. Em seguida, foi anunciado ainda pela Suframa um conjunto de medidas para consolidar o novo mercado do gás, que deverá beneficiar nossa competitividade. O que não podemos é continuar entregando nossas riquezas naturais e o patrimônio mineral amazônico aos oportunistas de plantão. Se a Amazônia é nossa, por que deixamos sua população exibir constrangedores indicadores de desenvolvimento humano? Está na hora de inverter esta perversa equação e resgatar nossa dignidade, transparência e responsabilidade como Nação.
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Publicado em 28.05.2020 no Jornal do Commercio
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. cieam@cieam.com.br