20/11/2020 13:06
Nelson Azevedo (*)
nelson.azevedo@fieam.org.br
Um destaque da última reunião deste ano de 2020, do Conselho
Superior do CIEAM, Centro da indústria do estado do Amazonas -
marcado por perdas de familiares e amigos e de tantas lições deste
momento de sofrimento universal - foi o Relatório da Ação Social
Integrada do Polo Industrial de Manaus. O relato descreve a
participação de muitas empresas no atendimento das famílias em
situação de risco em Manaus e Região Metropolitana. Elas receberam
doações de alimentos instituições de saúde atendidas com
Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Estão de parabéns,
Federação das Indústrias do Estado do Amazonas-FIEAM, o Centro
das Indústrias, bem como a ELETROS e a ABRACICLO, mais os
Sindicatos Patronais Metalúrgico e Eletrônico, pelo conjunto dos
trabalhos para atender essas demandas e assegurar as condições
econômicas e de funcionamento do Polo Industrial de Manaus. O
último acerto, além da Nova ZFM, um projeto de afirmação do
protagonismo do setor produtivo, foi a criação da Convergência
Empresarial da Amazônia, que deverá ser um instrumento de
aglutinação do setor produtivo e parlamentar de nossa região.
Participação do Amazonas no PIB
A propósito, como estará o Polo Industrial de Manaus em 2021, com
o imbróglio político e incertezas da política econômica e fiscal do
Brasil? Na medida em que chegam as festas, as perspectivas das
empresas do aqui instaladas para o ano novo que se aproxima são
motivo de apreensão e, também, de otimismo. De acordo com os
estudos da Sedecti, órgão de planejamento do Estado, o setor da
Indústria totalizou um montante de R$ 7,939 bilhões com
participação de 29,53% no total do PIB do Estado, e um crescimento
de 5,24% no comparativo entre o quarto trimestre de 2019, e o
quarto trimestre de 2018. Nossa contribuição para a formação do PIB de 2020, proporcionalmente, foi a maior entre os estados, segundo o
IBGE. Nosso propósito maior para 2021 vai além de distribuir
alimentos. Queremos distribuir postos de trabalho. Se nos deixam
trabalhar, esta é uma de nossas mais gratificantes habilidades.
Alinhar o discurso e reforçar o protagonismo
O desempenho da indústria no período esteve ligado à circulação da
moeda promovida pelo governo federal, tanto para as camadas mais
desfavorecidas como para empresas e complementação salarial dos
respectivos colaboradores. Com os indicadores de uma nova onda da
pandemia, já identificados no Brasil, isso determina toda uma revisão
de planos e estratégias. Ou seja, neste momento, o otimismo dá lugar
à apreensão e surgem mais interrogações do que certezas. O que nos
resta fazer senão alinhar o discurso e reforçar o protagonismo na
grita de nossos direitos e da importância de nossa contribuição
social?
Segurança jurídica
Outro fator determinante no planejamento será o formato de reforma
tributária que venha a ser aprovada. Isso remete à mobilização de
nossa bancada, especialmente para as surpresas pós-eleitorais.
Afinal, nossa economia depende, essencialmente, da contrapartida
fiscal e compensatória dos investimentos aqui instalados. É bem
verdade, que o governo reafirmou recentemente os artigos da
legislação original complementar que dão suporte à Zona Franca de
Manaus. Infelizmente, num país em que as leis mudam como as
nuvens, é sempre prudente estar preparado para as surpresas
diárias. Segurança jurídica no Brasil é o desenvolvimento da
capacidade de trocar os pneus com o veículo em movimento.
Revisão da cadeia de suprimentos
Especulações à parte, algumas precauções e bandeiras de luta devem
ser priorizadas. A preocupação com o resguardo dos nossos direitos
constitucionais deve nos motivar a seguir apostando no trabalho
sério que temos realizado, deixando em estado de prontidão nosso
suporte jurídico. Precisamos, como bandeira de luta, apostar na
necessidade de suprir partes e peças de produtos importados a serem
fabricadas no polo industrial de Manaus. O setor de duas rodas,
apesar da verticalização de suas linhas produtivas, por exemplo, ficou
parado em alguns momentos por conta da instabilidade na entrega
dos insumos importados. Já sabemos que não há dificuldades técnicas
e tecnológicas de produzir em casa esses insumos, ou a absoluta
maioria deles, posto que nos causam tanta dor de cabeça.
Liberal ou burocrático?
Nunca é demais, a propósito, insistir que a imposição burocrática
chamada PPB, Processo Produtivo Básico, não tem amparo
constitucional. Se, apenas 5 produtos não podem receber incentivos,
por que penalizar os investidores com essa formalidade infernal
chamada PPB? O engraçado é que o governo federal se orgulha de seu
liberalismo contra as contrapartidas fiscais e fecha os olhos para a
burocracia que embaraça a indústria e o mercado. Uma leitura
incoerente da livre iniciativa.
Gerar emprego e equilíbrio regional
É um absurdo que produtos como as luminárias de Led demorem
mais de uma década para serem licenciadas para a produção. Um
dado alarmante: se por acaso conseguíssemos em dois anos dobrar o
número de estabelecimentos industriais em Manaus, nós teríamos
apenas 1,2% das indústrias existentes no Brasil. Qual é o pecado ou
irregularidade desse percentual tão ínfimo? Precisamos apenas de
uma comunicação competente e uma base parlamentar aguerrida. E
mais: em lugar de acatar pressões e obrigações tão descabidas, é hora
de assumir o protagonismo de quem aqui empreende, tendo por obrigação a redução das desigualdades regionais. Isso nós sabemos
fazer e queremos continuar fazendo. Ou é ilícito gerar emprego, renda
e maior equilíbrio e justiça social entre o Norte e o Sul do Brasil?
(*) Nelson é economista, empresário, Conselheiro do CIEAM e vicepresidente da FIEAM.